terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

A Cela

Pisquei os olhos e estava numa cela de doido. Não sabia se descia, se subia. Se parava, se corria. Fiquei zonza. Todos os caminhos eram viáveis inviáveis. E o fim?Ninguém sabia. Aquela cela era um microcosmo regido pelo caos. O infinito num cubo. A borboleta bate asas e eu me agito. Personagens bizarros ao alvorecer ao anoitecer. Não se sabe bem o quê. E segui meio que girando meio que atolando na lama do mangue até alcançar a nave supersonicamente planejada para tais e quais efeitos especiais. Embarquei e subi. Ou desci? Em direção a uma galáxia não muito distante e aterrissei em Fúria com dois piscares de olhos, onde completei minha jornada e fiz da vida rosas em campos silvestres com três piscares de olhos embaçados pela fumaça que nevoava o céu escarlate do planeta Marte. Mas Vênus seria mais indicado naqueles causos. E assim foi esse rebuliço todo. Já passava de cinco olhos piscados, não mais, não mais. Quando me dei conta que não saíra daquela cela maluca.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Rasgada no Capibaribe

O rio freveu a noiteira e vi ouvi borbulhas doiradas dos metais sonoros - timbres frevendo em jazzeanas canções. Da ponte saltei e mergulhei fundo no fundo das águas do rio que corre na cidade estuário onde deságua nobreza de ritmos, tons, batuques e metais penetrando meus orifícios possíveis impossíveis...Voltei à tona feliz e desnuda de preconceitos: rasgaram-me as vestes de pudores musicais.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

O Repouso da Foliona ou A Hedonista Indolente

Eita preguiça danada de escrever e trabalhar! Tem certeza que ainda não é quarta-feira de cinzas? E que chuva tá caindo aqui em Recife! Com trovão e tudo. Tem gente no céu indignada com o fim do carnaval... Baco e suas bacanas* devem estar P*** da vida.
*Eu disse "bacanas" por causa de uma amiga minha, atriz de teatro, que quando interpretou As Bacantes chamava de As Bacanas. Tudo a ver. Afinal, o bacanal é bacana, né não? E o carnaval também.
Um beijo bacana (não confundir com "sacana", por favor, olhem o respeito!).
Ah, quem ainda quiser ouvir um frevo jazzeado, eis a Spok Frevo Orquestra. E Olha que frase eu vi lá no site:
"O Frevo está para o Capibaribe assim como o Jazz está para o Mississipe" (Zé da Flauta).
Bacana, não?


Desenho de Egon Schiele (outro hedonista) só pra variar...

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Apoteose do Frevo




Grande Orquestra do Recife sob a regência do maestro Spok.

Que saudade... Té ano que vem...

Fotos: Imago


terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

...enquanto isso no interior de Pernambuco...

Caboclo de lança do Maracatu Rural (ou de baque solto), em Nazaré da Mata.

Os maracatus rurais também se apresentam em Recife e Olinda. É um dos espetáculos mais belos de se ver no Carnaval. O colorido é exuberante. As evoluções, com saltos e malabarismos. As toadas (ou loas), emocionantes. E são os próprios caboclos que bordam as golas que vestem, com vidrilhos e lantejoulas (passam aproximadamente seis meses bordando). A orquestra que acompanha é formada por instrumentos de percussão e sopro, incluindo o trombone. A música é a marcha. E quando o Mestre "puxa" a loa, a orquestra silencia. Lindo lindo lindo!

Sobrevivendo do corte de cana e subempregos, os brincantes desse folguedo dão uma lição de resistência ao manter viva a tradição de sua arte.



Foto: Fred Jordão/ Imago

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Nada a ver com o carnaval. Retificando: Tudo a ver com o carnaval

Ai ai ai,

Só dormi 5 horas de ontem pra hoje. Precisava dormir mais mas não consigo. Quando bate a claridade no quarto eu me acordo. Então pulei cedo da rede (tenho dormido de rede) e pra variar fui navegar na outra rede, a net, hehehe (eita mulé besta). Fui no
Reação Cultural, dica do meu amigo Jens, e descobri um negócio arretado:

SIVUCA: Sistema de Muvuca na Internet. Trata-se de um movimento que quer garantir a liberdade de expressão e pluralidade na internet, e também combater o PUM (pensamento único na mídia). Pois é, como já dizia Cazuza: A burguesia fede...

