quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Feliz Ano Novo com Mafalda

Descobri esta pérola da Mafalda, uma mensagem de
 Feliz Ano Novo ao estilo desta miúda genial!
Ah, no último slide tem que dar um pause
pra conseguir ler a mensagem final.
Besos!





quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

um certo jeito de ouvir música


Sei que o ser humano é dotado da capacidade de realizar várias atividades ao mesmo tempo. Quanto a mim, devo ter nascido com algum defeito de fabricação. Só faço uma coisa de cada vez. O "tudo ao mesmo tempo agora" não funciona comigo. Foi pensando nesta minha, digamos, limitação que resolvi falar sobre minha dificuldade em escutar música realizando outras tarefas, e o meu modo, o jeito que eu mais gosto, de fazê-lo que é sacrificado pela falta de tempo do dia-a-dia.

Não consigo, por exemplo, como fazem algumas (ou muitas) pessoas, ler, estudar e trabalhar ouvindo música. Preciso de silêncio para realizar essas tarefas. Por isso costumo dizer que não gosto de ouvir música como fundo musical para outras atividades. Fundo musical só no cinema, teatro, etc. Mas gosto de realizar trabalhos manuais e domésticos, como desenhar, cozinhar e lavar louça, ouvindo música. Mas em trabalho intelectual, jamais.

Já visitei alguns blogues que começam a tocar música assim que a gente entra neles. Acho esses blogues complicados (nada contra, a dificuldade é minha) porque como a música exerce sobre mim um poder de atração maior que a leitura, naturalmente vou prestar mais atenção a ela, se for de qualidade, claro, caso contrário nem valerá tentar ler a postagem...

Outra modernidade a qual não me adequo é o tal aparelhinho de mp3. Pra quem, na década de 80, já não se adaptava ao walkman, isso era mais do que previsível... Não gosto de andar na rua com fone de ouvido, me sinto alienada da cidade e seus sons. Alguns, de fato, são desagradáveis mas com o fone de ouvido desvio facilmente a atenção das coisas que acontecem ao meu redor, ou seja, é a mesma velha história: nem leio a cidade direito, nem ouço a música do meu jeito.

Enfim, gosto mesmo é de parar tudo para escutar música, dar atenção exclusiva a ela, escutá-la com calma, com tempo. Gosto de prestar atenção aos sons de cada instrumento, identificar o som do baixo, lá no fundo, e descobrir sonoridades mais sutis. Gosto de escutar música de preferência em casa, deitada na cama, vagarosamente, até perder a noção das horas, feito quando a gente namora.


Imagem: Openphoto


domingo, 12 de dezembro de 2010

um francês com alma latinamericana


Sábado passado comprei o mais recente disco de estúdio de Manu Chao, La Radiolina (radinho em italiano ou rádio de bolso) de 2007. Amei logo na primeira audição. Gosto demais da música desse francês, filho de pais espanhóis, que mistura punk com ritmos latinos, rap, reggae, flamenco e o que vir/ouvir pela frente, sem preconceito. Antes de seguir carreira solo Manu Chao teve várias bandas, a mais famosa foi a Mano Negra (uma homenagem a La Mano Negra, uma suposta organização anarquista espanhola do séc. XIX) formada por integrantes de várias nacionalidades. Em 1992, com a Mano Negra, Manu Chao fez uma turnê nada convencional pela América Latina: viajaram de barco ao lado de atores circenses, apresentando-se em várias cidades portuárias. Em 1995 a Mano Negra acabou e Manu Chao voltou a viajar pela América Latina com seu violão. Clandestino, seu primeiro disco solo, foi resultado dessas viagens.

Ahora ya basta de dados biográficos, não quero me alongar. Mas achei pertinente falar um pouco da origem e da vida de andarilho de Manu Chao porque explica como esse europeu, esse francês, se tornou tão latinamericano.

