quinta-feira, 30 de novembro de 2006

ao léu

Quando me atirei senti os eixos fora de prumo mas ainda assim cotinuei, tonta, sem fôlego, avancei o sinal proibido: vermelho que atrai, alerta que já vai... tarde. Segui em frente sem medo, sem destino, no desatino da loucura da paixão voraz. E tenho fome, tenho sempre muita fome. Vontade de comer, de beber. Sou uma junkie em potencial. Mas sou limpinha nas entranhas, já minhalma é bem safada. Não, não peco, porque não creio no pecado. Pecado só existe na maldade das mentes maliciosas. E me perco, já me perco no texto que preludiei com intenção de ser prólogo de uma história sem pé nem cabeça. Então vai-vai avança o sinal. Se deita na faixa. Adoro ser pedestre pra xingar os maus motoristas. Filadaputa! Olha a faixa, desgraçado! Se eu fosse Chefe de Estado, ditadora, eu aboliria os automóveis. Só existiria transporte público. Filadamãe! Olha a faixa, infeliz! Descarrego o meu desassossego na rua. E jogo panos quentes nas discussões domésticas indiscretas que se fazem ouvir em toda a vizinhança. Acho que tento ser civilizada. Tento, assim, no furacão. E sabe do que mais? Já falei demais. Bye!

Leite Ninho

No burburinho do ninho
amantes dançam
ao sabor de(leite)...
e quando a razão anoitece
o transbordar da emoção
arrepia!

Lia i agia

Nada como um outro atrás do dia.
Gosto de melão e melancia.
A vaca ruminava e tossia.
Tô quase superando a melancolia.
Desaprendendo a fazer poesia.
Então faz favor,
não me venha com elegia.

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Cd do Cadão



Tudo o que eu quero dizer tem que ser no ouvido
Esse é o nome do primeiro disco solo de Cadão Volpato, vocalista da banda paulista Fellini. Ouvi trechos das canções na net e curti um bocado!
Cadão, em seu debut solo, apresenta a mesma poesia surrealista, com fino humor, que se ouvia no Fellini, e as canções são suaves, suaves. Não gosto de me arriscar enquadrando em rótulos músicas de artistas mas eu diria que Cadão faz uma bossa-rocker!
Que ele nunca leia isso...
Ah, a capa do disco foi desenhada por ele. Eu adorei!

terça-feira, 28 de novembro de 2006

domingo, 26 de novembro de 2006

Antecipo-me

Antes de saber o que escrever
eu pego papel e caneta

Antes de decidir onde ir
eu escolho roupa e sapato

Antes de falares o que queres de mim
eu já estou nua...

Fiz-me aquarela




Sem saber o que escrever,
resolvi aparecer.
Foto recentíssima
(de ontem).

sábado, 25 de novembro de 2006

Santinha x Nense

E amanhã tem embate entre tricolores: Santa Cruz (PE) x Fluminense(RJ).
Mas o meu Santinha não tem mais nenhuma chance de escapar do rebaixamento.
Bem, que vença o mais habilidoso.

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Memórias do Ernesto (quem se lembra?)

Para quem não conhece, Ernesto Gamuza é um amigo meu de longas datas e que escreveu algumas historinhas sacanas no meu antigo blog (nganga_____adoro manga), na realidade sua memórias eróticas mais safadas. Ontem à noite ele me enviou por emeio mais uma memória.
Ei-la:

AVISO: proibida a leitura para menores ou maiores puritanos, moralistas, adeptos da Opus Dei etc, etc, etc...
MACACOS ME MORDAM, BATMAN!!!Eu tinha acabado um relacionamento de foder a alma, fiquei arrasada (ops) arrasado. Mas tudo passa e passou...ufa. Entretanto, na época, só pensava em morrer - eu sei, eu sei, sou um tanto exagerado - e num domingo ensolarado resolvi passear no Jardim Zoológico. Melancólico, andei de pedalinho, fotografei pavões, acariciei pássaros, rugi com os leões e, como não podia deixar de fazer, dei pipoca aos macacos.
E macaco, sabe como é, né? É uma graça, parece gente. Sempre me divirto bastante diante de suas gaiolas.