Vale a pena participar, vão lá!

Ah, já ia me esquecendo. O lema do movimento:
O SIVUCA É MEU AMIGO, MEXEU COM ELE, MEXEU COMIGO.

Adorei! Rarararará...

Beijos Carnavalescos!!!

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Um Samba-Canção & Dois Frevos-de-Bloco

A Mesma Rosa Amarela
(Capiba & Carlos Pena Filho)

Você tem quase tudo dela
O mesmo perfume
A mesma cor, a mesma rosa amarela

Só não tem o meu amor
Mas nestes dias de carnaval
Para mim você vai ser ela
O mesmo perfume, a mesma cor
A mesma rosa amarela
Mas não sei o que será
Quando chegar a lembrança dela
E de você apenas restar
A mesma rosa amarela
A mesma rosa amarela.

Madeira que Cupim não Rói
(Capiba)

Madeira do Rosarinho
Vem à cidade sua fama mostrar
E traz com seu pessoal
Seu estandarte tão original
Não vem pra fazer barulho
Vem só dizer e com satisfação
Queiram ou não queiram os juízes
O nosso bloco é de fato campeão
E se aqui estamos, cantando esta canção
Viemos defender a nossa tradição
E dizer bem alto que a injustiça dói
Nós somos madeira de lei
Que cupim não rói.

Madeira do Rosarinho - bloco carnavalesco de Recife fundado em 1926. Foi várias vezes campeão dos concursos de agremiações. Diz a história que em um desses concursos o Bloco Batutas de São José (que não estava na sua melhor fase) foi campeão. O Madeira do Rosarinho não se conformou com o resultado e seus dirigentes, sentindo-se injustiçados, encomendaram a Capiba um frevo (este) como desagravo.



Hino dos Batutas de São José
(João Santiago)

Eu quero entrar na folia, meu bem
Você sabe lá o que é isso
Batutas de São José, isso é
Parece que tem feitiço
Batutas tem atrações que,
Ninguém pode resistir

O frevo desses que faz,
Demais a gente se distinguir
Deixe o frevo rolar
Eu só quero saber
Se você vai brincar
Ah! meu bem sem você
Não há carnaval
Vamos cair no passo e a vida gozar.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

A Sombra (Parte 5 - Final)

Euclides era do interior, morou em Catende e lá iniciou sua vida artística pintando cartazes que anunciavam os filmes que passavam na cidade. Adorava cinema desde criança. Cresceu, virou artista e quando foi morar em Olinda começou a pintar cenas de festas populares e do Carnaval, que tanto amava. Euclides, como era de se esperar, também não suportava mais aquela sombra. E o prazer que desfrutava ao ficar na janela olhando as pessoas nas ruas, desaparecera mas ele pelejava e pintava e brincava e depois fazia uma fezinha no jogo e dizia: Coloco 10 mirréis bajado no bicho! Ninguém entendia nada...

Esses foram apenas alguns causos, frutos do grande mal estar causado pela grande sombra. Teve mais, é claro, como o caso da moça que só sentia tesão nas auroras orvalhadas mas que na falta do raiar do dia esquecera o sabor da gala do seu amor. Ou ainda da coruja que virou zumbi porque não tinha a luz do sol para dormir. E todos doíam de angústia e melancolia. As margaridas começavam a murchar. O grande baobá perdia sua robustez e exuberância. E o rio caudaloso parecia cada dia mais nervoso, correndo veloz como se quisesse fugir àquela tenebrosa sombra. Mas a sombra, por obra e graça de não sei o quê ou quem, desapareceu num dia atípico de Zé Pereira. Difícil de explicar como isso aconteceu. Seu Euclides “Bajado” ficou rindo à toa. Mas quando os clarins momescos ressoaram, um raio de sol rasgou a espessa camada de chumbo da medonha sombra e um gigantesco Galo cocoricou tão alto mas tão alto que as Vassourinhas enfeitiçadas agitaram-se e varreram a nuvem ameaçadora nuvem do céu azul celestial. E uma alegria escandalosa tomou de assalto a multidão. E a felicidade reinou para sempre até a quarta-feira de cinzas.
Foi de fazer chorar...