Manu Chao viajou pela América Latina não como aquele jovem médico argentino que um dia saiu de casa com um amigo e uma motocicleta chamada La Poderosa, e que mais tarde se tornou um revolucionário. No entanto a intenção da viagem não diferia muito daquele: assim como Che, Manu Chao queria conhecer a América Latina, sua pobreza, suas mazelas, mas também sua riqueza cultural e sua alegria! E a música de Manu Chao é uma festa! ainda que permeada de melancolia, nada mais natural, na vida como na arte... Mas Manu Chao também é indignado, punk mesmo, no melhor estilo The Clash, assim como Fred 04 e sua mundo livre s/a. Por sinal existe muita semelhança entre os dois, nem tanto musical mas na postura punk, insurgente. O bacana é que ambos são punks com suingue, groove, punks calientes e emotivos, graças a essa mistura que é a América Latina - América indígena, negra, moura e européia, tudo junto misturado.

Parafraseando o mais doce revolucionário das Américas, acho que posso afirmar que Manu Chao segue o lema:

Hay que ser punk pero sin perder la latinidad, jamás!

Ah, bom lembrar que a banda de apoio de Manu Chao chama-se Radio Bemba Sound System,  uma alusão à Rádio Bemba (sistema de rádio rural) utilizada por Che e Castro em Sierra Maestra durante a Revolução Cubana.

Seguem o vídeo e a letra da segunda faixa de La Radiolina: Tristeza Maleza. Não se acanhe se der vontade de chorar...



Tristeza Maleza 
(Manu Chao)

El nada en el mar
Ella nada en el mar
Todo nada en el mar
Como una raya(x2)
Infinita tristeza
Late en mi corazon
Infinita tristeza
Escaldada passion
Infinita pobreza
Tu sombra en la pared
Infinita tristeza
Viento de Washington
Y Choré
Infinita tristeza...
Infinita tristeza
Viento de washington
Infinita pobreza
Tu sangre en la pared
infinita maleza
escaldada passion
Y choré...
Infinita tristeza...

Infinita tristeza
Late en mi corazon
Infinita pobreza
Tu sangre en la pared
Infinita tristeza
Infinita tristeza
El nada en el mar
Ella nada en el mar
Todo nada en el mar
Como una raya

Fonte dos dados biográficos: Wikipedia

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A intimidação contra o WikiLeaks e a falta de respeito aos direitos das mulheres

Carta de Katrin Axelsson, da Women Against Rape (Mulheres Contra o Estupro):

Muitas mulheres na Suécia e na Inglaterra se surpreenderão com o zelo pouco usual com o qual Julian Assange está sendo perseguido por alegações de estupro [...]. 
A Assange, que parece não ter condenações criminais, se rejeitou o direito à fiança [...]. Mas fiança após alegações de estupro é rotina. Por dois anos demos apoio a uma mulher que sofreu estupro e violência doméstica de um homem previamente condenado após ter tentado matar uma ex-parceira e seu filho -- foi garantido a ele o direito à fiança enquanto a polícia investigava. 
Há uma longa tradição de usar o estupro e a agressão sexual para agendas políticas que não têm nada a ver com a segurança das mulheres. No sul dos EUA, frequentemente o linchamento de negros era justificado baseado em que eles tinham estuprado ou mesmo olhado para uma mulher branca. Nós mulheres não aceitamos que nossa exigência de segurança seja mal-utilizada, enquanto os casos de estupro no melhor dos casos continuam sendo negligenciados, no pior dos casos são blindados. 

achei essa carta no aNImOt

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

domingo, 28 de novembro de 2010

de poesia, de cor e de som

poesia se faz
em estado de inútil
ao deixar o dia recostado à janela
em silêncio azul espichado no tempo
tal como gato caminhando 
na mansidão das horas
etéreo e lento

*****

Seu João toca instrumentos de sopro
ele faz música de sopro e cor
mas ninguém ouve nem
o sopro nem
a cor
Gosto muito de ver Seu João tocar 
e ouvir a cor de cada sopro
Acho que Seu João bebe
todo dia 
uma taça de arco-íris

*****

Ana costumava abandonar o amarelo na parede do quarto
não dava o menor sentimento
Certo dia pegou um punhado e engoliu inteiro
só então ouviu a cor
de dentro
Agora Ana pensa que tem harpa na barriga

tempo


estêncil e tinta spray sobre cartão
de Celso Gitahy em Stencil Brasil

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

domingo, 21 de novembro de 2010

sábado, 13 de novembro de 2010

one nation under a groove!