Um dos macacos se chamava Alceu, muito legal, só faltava falar. E o Alceu me lançava cada olhar que, pasmem, fiquei excitado. Do jeito que eu tava carente pra caralho... e que caralho tinha o Alceu, putz! Meio cabelulo, admito, mas um caralhaço! Então assim...é...
discretamente, sabe...na boa...com a melhor das intenções, agarrei o pau do Alceu e ele gostou...HUHUHU HAHAHA HUHUHU HAHAHA: foram suas palavras onomatopéicas de prazer. Mas o sacana do macaco gostou tanto que, inteligente que só ele, abriu a grade da jaula e me chamou pra entrar. O macaco quis trepar comigo. Quem já se viu!?! Mas do jeito que eu tava carente pra caralho...(sei, sei, estou me repetindo) arriei as calças e me fiz comida (AU!!!), foi demais, demais! O Alceu me deixou arrasado, NOSSA! Mas depois de caça virei caçador. I’m The Hunter: fi-lo ficar agachado e enrabei o macaco mas tive um azar danado, fui flagrado. Chamaram a polícia, O IBAMA, me lasquei! Exclamei. C’est la vie... dormi no xilindró, mas como não tinha antecedentes criminais (registrados, obviamente), logo me libertaram.
Nunca mais repeti essa loucura, mas cá entre nós, não me arrependo: QUE FODA DA PORRA, BICHO!!!

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

As pedras também cantam

Sou pedra bruta
que se machuca
nas arrebentações
das líquidas paixões

Sou pedra dura
que perdura,

quebra-mar
que de tanto a(mar)
aprendeu a cantar

terça-feira, 21 de novembro de 2006

verde que te quero vermelho



"Para que os olhos verdes, se posso tê-los vermelhos? E se o vermelho de meus olhos, vem do verde da natureza?"(Bob Marley)

Tá a fim de um baseado? Algumas ervas fazem milagres...
E eu sou
Papoula no Horóscopo das Flores...

Lindo, esse homem, né?! Eu acho!

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

do amor próprio e do amor fraterno

Infelizmente, determinadas relações amorosas só nos oferecem duas escolhas: amar o outro ou amar a si própria. Ou seja, algo impossível - não há amor ao próximo sem amor a si próprio.

Todavia, esse mesmo amor (se ambos desejarem) pode adquirir novos contornos:
a ética/estética do amor fraterno...

"...quem poderá fazer aquele amor morrer se o amor é como grão? Morrenasce trigo, vive, morre pão" (Gilberto Gil, Drão).

Black Power

Hoje é o Dia da Consciência Negra e segundo última pesquisa do IBGE, cresce a participação de negros e negras nas universidades brasileiras: de 18% para 30% (na última década).
Salve Zumbi! Salve Dandara!
E viva as comunidades quilombolas!

domingo, 19 de novembro de 2006

O Baú da Memória

Vinólia não é prima de Magnólia mas tem as suas excentricidades. Ela tem um lindo baú de madeira com detalhes e fechadura em ferro. Roubou, ou melhor, pegou emprestado eternamente de um Convento Franciscano do século XVIII. Vinólia adora tudo o que é antigo, principalmente baús antigos. Porque os baús lembram segredos, tesouros, memórias e aquela história do "Pluft, o Fantasminha" que ela assistia quando criança, divertindo-se pra dedéu!

Vinólia encontrou esse baú vazio cheio de mofo e cupim. Ficou indignada ao vê-lo em péssimo estado de conservação e conversando com o Frei Xaveco, muito bacana por sinal e um tanto quanto romântico, convenceu-o a ajudá-la a levar o baú dali para a sua casa. Em casa, Vinólia restaurou o baú com toda delicadeza e amor e depois da restauração colocou o baú em seu quarto, no sótão, ao lado da sua cama. Aí então reuniu tudo o que lhe era/é precioso: fotos, cartas, poesias, objetos de valor sentimental, memórias que vivenciou e memórias que apenas sonhou (e sonha).

Mas não pensem que o baú é uma espécie de arquivo morto, não. Muito pelo contrário: diariamente Vinólia visita as suas memórias... Seu tempo é sentido, pensado e vivido como descontinuidade. Porque ela não separa passado e presente. Eles são idênticos e se refletem como num jogo de espelhos: um no céu, outro no chão (Isto é a visão de mundo dos Apinayés, índios do Brasil central - ver "O que é etnocentrismo" de Everardo Rocha, Ed. Brasiliense. Ou Roberto Da Matta que conviveu com e estudou os Apinayés)
.

in
nganga_________adoro manga

sábado, 18 de novembro de 2006

Subjetiva

a Roland Barthes

Sou pessoa subjetiva
como câmara clara:
lúcida.
Objetiva só a lente
da minha câmara:
escura.

