“Ao Arqueólogo do Futuro” é um especial da Carta Maior, bem bacana, onde várias personalidades entre, filósofos(as), escritore(as), poetas, artistas, etc, escrevem uma carta fictícia a um suposto arqueólogo do futuro, falando sobre o nosso tempo (para o tal arqueólogo, seu passado), ou fazendo indagações ao mesmo. Estão presentes no especial Olgária Matos, Emir Sader, Moacyr Scliar, Ferreira Gullar, Augusto Boal, Frei Betto e outros(as). Quem ainda não leu, vale a pena conferir.
Inspirada nas cartas, resolvi enviar mais uma cartinha para o Arqueólogo do Futuro. Mas ao invés de publicar na Carta Maior (imagina se eu tenho cacife...) estou publicando aqui, no meu refúgio. Ei-la:
Caro(a) Arqueólogo(a) do futuro,
Não sei como é o mundo onde vives (o futuro). Gostaria imensamente que fosse o mundo que eu sonho: tranqüilo, sem violência, trabalho para todos (pouco trabalho, nè? Afinal, nada melhor que ficar deitada na rede, comendo jaca e cuspindo o caroço num balde), natureza preservada, boa qualidade do ar, da água, terra fértil, boa qualidade dos relacionamentos, muita arte, poesia, música, cinema acessível à todo mundo, muita saúde e que ninguém precise de muito dinheiro pra ser feliz. Puxa! Tanta coisa! É, sou ambiciosa. Mas eu tenho uma curiosidade curiosa (aliás, tenho várias): qual foi o destino do Orelhão? Orelhão, cabine telefônica. Tá me entendendo? Ou será que você, caro arqueólgo, não me entende? Então provavelmente o orelhão sumiu, foi abolido, que pena... Adoro Orelhão, apesar de ser o terror dos deficientes visuais. Mas parece que o “bichinho” está em extinção. Espero estar enganada. Será? Tenho o meu celular, apesar de ter resistido bastante a essa tecnologia, mas Orelhão e cabine telefônica pra mim já faz parte da paisagem urbana, é mobiliário urbano. E quem ainda não tem celular, precisa dele.
Certa noite, quando ainda não tinha comprado o meu celular, estava andando em uma rua de Casa Forte (bairro da aristocracia pernambucana) e precisei dar um telefonema. Tive que andar um bocado pra achar um Orelhão. Estava sozinha e fiquei morta de medo de ser assaltada. Quem conhece Casa Forte sabe: à noite as ruas são desertas, os edifícios e casas têm muros altos, o que torna as ruas abandonadas. Fiquei indignada e preocupada pensei: será que na era do celular o telefone público desaparecerá? Será que seremos todos obrigados a ter um celular por falta de Orelhão?
Sei que não é bem assim que as coisas funcionam. Muita gente pobre hoje tem celular. É status. Mas se você pensar direitinho, meu caro, ele não é tão essencial. Entretanto, nos séculos XX e XXI tornou-se um objeto de desejo, de consumo e até de necessidade, haja visto que os Orelhões estão cada dia mais escassos, aqui, de onde eu lhe escrevo. Tem gente que não tem casa saneada mas tem um celular, às vezes até dois. Acho isso tão absurdo!
Bem, é tudo, apesar de ter outras curiosidades: o sexo virtual será possível? Eu digo pra valer meeesmo, com direito à visão, audição, paladar, olfato, tato, pele, língua, lábios, dente, carne, fluidos, gléa, sêmen, pentelhos...
Atenciosamente (ansiosamente por respostas),
Sandra Camurça.
3 comentários:
Diretamente do futuro, escrevo pra vc pra dizer que infelizmente suas previsões se confirmaram em parte, orelhão agora só no interiozão e olhe lá, mto raramente é possível achar um, mesmo assim são peças velhas datadas de 2020, por aí, a novidade agora é teletransporte nuns troços esquisitos, naum sei como explicar direito, ms duas pessoas quando se gostam, mesmo morando em cidades diferentes, desde q estejam conectadas num tal de raio-betômega, podem se encontrar em poucos instantes, bacana né? Bjs do futuro.
Oi Sandrinha: tudo aqui está muito lindo, muito poético. Sempre que passo por aqui, levanto meu astral. Um beijo e uma boa semana.
Nooooossa! Teletransporte, raio-betômega! Que fantástico! Tô morrendo de saudade do futuro. Vou procurar um "buraco de minhoca" - tubo fino de espaço-tempo que liga regiões distantes do universo* - e dar um pulinho no futuro agora mesmo. Beijos.
*Hawking, Stephen. O Universo numa Casca de Noz.
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