Bem, companheir@s, acho que a Nação Zumbi dispensa apresentações, afinal, creio eu que vocês já ouviram falar em Chico Science & Nação Zumbi, não?
A música da animação acima é Bossa Nostra do disco Fome de tudo, o oitavo da carreira da banda.
Quem quiser saber mais é só acessar o site oficial da Nação Zumbi.
Lá, no item "Discografia", vocês irão encontrar a crítica sobre esse discaço por Fred Zeroquatro. Depois de lê-la não tive imaginação para escrever mais nada, está tudo lá, tudo o que eu penso sobre o trabalho da Nação Zumbi.
Agora, como diz meu querido Marcelo Carota, permita-se. Ouça no volume máximo!!! esse som é demais! e o vídeo maravilhoso!
Ah só mais una cosita, pra ver o vídeo na tela inteira do seu computador basta clicar no quadradinho à direita abaixo do vídeo. Descobri isso agora (risos). E olha aí "os caras":

Nação Zumbi

sábado, 6 de novembro de 2010

avulsos 2

azul que engole sol
vira rebento de aurora
**
saudade cabe apertada
dentro do silêncio
**
poesia é botar a alma de nuvem
**
ante meus olhos
o céu desfalece lilás -
me compadeço de azuis
**
esperma e cerveja têm sabor parecido...
ou será que num momento de embriaguez
confundi os gargalos?

terça-feira, 2 de novembro de 2010

avulsos 1

se trago o sol pra dentro de casa
amanheço a todo instante
**
ouve melhor quem aprende a apalpar os sons
**
o vento anima as folhas
e folha quando se anima pensa que é passarinho
**
quem se lambuza quando come
obra mais contente
**
meu acanhamento é mais de olhos do que de dedos
**
poema gozoso quase sempre tem frêmito de foda
**
o desejo me derrama lábios até penetrar de ladinho

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Agora é com ela: a amiga d'O Cara!












Dilma venceu em todos os estados do nordeste. E em Pernambuco (terra natal de Lula) com 75,65% de votos. Não é pra menos, né não? Afinal em toda a história da república brasileira, o nordeste nunca fora tão olhado, cuidado e beneficiado pelo governo federal.

sábado, 30 de outubro de 2010

Por respeito a diversidade vote Dilma!


O povo brasileiro tem clareza da diferença entre os dois projetos que estão em disputa no dia 31 de outubro. O Brasil de Dilma é o país dos avanços, da geração de emprego, da erradicação da pobreza. Por isso, o número de segmentos da sociedade que estão declarando apoio à Dilma não para de crescer.
São militantes do movimento negro, dos movimentos populares do campo e da cidade, do movimento de mulheres, do movimento LGBT, religiosos, educadores, policiais, estudantes, artistas, poetas, ativistas digitais, engenheiros, arquitetos, agrônomos entre outros setores.
A diversidade é Dilma, pois sabe que o Brasil do governo de Lula e Dilma, dialoga com todos os setores sem preconceito. Por isso no domingo (31) vamos às urnas votar no #13confirma e dizer que #SoumaisDilma.

por Gisele Barbieri em #dilmanarede

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Aniversário de Lula


Hoje é aniversário de Lula e também o dia de mobilização nacional #naruacomdilma
Consiga um voto pra Dilma. Lula também aceita voto crítico...

cartaz do IlustreBob

domingo, 17 de outubro de 2010

Karina Buhr

Enquanto a blogueira que vos fala anda sem inspiração pra poesia (essas eleições estão tirando a minha calma...), que tal um pouco da música de uma artista promissora?

Karina Buhr é uma moça baiana mas veio pra Recife ainda criança. Começou sua carreira musical como percussionista do Maracatu Estrela Brilhante na década de noventa. Em 1997 formou o grupo de música regional Comadre Fulozinha.
Contemporânea do movimento manguebit, Karina participou como vocalista em várias bandas, como a Eddie, de Olinda. E agora partiu  para carreira solo, com um som mais pop mas visceral. Seu primeiro disco solo tem a participação de Edgard Scandurra (guitarra) da banda paulista Ira.
Mas chega de lero-lero, o melhor é curtir, ver e ouvir o sotaque pernambucano dessa baiana arretada!

 

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

sábado, 2 de outubro de 2010

primárias

o amarelo deita de sol na primavera
o azul vem recheado de vento
e o vermelho...o vermelho pede
a tua boca em minhas coisas carnudas

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

sábado, 4 de setembro de 2010

tou voltando, aos poucos...