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Quasar


...quase sempre é assim quase
na base do nunca faço
quase sempre faço tudo
assim quase
e a vida é quase tão
tão perfeitinha mas quase
nunca entro numa
quase fria e acerto o alvo
quase e então quase me faço
entender mas de quase tão

confusa assim quase quase digo
o que sinto e quase sigo
o caminho distante
da galáxia do quase
verbo brilhante
Quasar!

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Que sabor?

Que sabor, que sabor
terá a porra do meu amor?
sabor de leite ou de fel
ou aguardente com mel?

Que sabor, que sabor
terá a porra do meu amor?
sabor de sonho, devaneio
fantasia, eu creio

Que sabor, que sabor
terá a porra do meu amor?
sabor de trio ternura
ou tesão com doçura?

Que sabor, que sabor
terá a porra do meu amor?
sabor de espera, esperança
aceita essa contradança?

Que sabor, que sabor
terá a porra do meu amor?
sabor de entrega e vertigem
espana essa fuligem!

Que sabor, que sabor
terá a porra do meu amor?

sabor de rasgos de ousadia
de correr riscos por um dia?

Que sabor, que sabor?

Paixão afoita, exagerada,
desmedida, desenfreada
Oh, já não se fazem paixões
como antigamente...

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

"A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível"

Miguel Esteves Cardoso, crítico, escritor

e jornalista (enfant terrible) português.

Despecialista

Sou despecialista em quase tudo
mas me especializei em flutuar
na superfície das coisas

Meu vôo é rasteiro
meu mergulho, raso
minhas quedas não me causam danos
não me afogo há anos
arrisco-me em risco calculado
e labuto por um viver sossegado

Gosto de quase tudo
mas separo o joio do trigo,
só não aprendi a me especializar
senão por navegar
nas águas vastas do devaneio

E memórias que não fixei avisto
com os olhos d'alma à margem oposta
do espelho oceânico,
porque o ouro lusobantu em mim
vive
velado no inconsciente
pela nuvem de pó.


in nganga_________adoro manga

Poema de Ana Cristina Cesar

Tenho uma folha branca
e limpa à minha espera:
mudo convite

tenho uma cama branca
e limpa à minha espera:
mudo convite

tenho uma vida branca
e limpa à minha espera:


segunda-feira, 13 de novembro de 2006

felicidade











tua alegria me alcançou em cheio
e eu já nem seio
se me devoto
ou me arreio
toda...

mais uma pintura de Egon Schiele

domingo, 12 de novembro de 2006

mais

Não, não.
Hoje não tem poesia.
hoje não tem alegria,
hoje não tem magia.
Mas tento,
tento escrever para não perder

o hábito de tentar escrever,
de tentar ser poeta
nesse mundo que a cada dia
perde mais
pede mais
pede mais poesia.

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Resposta nonsense a um advogado absurdo

Revelação: encontrada uma foto do elemento Nicomar Lael, vulgarmente chamado de Picuchinha. Eis a foto à esquerda. Como podem ver, caros leitores(as), o sujeito tem uma fimose que parece mais uma peruca loura, o que não o impede obviamente de manter relações sexuais com uma macaca que adotou, chamada Aninha Rosquinha. IBAMA, acuda essa pobre macaca!!!

Caros(as) leitores(as), essa é uma resposta a um advogado que atende pelo nome de Nicomar Lael que me fez sérias ameaças hoje há tarde (quem quiser ler a mensagem basta clicar nos comentários da postagem anterior).

Pintura de Keith Haring

Digo e repito, nem tudo que se cheira é pó.
Na minha idade, Sr. Nicomar, as ervas são mais aromáticas que o frágil pó aguerrido da insatisfação sexual de certos donos da verdade que se irritam na causalidade dos fatos feitos de jeitos dejetos estapafúrdios.
Portanto, Sr. Nicomar, venho por meio desta reafirmar que enquanto a justiça é cega, eu vejo com esse óio que a terra há de comer...
E comendo todos uns aos outros, produziremos uma cadeia alimentar saborosa e amorosa, visto que o amor é flor que se cheira, aqui, ali, acolá, sempre na hora que o mar lamber os arrecifes e deixar sua espuma deliciosamente nas trincheiras do desejo que se quer magia, que se quer fantasia, sonho e alegria. E pirilampo não pira, só vaga-lume. É tudo: para o bom mentecapto meia lucidez basta.