Feliz Carnaval!

Mas olha, eu não encaro o Galo não. É gente demais. Gosto de brincar onde possa circular e dançar com mais facilidade: Sou espaçosa...
Beijão!

A Sombra (Parte 4)

Arthur já era bem maluquinho quando a nefasta sombra surgira. Ele bordava desenhos e pensamentos com fios de tecidos em mantos. Bordava sempre à luz do sol mas ultimamente sua atividade artística tornara-se impraticável. Arthur vivia no breu e questionava tudo e todos sobre aquela sombra negra que tomava os céus. Até que certo dia viu um cortejo de anjos e soldados celestes e disse que rezaria mil rosários e se apresentaria diante de Deus com seu manto bordado. Quem não gostou nada dessa história foi um certo bispo que morava no cafundódojudas. Mas isso não vem ao caso. Arthur sabia muito bem o que estava dizendo e ele era um homem de fé, muita fé...

(termina mais tarde)

A Sombra (Parte 3)

Camille precisava de luz, seu trabalho, sua vida, dependia essencialmente de luz, luz e sombra. Camille era escultora e gritava: preciso de luz luz luz!. A terrível sombra estava enlouquecendo aquela mulher sensível e talentosa que encantou seu mestre e amante, Auguste, que lhe dizia ser possível trabalhar com luz artificial. Mas Camille era firme, era profunda, era verdadeira, queria luz, luz natural seja solar seja lunar, luz sempre luz. Algo impossível naqueles tempos sombrios ausentes de luz. E sem luz correspondida Camille enlouqueceu. Ou a enlouqueceram?

(continua...)

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

A Sombra (Parte 2)

Theo era um rapaz tranqüilo mas nos últimos tempos sentia-se angustiado não sabia se estava crescendo ou enlouquecendo à sombra da densa nuvem. Recebia muitas cartas do seu irmão artista e lhe falava daquela sombra e redemoinhos moinhos e da falta de sol que sentia doer tudo a sua volta: doía a companheira doía a vizinha doía a mãe doía o pai o filho seu espírito quase santo doía o dente a unha encravada doía até sua alma doía e Theo desabafava em cartas a seu irmão famoso que também doía e saía em busca de luz e cores... Vincent grande Vincent!

(continua...)

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

A Sombra (Parte 1)

Era uma sombra uma sombra imensa uma sombra cheia de assombros assombrosamente assombrosa não dizia coisa com coisa não urrava não berrava não murmurava não sussurrava mas pairava sobre a cidade a sombra como uma nuvem carregada de chuva nuvem escura nuvem cinza-chumbo nuvem densa a sombra que faz todo mundo correr para dentro de casa escritórios salões de beleza hospitais abrigos e não se via uma réstia sequer da luz do sol assombro noite se fez permanentemente sem um luar sequer para acalentar os corações apaixonados assombro essa nuvem foi uma peste que ameaçou de morte aquela cidade festiva e durante meses povoou ruas e praças de silêncio e solidão assombração.

(continua...)

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Da Liberdade


Um possível diálogo entre um monge zen e seu discípulo:
- Mestre, qual o caminho para alcançar a liberdade?
- Já te alimentaste hoje?
- Sim, Mestre.
- Então, lave a louça...

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Tempo Duvidoso

Quantas horas precisam de um segundo? Quais segundos se fazem líquidos? E se cada segundo se faz líquido, por que o minuto discorre tão duro? E discorrendo todos - horas, minutos e segundos - sobre o mesmo tema, por que o tempo é tão indolente quando procuramos os ponteiros do relógio? E por que nem todos os relógios fazem "cuco"? O "oito" da casa do meu avô afoito badalava baladas assustadoras. Cada segundo, minuto e hora tem seu tempo na atemporal disritmia dos corações das gentes. Quanto som habita o silêncio! Quanto silêncio habita o tempo! Conclusão: O tempo é jazz pra toda hora enquanto o som do silêncio sibila lá fora.