Gente, ando sumida, eu sei. É que apesar de já ter comprado meu computador, ainda não me conectei a internet, mas desse mês não passa, juro! Além disso ando sem disponibilidade de alma pra escrever..."Disponibilidade de alma" é bonito, né? mas a expressão não é minha não. É de um político no qual jamais votei nem votaria... É do... Vou dizer não, deixa passar as eleições que eu digo, tá? Hehe.
Enquanto isso curtam o vídeo de uma banda de Recife que eu curto bastante: Mombojó .

 

segunda-feira, 21 de junho de 2010

no chão da boca

toda poça tem seu chão de estrelas
onde se agacha a lua encardida

as bordas das folhas babam de lábios
a água da chuva

a face mais dura do chão é de pedra
ou asfalto

tudo o que é mais permeável tem essência de terra
e boca

toda noite sonho com um deus de asfalto
semeando volúpia em minha boca

todo dia acordo com uma borra de desejo
no canto dos
lábios...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

infância no mato

gosto mais de brincar que ser gente de siso
tenho mais de criança, de nuvem...
enquanto chuva, me faço rega.
terra molhada tem cheiro bom
todo mundo gosta, criança gosta.
deito na grama úmida, adormeço
acordo amanhecida de pétalas, lambida de sol.
na pele guardo o orvalho fresquinho.
no banho de bica a rã fria pula mais alto que minha bunda.
gosto mais dos embuás com suas tantas perninhas, fazendo cócegas na palma da mão
e à noite descobrir vaga-lumes, esses espiões camuflados de luz.
subo na árvore mais amiga - árvore amiga é aquela que tem muitos braços abertos dentro do céu -
sempre sonhei com casinha na árvore entre galhos e folhas de olhares brecheiros
mas fiquei contente com o balanço de corda e madeira
e voei sonhando passarinho.
bem sei que algum dia me refloresço criança
até beijar colibris dourados
até mijar margaridas azuis

domingo, 30 de maio de 2010

um olhar diverso

Dizem que Ana sempre olhou muito mal.
Que ela simplesmente não via o que quase todo mundo via.
Que seu olhar dispersa das coisas.
E que, entre outras coisas, só via de suspiros pela lua cheia nascendo no horizonte, ou via de chateação pela espinha impertinente nascendo em seu rosto.
Ana sempre enxergou melhor com os ouvidos.
Até parece que nasceu de música.
Poderia ser cantora, violonista, pianista.
Mas não, Ana escolheu as artes plásticas que pedem tanto aos olhos.
Assim Ana habituou esfregar seu olhar nas coisas ao seu redor.
No entanto esse olhar atento durou pouco tempo.
Ana distraída começou a ver com a imaginação, mais ou menos como fazia quando criança e via o que ninguém via.
Ana desenhou delírios e criou seres nunca vistos disso.
Nem tardou e Ana abandonou as artes.
Decidira escrever poesia e seu olhar se voltou para dentro.
Escreveu de sentimentos e sensações, principalmente sensações: "o sentimento vaza como música em minha pele".
Ana descobrira que não só os versos mas cada palavra, em si mesma, comporta sensações.
Carrasco, por exemplo, é uma palavra bem seca provavelmente pelo dígrafo rr seguido de asco.
Burburinho é uma palavra que borbulha e faz cócegas ao pé-do-ouvido.
Enquanto jequitinhonha tem algo de nhoc-nhoc, nhac-nhac.
E alpendre tem uma amplitude inicial mas aconchega no final.
Ana prestava muita atenção às sonoridades das palavras e suas significâncias, daí inventava neologismos.
Alguns dizem que Ana virou poeta porque enxergava muito mal com os olhos (bendita deficiência!).
Ana é de ouvidos, de sensações, imaginânsias e sonholências.

domingo, 23 de maio de 2010

Diário de uma ACS

Segunda-feira, oito horas da manhã, chuvinha fina. Avisto Ivanilson, meu colega ACS, vindo em minha direção em uma rua qualquer do bairro da Mustardinha. Ele acena pra mim fazendo continência com a mão direita. Eu retribuo o gesto e nós dois sorrimos. Conversamos um pouco e em seguida cada qual segue seu rumo ao próximo setor censitário que devemos cobrir.