Resposta ao Seu Moço

Seu Moço, Seu Moço, pelo jeitão você tá querendo me cooptar com sua malícia na criação de um factóide para caluniar mais uma vez o companheiro Jens. Nã nã ni nã nã. Não tente obter afirmações falsas de minha pessoa sobre um boato de que o estimável companheiro Jens estaria, como um lobo mau, derrubando barracos na periferia do Grande Recife só para prejudicar a gestão petista. Todos sabemos que o companheiro Jens jamais faria isso, todos sabem que ele fez campanha para Lula, para Olívio e nunca seria capaz de prejudicar uma prefeitura do PT. Por isso não conte com minha ajuda. Sou uma mulher recatada, de comportamento exemplar, boa filha, boa irmã, boa tia, boa ex-esposa, boa amiga, boa moça... Enfim, sou uma mulher boa. Melhor que eu só Madre Tereza de Calcutá ou uma cerveja Antarctica estupidamente gelada, A Boa. E digo mais: a nível de (putz! Essa doeu...) escritor, não tenho nada a dizer de suas crônicas, em compensação a nível de (de novo?!) pessoa, Seu Moço, você tem se revelado um sujeito sórdido, pior que o senador Jorge Bornhausen. És um pernambucano que renegou suas origens valorosas para tornar-se um burguês paulistano, com dinheiro para pagar advogado particular (Sr. Nicomar Lael), enquanto que o nosso querido companheiro Jens só pode contar com a Defensoria Pública de seu Estado. Por isso e muito mais (Ui!) serei solidária (Ui!) com o companheiro gaúcho, de ascendência farroupilha, um verdadeiro revolucionário, incapaz de qualquer atitude que venha prejudicar a gestão de uma prefeitura democrática. E tem mais, parafraseando o companheiro Jens: DEIXA O HOMEM GOZAR. Não, dessa vez não finalizarei meus comentários com beijos.
E tenho dito.

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Viva o Amor Livre!














Clara sabe amar
de todo jeito
Clara é o amor
em todo leito
Clara é amante
de todo homem
que souber amá-la
e fodê-la
com adoração.

pintura de Egon Schiele

SUDOESTE

"tenho por princípios
nunca fechar portas
mas como mantê-las abertas
o tempo todo
se em certos dias o vento
quer derrubar tudo?"



Adriana Calcanhoto/Jorge Salomão
(do disco A Fábrica do Poema-1994)

terça-feira, 7 de novembro de 2006

poemeto duvidoso e poemeto amoroso, não necessariamente nessa ordem

Exalando gemidos cálidos
a indolente macia
se aninha
em lençóis escorregadios.
E afoita se afoga
no leite
espumando bolhas.


Exalando gemidos cálidos
a indolente macia
se aninha
em lençóis escorregadios.
E afoita se afoga
no leite
espumando bolhas.

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Projeto do Senado

Está tramitando no Congresso projeto que controla o acesso à Internet: usuários de emeios, sites, blogs, salas de bate-papo, capturadores de imagens e música, teriam que informar nome, endereço, telefone, identidade e CPF aos provedores de acesso à Internet.

Já existem críticas ao projeto tanto dos provedores, que dizem que a medida vai burocratizar e restringir o acesso à internet e que os cibercrimes já podem ser identificados através do IP (protocolo da Internet), quanto de ONGs, como a Safernet (Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos), que diz que a lei, se aprovada, não surtirá efeito pois o criminoso poderá agir através de provedores do exterior.

"Não se pode acabar com a rede, em nome da segurança, porque ela nasceu com a perspectiva de ser livre e trouxe conquistas muito grandes, como a liberdade de informação e de conexão", diz Thiago Tavares, presidente da Safernet. A entidade é dirigida por professores da Universidade Federal da Bahia e da PUC daquele Estado.

Ah, vale salientar que o autor do projeto é o senador Eduardo Azeredo (PSDB), ex-governador de Minas Gerais. (Informação retirada da Folha on Line).

Já publiquei, recentemente, um artigo sobre a ameaça da neutralidade da rede. Acho que o cerco está se formando...