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Dúvidas

Alice tinha sérias suspeitas quanto ao futuro da foz e da nascente do rio que tangenciava por dentro a Vila onde bordava sua vida repleta de alegria e melancolia. Sempre que suas suspeitas aumentavam de tamanho ela se sentia pequenininha, pequenininha, e sentindo-se ameaçada procurava o Tio João que afetuosamente lhe acalmava dizendo: As borboletas nunca deixarão de voar, menina, pois se assim não fosse o rio abandonaria seu curso natural do sul. Essas palavras tinham realmente o poder de tranqüilizar Alice porque o vento estava sempre a seu favor e a cabine telefônica, apesar de deteriorada, ao menos servia de abrigo aos locutores de sons da floresta mágica da mata atlântica que sobrevive viçosa na Serra da Borborema doce feito manga rosa. Entretanto, entre tantos ais e uis, Alice, sempre descrente, não entendia a origem da foz e o fim da nascente.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Gizzzzzen

----------------------arrisco-me na risca de gizzzzzzz
---------------e o sono chega-------------------
Precário estado alerta de vida vazia de sentido
munido de argúcia astúcia.
Esperta desperta do sonho-realidade à
realidade-sonho e já não sei se o que vejo
é sonho e se o que sonho é realidade.
Só sei que sonho e realidade,
independente de serem a mesma coisa,
é tudo, é vida e é nada.
E encontro pazzzz naquele estado espacial
entre a vigília e o sono.
É assim que me acho e me perco
quando zero e infinito-me.
E isto talvezzz seja o que chamam
zzzzzzzzzzzzzen-------------------------


in nganga_________adoro manga (meu antigo blog)

Centenário do Frevo


Hoje o frevo está comemorando 100 anos de vida e é tombado pelo IPHAN como patrimônio imaterial da cultura brasileira.


Recife e Olinda já estão frevendo!


Ilustração: PASSISTAS da artista plástica pernambucana, já falecida,

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

tô tentando ficar zen, meu bem (2)

Perguntei a um monge budista:
O que se faz quando termina um grande amor?  
E ele me respondeu:
Não se faz nada, o amor renasce na flor...

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

tô tentando ficar zen, meu bem (1)

Perguntei a um monge budista:
O que se faz quando não se sabe o que fazer?
E ele me respondeu:
Não se faz nada, deixa-se o tempo correr...

sábado, 3 de fevereiro de 2007

Salve O Mais Querido!

Parabéns ao Tricolor pernambucano e à torcida Coral! Hoje o Santa Cruz Futebol Clube está comemorando 93 anos de vida! A Cobrinha tá rindo à toa, ou melhor, silvando à toa! ;)

Imagem do Blog do Santinha

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Pensando a Cidade - 1

(...) a construção urbana não deveria ser apenas uma questão técnica, mas também artística, em seu sentido mais próprio e elevado. De fato, assim foi na Antigüidade, na Idade Média, na Renascença, enfim, em toda parte onde as artes receberam a atenção merecida. Apenas em nosso século matemático é que os conjuntos urbanos e a expansão das cidades se tornaram uma questão quase puramente técnica, e assim parece importante lembrar que, com isso, apenas um aspecto do problema é solucionado, enquanto o outro, o artístico, deveria ter, no mínimo, a mesma importância. (Camillo Sitte. A Construção das Cidades Segundo seus Princípios Artísticos. 1889).

cartilha da cura

As mulheres e as crianças são as primeiras que desistem de afundar navios.

Poesia de Ana Cristina Cesar

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

superação

"Sabemos muito bem pingar doçuras em nossas amarguras, em especial nas amarguras da alma; temos recursos em nossa bravura e sublimidade assim como nos mais nobres delírios da submissão e resignação."(Nietzsche. A Gaia Ciência).