Era apenas mais um dia na rotina exaustiva dos agentes censitários supervisores (ACS). Naquela segunda-feira iniciava meu oitavo setor, o maior até então, com 17 quadras que nem sempre correspondem a realidade encontrada em campo. Meu PDA (personal digital assistent) já estava em mãos pronto pra registrar todos os endereços residenciais e não residenciais, além de atualizar os mapas com o auxílio de GPS, e registrar as características do entorno: pavimentação, calçamento, iluminação, arborização, acúmulo de lixo, esgoto a céu aberto... Trabalho necessário mas repetitivo e enfadonho. E o calor do Recife continua infernal, apesar de estarmos no outono.

Chego em casa à tardinha, cansada, pernas cansadas e o corpo quente de tanto sol. Queria encontrar ânimo pra escrever um poema erótico, um conto amoroso mas não sinto tesão... Lembro Rilke em seu belo "Cartas a um Jovem Poeta" aconselhando-o a escrever sobre seu cotidiano mesmo que lhe pareça pobre. E na impossibilidade de escrever sobre o amor, decido escrever sobre o meu cotidiano atual, afinal todo cotidiano, o cotidiano honesto, tem sua dignidade.

Muitas imagens ocorrem em minha mente e encontrar, eventualmente, Ivanilson, é um alento pois aplaca em certa medida a solidão do trabalho de rua. Começo a escrever e já me encontro na terceira transcrição com papel e caneta em punho. Lembro Walter Benjamin em seu admirável "Rua de Mão Única" falando alguma coisa sobre transcrição de textos, que aquele que transcreve um texto o conhece melhor do que aquele que apenas o lê, como quem percorre uma estrada a conhece melhor que aquele que a sobrevoa. Transcrevo-me para descobrir os atalhos do meu texto - e do meu pensamento - e percorrer o melhor caminho. Penso nas ruas e becos que percorri mais de uma vez no bairro da Mustardinha. E em suas entrelinhas encontrei pessoas várias: gente curiosa, desconfiada, simpática, antipática, agressiva, doce, amarga... Encontrei dona de casa com suas panelas no fogo sem tempo de me atender. Encontrei senhora solítária que quase agradece por alguém ter tocado em sua porta. Encontrei pessoas sentadas em cadeiras nas calçadas jogando conversa fora. Encontrei um idoso que, se desse corda, contava a história do bairro todinha. Encontrei crianças jogando bola ou empinando papagaio. Encontrei crentes em cultos evangélicos. Encontrei pessoas em ofícios diversos e adolescentes ouvindo rap ou Chico Science. São muitas as vidas, humores e idiossincrasias encontradas entre/e nas vias/veias do bairro que, assim como a cidade, é mais que um mapa a ser llido. O bairro, assim como a cidade, deve ser percorrido, de preferência a pé. Pois só assim, a pé, se conhece não apenas seu corpo mas também sua alma.

Acho que já posso dizer que conheço o bairro da Mustardinha em corpo e alma. É só um pedacinho da cidade. Mas se a Mustardinha está contida no Recife, o Recife, pelo menos em parte, também está contido na Mustardinha. Poderia contar algumas histórias como quando uma menina, muito faceira, me acompanhou no trabalho por algumas ruas. Ou como encontrei um marceneiro ouvindo música bleque dos anos 60/70, para minha surpresa e satisfação. Ou ainda da minha alegria ao descobrir a sede do famoso Clube Carnavalesco Misto dos Lenhadores.

Muitas são as lembranças. Muitos são os encontros ao longo do dia, a cada dia. Escrevo o que posso ou o que tenho vontade de escrever. E ainda que meus sonhos de amor estejam engessados, tenho minha cidade, tenho minha realidade: meu cotidiano. Estou vivendo percorrendo ruas, encontrando gentes. Fecho os olhos. Acho que quase posso sentir os odores e sons da Mustardinha. E acho que, pelo menos em parte, em alguns momentos, também me encontrei ali.

segunda-feira, 29 de março de 2010

acho que Deborah Colker iria gostar dessa



Talvez vocês já tenham visto esse videoclip pois não é tão novo. O vídeo da música Here It Goes Again é da banda americana Ok Go. Desde que o vi pela primeira vez achei arretado, só não o tinha apresentado aqui no refúgio porque, na época, ainda não sabia como como adicionar vídeo no blogue. Pra mim é o tipo de vídeo que prova que uma idéia pode valer mais que mil efeitos especiais e poses de pop star.