Blogueiros, UNI-VOS! Resistir, sempre.

domingo, 5 de novembro de 2006

ao arqueólogo do futuro

“Ao Arqueólogo do Futuro” é um especial da Carta Maior, bem bacana, onde várias personalidades entre, filósofos(as), escritore(as), poetas, artistas, etc, escrevem uma carta fictícia a um suposto arqueólogo do futuro, falando sobre o nosso tempo (para o tal arqueólogo, seu passado), ou fazendo indagações ao mesmo. Estão presentes no especial Olgária Matos, Emir Sader, Moacyr Scliar, Ferreira Gullar, Augusto Boal, Frei Betto e outros(as). Quem ainda não leu, vale a pena conferir.

Inspirada nas cartas, resolvi enviar mais uma cartinha para o Arqueólogo do Futuro. Mas ao invés de publicar na Carta Maior (imagina se eu tenho cacife...) estou publicando aqui, no meu refúgio. Ei-la:

Caro(a) Arqueólogo(a) do futuro,

Não sei como é o mundo onde vives (o futuro). Gostaria imensamente que fosse o mundo que eu sonho: tranqüilo, sem violência, trabalho para todos (pouco trabalho, nè? Afinal, nada melhor que ficar deitada na rede, comendo jaca e cuspindo o caroço num balde), natureza preservada, boa qualidade do ar, da água, terra fértil, boa qualidade dos relacionamentos, muita arte, poesia, música, cinema acessível à todo mundo, muita saúde e que ninguém precise de muito dinheiro pra ser feliz. Puxa! Tanta coisa! É, sou ambiciosa. Mas eu tenho uma curiosidade curiosa (aliás, tenho várias): qual foi o destino do Orelhão? Orelhão, cabine telefônica. Tá me entendendo? Ou será que você, caro arqueólgo, não me entende? Então provavelmente o orelhão sumiu, foi abolido, que pena... Adoro Orelhão, apesar de ser o terror dos deficientes visuais. Mas parece que o “bichinho” está em extinção. Espero estar enganada. Será? Tenho o meu celular, apesar de ter resistido bastante a essa tecnologia, mas Orelhão e cabine telefônica pra mim já faz parte da paisagem urbana, é mobiliário urbano. E quem ainda não tem celular, precisa dele.

Certa noite, quando ainda não tinha comprado o meu celular, estava andando em uma rua de Casa Forte (bairro da aristocracia pernambucana) e precisei dar um telefonema. Tive que andar um bocado pra achar um Orelhão. Estava sozinha e fiquei morta de medo de ser assaltada. Quem conhece Casa Forte sabe: à noite as ruas são desertas, os edifícios e casas têm muros altos, o que torna as ruas abandonadas. Fiquei indignada e preocupada pensei:
será que na era do celular o telefone público desaparecerá? Será que seremos todos obrigados a ter um celular por falta de Orelhão?

Sei que não é bem assim que as coisas funcionam. Muita gente pobre hoje tem celular. É status. Mas se você pensar direitinho, meu caro, ele não é tão essencial. Entretanto, nos séculos XX e XXI tornou-se um objeto de desejo, de consumo e até de necessidade, haja visto que os Orelhões estão cada dia mais escassos, aqui, de onde eu lhe escrevo. Tem gente que não tem casa saneada mas tem um celular, às vezes até dois. Acho isso tão absurdo!

Bem, é tudo, apesar de ter outras curiosidades: o sexo virtual será possível? Eu digo pra valer meeesmo, com direito à visão, audição, paladar, olfato, tato, pele, língua, lábios, dente, carne, fluidos, gléa, sêmen, pentelhos...

Atenciosamente (ansiosamente por respostas),
Sandra Camurça.

sábado, 4 de novembro de 2006

Jazz


"jazz é uma palavra crioula que os brancos despejaram na gente" (Miles Davis)



Kind of Blue
Kind of Blue
Trompete de Miles
De Miles, demais!
Elegância silenciosamente contida
E o baixo, baixo
Contra-baixo
Insistente, constante, firme
Bateria zen zen
O jazz improviso tão
Macio tão tão assim
Inexplicavelmente malicioso
Deliciosamente...
Sax Coltrane tenor vem vem,
Complexidade inquieta
E o piano suave entra
Sai entra vai vai
Baixo baixinho tão
Discretamente tão assim
Maliciosamente sensual
E assim luxuriosamente
me rasgo
Nos rasgos das notas
Liberdades
Amorosamente fatais.

