quarta-feira, 29 de abril de 2009

Inocência

Quando alguém dizia a Severina que ela era uma menina muito mentirosa, ela logo se defendia dizendo:
- Eu não minto, eu invento.
E Severina realmente inventava histórias fantásticas! Dizia que queria ser escritora, cientista, poeta, artista... Aos oito anos de idade Severina queria ser tudo e mais alguma coisa, enquanto Chiquinho, seu irmãozinho mais novo, ouvia suas histórias com admiração e depois dizia:
- Severina, me ensina a inventar.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

"un abrazo, amigo"

O desenho acima (lindo, não?) é de um cartão que Seu Maurício, meu pai, recebeu de cinco amigos lá pelo idos do século XX. Encontramos (eu e Sílvia, minha irmã) enquanto remexíamos nos papéis e fotos que ele guardava. Fizemos isso sábado passado na intenção de procurar material, principalmente fotos, para um grupo de amigos de trabalho de meu pai que estão pretendendo homenageá-lo. E olha só a coincidência: neste último sábado, 18, fez exatamente um ano que meu pai foi sepultado. Mas não há melancolia nisso, saudade sim mas sem tristeza. Na verdade até nos divertimos e descobrimos mais sobre Seu Maurício, como: cartinhas e cartões de aniversário e dos dias dos pais que a gente deu pra ele quando criança e que ele guardou com carinho; uma tira do Angeli com o personagem "O Velho Cartunista" que xinga e cospe nas pessoas da janela de seu apartamento (Seu Maurício tinha humor, um tanto sarcástico, bem verdade); descobrimos ainda que na década de 60 meu pai realizou trabalho de extensão com praieiros da Praia do Poço, na Paraíba; e encontramos um cordel contando a história da extensão rural na Paraíba (pra quem não sabe, meu pai foi engenheiro agrônomo) onde aparece o nome dele em um dos versos. Pois é, há um ano meu velho partiu e a gente ainda está descobrindo ele...

Mas voltando ao início, desconheço os cinco amigos que lhe ofereceram aquele cartão. Decerto devem ser pessoas sensíveis e creio que não são brasileiros, digo isso por causa da dedicatória: "Con cariño al amigo BRASILEIRO". Ainda no cartão tem impressa uma mensagem em espanhol falando sobre justiça, solidariedade, liberdade e dignidade. E o cartão é de Navidad, talvez uma comuna chilena (pesquisei na internet).

Sei que não devo tirar conclusões apressadas mas tudo leva a crer que devem ser amigos de algum outro país da América Latina. Chilenos? Meu pai viajou um bocado, a trabalho, por vários países latino-americanos. Certa vez até trouxe pra mim uma boneca de tricô, na verdade uma indiazinha peruana ou boliviana ou colombiana, não sei ao certo. É a única boneca da qual não me desfiz... Às vezes tenho a impressão - quase certeza - que vem daí meu carinho e empatia pelos povos andinos, carinho que se estende aos demais povos da América Latina, oprimidos pelo "mundo livre".

Dedico, pois, esta postagem, com um grande abraço a nuestros hermanos y hermanas, e a Seu Maurício, meu pai que, sem perceber, despertou em mim essa sensibilidade quando eu era apenas una niña.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

quarta-feira, 15 de abril de 2009


tem vezes
que começo um poema pelo final
e de olhos bem fechados
nem ligo se esse poema
pode acabar se dando mal

é que, às vezes
começar pelo início
dá um certo medo
como quando o olhar
vem antes do tato

tem vezes
que só nos dedos

segunda-feira, 13 de abril de 2009

um verso

quero um verso de fogo
correndo em minhas veias
um verso que não seja brisa
tampouco o sorriso da Monalisa
o
que esse verso tenha o Inferno de Dante!
o
mas por favor, meu caro
não seja tão pedante

sexta-feira, 3 de abril de 2009

de gozo


quando cai a noite

um fogo cresce em mim
ardendo em desejo e mel
bem no fundo da rosa carmim

flama cortante, delirante
rasgando comendo meu céu
de gozo em gozo, até o fim