segunda-feira, 8 de março de 2010

uma menina, quase mulher

Não pensei em nada pra escrever nesse Dia da Mulher. Mas vi essas fotos no orkut de Maria Antônia, minha sobrinha e gostei. Ela tá "viajando" com o piercing (ou pírcingue, como se diz em Portugal) que fez na orelha. Amo essa Menina...

terça-feira, 2 de março de 2010

apontamentos de uma louca



4. pra quem já esperou mil anos, esperar mais cem não custa nada. o problema é que quanto mais roço em suas palavras, menos o gozo me permite mentir;

2. gosto de gatos porque são verdadeiramente livres, livres como loucos, loucos de tão livres. livres e livros são pra comer. mas não como gatos, prefiro comer você;

3. às vezes você me irrita, mas quando lembro seus oinho triste, seu rosto cansado, dá vontade de lhe dar colo e lhe chupar (...) até o dia amanhecer;

1. o sentimento vaza como música em minha pele. quero asas pra sublimar o que digo, ao pé-do-ouvido, com meu coração supersônico!;

5. preciso ir, tenho pressa, mas pode crer: gosto de você à beça.

agora segue a música porque a ordem dos fatores não altera esse amor balbuciado. ou seria anunciado? ah, deixa pra lá...

sLy & tHe fAmIlY sToNe - if you want me to stay




sábado, 27 de fevereiro de 2010

Rondó do Capitão

poema: Manuel Bandeira
música: João Ricardo

Bão balalão,
Senhor capitão.
Tirai este peso
Do meu coração.
Não é de tristeza,
Não é de aflição:
É só de esperança,
Senhor capitão!
A leve esperança,
A aérea esperança...
Aérea, pois não!
- Peso mais pesado
Não existe não.
Ah, livrai-me dele,
Senhor capitão!



Adoro esse poema e a respectiva versão musical dos Secos & Molhados. Tem a ver com meu momento atual.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

o frevo da quarta-feira de cinzas

De Fazer Chorar
autor: Luiz Bandeira
versão: Eddie



O frevo acima é o frevo dos inconformados com o fim do carnaval. Não sei se vocês curtem. Se não, eu compreendo, juro que compreendo. Acho que só quem nasceu em Pernambuco, ou conhece e gosta de frevo e carnaval, curte, de fato.

Fabinho Trummer e a Eddie; Chico Science (de onde estiver) e a Nação Zumbi; Fred 04 e a Mundo Livre S.A. amam o carnaval e eu amo o carnaval e essas bandas porque além de falarem do universal com muito talento, ainda cantam minha aldeia. Daí minha relação afetiva com esses moços que só conheço de vista - amores platônicos, há mais de uma década, que encontro nas ruas, em lanchonetes, em bares, em filas de cinema e, evidentemente, em shows, seus shows. E neste carnaval, especificamente, ouvir a Eddie tem me dado o maior tesão: o último disco deles não para de tocar lá em casa. Será que sou uma groupie enrustida? (risos).

PS: Pra quem não sabe, groupies são moças que gostam de trepar com músicos de banda. São as famosas tietes que levam a tietagem às últimas consequências...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Erótica. Só minto um pouco...


basta-me um olhar que me deixe nua

entre o último e o primeiro gole

basta-me uma palavra obscena
que embriague a carne úmida

basta-me uma falange e um anel
corrompendo-me entre as coxas

basta-me uma foda macia
e seu cheiro de macho pra levar na calcinha


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Som de Pernambuco -3 (banda Eddie/vídeos)



Som de Pernambuco -3

Eddie - Carnaval no Inferno

Natural de Olinda, a Eddie é uma das bandas mais bacanas que tocam por aqui e por aí afora. Em seu quarto disco, aqueles meninos, que curtiam cinema-praia-futebol, chegaram à maturidade. Da década de 90 pra cá muita coisa aconteceu: a vida machuca e deixa marcas. Mas quando se tem coragem, determinação e leveza, fica mais fácil tocar a vida.