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

Rascunho


"A poesia é uma forma de produção. Dificílima, complexíssima, porém produção" (Vladimir Maiakóvski)





...e assim eu começo sem saber exatamente
onde sinto, o que estou
o que estou fazendo, sentindo.
Não sei se devo,
não sei se devo.
Não sei se curvo,
não sei se curvo.
Se perco o juízo, virei improviso.
Sou um ser-improviso,
rascunho de mim mesma.
Sem projeto de futuro,
só presente,
só me faço presente,
o tempo todo presente.
Presente aqui agora.
Seguindo em frente sem esperar nada,
Sem esperar nada
Preguiçosa, mas produzindo produzindo,
produção produção sempre produção.
Escrevo produzindo, rascunhos sim rascunhos
E ruidosa sigo me desnudando em público.
Estou nua, sim estou nua.
Minha alma está...
e nem tudo que se cheira é pó.

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

todo lábios

a Allen Ginsberg e Vladimir Maiakóvski*


Isabel é uma mulher desocupada. Ela não ocupa o seu tempo. Ela perde o seu tempo.
Desde criança Isabel ouvia as pessoas dizerem pra não perder tempo com bobagens: poesia, música, arte... Diziam que artista era sujeito vagabundo, desocupado. Mas Isabel adorava poesia, música e arte. Por isso, quando cresceu, resolveu ser uma desocupada. “Perder tempo é a melhor coisa da vida!”. E Isabel perde tempo com tudo, principalmente escrevendo poesia. Virou uma “perdida”. E quando lhe perguntam o que ela é, Isabel responde com seu humor mordaz: “Soy una perdedora”. E então alguém diz: “não se preocupe, querida, um dia você vai se encontrar e com determinação subirá ao pódio dos vencedores, viu?”. E Isabel revira os olhos, impaciente.

- Será que vocês não entendem que o grande barato da vida não é encontrar-se mas sim, perder-se. O legal é seguir perdendo-se pelo caminho. Achar-se, encontrar-se, é conseqüência. E não me interessa ser uma “vencedora”. Percam tempo! Percam tempo! Experimentem! Dancem! Cantem! Façam das suas vidas poesia! Façam arte! Rasguem as fardas dos tenentes! Cuspam fora o sabor Mac Donalds dos dentes! América, quando você será amorosa?! Quando você merecerá seu milhão de hippies, punks, anarquistas?! Estou prestes a tomar de assalto o amor...
- É isso aí, gata!!! – disse um rapaz, aproximando-se de Isabel e falou aos tolos burgueses –
“vós outros não podeis fazer como eu, virar-vos do avesso e ser todo lábios”*.

Seu nome era João, um vagabundo, um doce e romântico vagabundo. E depois daquelas palavras Isabel caiu de amores pelo poeta. Naquela mesma noite começaram a namorar. E João soube perder muito tempo lambendo Isabel. Lambeu como um gato. Nossa! Fez-se língua, todo lábios, todo amor.

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

O SOL (67/68)



“Eu acho que o que fica dessa experiência é que dá sempre para você fazer e tentar, experimentar os horizontes do possível. Nossa parte, bem ou mal, nós fizemos. Agora tem que fazer. De preferência diferente. De preferência melhor”. Zuenir Ventura falando sobre a geração 67/68 no Documentário O SOL de Tetê Moraes e Martha Alencar.

Assisti ontem esse documentário, muito bacana! O SOL, para quem não sabe, foi um jornal alternativo que só durou seis meses entre os anos de 67/68. Funcionou como um jornal-escola onde muitos jovens exercitaram sua liberdade de expressão. Sabe aquele trecho de Alegria, Alegria do Caetano em que ele diz: “O sol nas bancas de revista, me enche de alegria e preguiça, quem lê tanta notícia...”, pois é, era O SOL – o jornal. Essa geração, que hoje está na faixa dos 60 anos, ousou um bocado, desafiou toda a caretice pequeno-burguesa. Ousaram sonhar e ainda sonham... No documentário estão presentes, além de Zuenir Ventura, Chico Buarque, Caetano, Gil, Carlos Heitor Cony, Vladimir Palmeira, Ruy Castro, Hugo Carvana, Ziraldo e outros(as). Geração arretada! Que muito admiro e me identifico. E pensar que em 67 eu nem sequer tinha nascido...