segunda-feira, 28 de julho de 2008

se minha bolsa falasse...

Certa vez um rapaz, ao observar o conteúdo de minha bolsa, comentou: "bolsa de mulher é tudo igual, cheia de coisas supérfluas". Ele falou de um jeito que não me deixou irritada, pelo contrário, até achei graça.

Hoje, mexendo em minha bolsa, me lembrei dele e de sua frase. Fiquei pensando quão relativo é o conceito de "coisa supérflua" que varia, não apenas, de pessoa para pessoa como também de acordo com a situação. Por exemplo, para que serve acumular em minha bolsa tantos folhetos que recebo na rua? Aparentemente não serve pra nada. Mas tem momentos que o verso em branco do folheto serve de rascunho, seja para anotar o telefone de alguém, seja para anotar o nome do livro que descobri na livraria e fiquei a fim de comprar, ou simplesmente serve pra escrever um poema. Acredita que eu já fiz um poeminha, em pé, na fila de um banco?

Se minha bolsa falasse, talvez recitasse poesias.

Eu poderia escrever tudo na minha agenda, é verdade, mas como ela é pesada poucas vezes a levo na bolsa, prefiro deixá-la em casa. Mas voltando aos folhetos, nem sempre conservo-os na bolsa pra servir de rascunho. Também guardo porque gostei da arte, da diagramação, principalmente os que anunciam festas - sempre divertidos - e os que divulgam exposições de arte. Muitas vezes não vou às festas, perco a exposição mas guardo o folheto.

Se minha bolsa falasse, seria uma ótima anunciante de eventos festivo-culturais.

Mas minha bolsa também carrega ingressos de cinema usados (super supérfluo), boletos bancários (pagos e não pagos), notas de compra - qualquer nota, seja a do pão da padaria ou da calcinha de algodão que eu comprei numa promoção das Lojas Americanas. A bichinha (ela, minha bolsa) às vezes também serve de guarda-lixo porque eu sou daquelas que, não encontrando uma lixeira na rua, enfia o lixo dentro da bolsa, tadinha... Minha bolsa deve ter horror ao fato de sua dona ser politicamente correta. E por falar em "politicamente...", seja em manifestações de ativismo ou em época de eleições, ela (a bichinha, minha bolsa) se enche de panfletos. Então eu digo a ela: "Vamos lá, companheira, à luta!"

Se minha bolsa falasse, gritaria palavras de ordem - às vezes, desordem.

Mas não só de papelada se enche minha bolsa. Nela também carrego minha carteira vermelha, meu porta-níquel de pelúcia rosa-choque, chave de casa, óculos escuros e outro de grau, celular, caneta, batom, escova de dente, um pente, filtro solar (mas acabou...), porta-absorvente, às vezes camisinha e lubrificante íntimo, muito útil em casos de sodomia.

E aquela frase daquele rapaz - sim, aquela mesma, do início desta crônica - foi proferida justamente enquanto ele procurava em minha bolsa o tal lubrificante. Naquele momento de urgência em saciar o desejo, devo concordar com ele: quase tudo em minha bolsa era supérfluo.

E se minha bolsa já tem uma alma feminina, certamente sentiu prazer ao toque das mãos másculas daquele rapaz que, despudoradamente, explorou-a e vasculhou-a ainda úmida da chuva na qual a fizera mergulhar comigo, a caminho do hotel, numa noite de razão supérflua.

5 comentários:

Moacy Cirne disse...

Pelo visto, minha cara, se a sua bolsa falasse... não sei não, viu? Um beijo, Menina!

Jens disse...

Oi Sandrix:
Só um desejo: QUERO MORAR NA TUA BOLSA!
***
Beijos impudicos.
Te gosto, viu?

Beti Timm disse...

Oi amiga,
eu andava sem te visitar, porque sou novinha, nesses recantos (só aqui, sou novinha)e as vezes me atrapalho! Mas bolsa, menina é algo tão íntimo e pessoal, que deveria tb, ter rg, cpf, comprovante de endereço. E título de eleitor, pq bolsa, deveria votar, para ser parceira mesmo! Beijos...ops, acho que os perdi dentro da minha bolsa, mas um dia eu acho!

Marcelo F. Carvalho disse...

Na bolsa da Sandrinha, tudo-nada cabe!

BAR DO BARDO disse...

Cospe, porra! Brincadeirinha, boa crônica!