Se no primeiro disco da Eddie, a vida soava mais alegre, neste predomina a melancolia. Mas entenda-se, essa melancolia está mais presente nas letras que nas melodias. Fabinho Trummer (letra/voz/guitarra) e Cia ainda nos faz mexer o corpinho. Pra se ter uma idéia o disco começa logo com um frevo delicioso de cantar e dançar. Daí segue com samba, samba-rock, rock, gafieira-dub (definição minha), um bolero e uma pitada de surf music. Tudo com aquele Original Olinda Style, como define, o próprio Fabinho, o som da Eddie e de outros artistas de Olinda.

Agora você deve estar curioso/a pra saber o que é esse Original Olinda Style. Acertei? Então escuta essa: tem gente que jura que Bob Marley nasceu em Olinda. A quantidade de cannabis sativa que circula por ali... O olindense é relaxado, leve... Diferente do recifense, mais estressado. Arrisco dizer que a leveza que nos resta se deve aos ventos (ou fumaça...) que sopram de Olinda até Recife, ou talvez às marés e, certamente, às linhas de ônibus Rio Doce/Piedade e Barra de Jangada/Casa Caiada que permitem esse saudável intercâmbio cultural, pelo litoral, unindo Olinda, Recife e Jaboatão, cidade vizinha e ao sul de Recife, berço da Mundo Livre S.A. (banda influente no som da Eddie).

Além disso tem o carnaval, né? Essa festa desvairada que o pernambucano faz questão de manter a tradição mas sempre abrindo espaço para o novo. E é justamente em Olinda e Recife onde há a maior concentração de blocos, orquestras de frevo e foliões. E é essa festa, o nosso carnaval, que nos salva, que dá leveza à alma e ajuda a suportar a dureza da vida. Tem até um frevo - entre muitos- que revela o quanto o carnaval é importante em nossas vidas, que diz assim: " É de fazer chorar quando o dia amanhece e obriga o frevo a acabar, oh quarta-feira ingrata, chega tão depressa, só pra contrariar!". Fabinho Trummer, como bom folião, sabe disso. Tanto que já gravou esse frevo com a Eddie, naturalmente naquele estilo original de Olinda.

Aliás, pra quem não sabe, a música "quando a maré encher", gravada pela Nação Zumbi (outra banda que influencia a Eddie) e que ficou famosa na voz da saudosa Cássial Eller, é um frevo da Eddie, um frevo-rock. Fabinho, moço leve e despretensioso, sabe das coisas.


PS 1: na postagem acima vocês viram/ouviram, os vídeos do frevo Bairro Novo/Casa Caiada (nomes de dois bairros de Olinda) e da indignada "eu tô cansado dessa merda" na voz de Karina Buhr (participação especial). Ainda indico a audição do sambinha cafajeste "me diga o que não foi legal" e de "gafieira na avenida". Você pode ouvi-las aqui. Ou melhor, se possível, ouça o disco todinho, todinho. Esse carnaval, ainda que no inferno, é primoroso!

PS 2: perdão, infelizmente pensei que as músicas indicadas acima estavam disponíveis no myspace da Eddie. De todo modo tem outras músicas lá. E no youtube tem outros vídeos.




segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Touche pas à mon pote!



Forças de paz ou forças de repressão?
- uma contra-informação


" A situação é dez vezes pior do que imaginava. Ouvindo uma rádio do Haiti e conversando com amigos jornalistas que estão lá, o cenário é desolador e revoltante. A polícia nacional e as forças de paz estão atirando nas pessoas que vão buscar comida nos hospitais. Estão abrindo fogo contra o povo faminto" (Franck Seguy, professor haitiano)

Franck Seguy e sua esposa, Michaelle Desroisers, são professores da Universidade Estadual do Haiti. Ambos acabaram de concluir mestrado na área de serviço social na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e estavam prontos para voltar ao Haiti, quando souberam do terremoto.

Foto de Franck Seguy, citação e informações: Jornal do Commercio, Recife, 16 de janeiro de 2010.


PS: a expressão francesa que dá nome a esta postagem é o
slogan do movimento SOS Racismo da França e significa, em bom brasileiro, algo como: "Não mexa com meu companheiro!"

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

da indignação

Quando eu tinha por volta dos meus 20 e poucos, até 30 e poucos anos, em ano eleitoral, era capaz de arrumar uma discussão com qualquer pessoa desconhecida que falasse mal do meu candidato e da esquerda. Isso acontecia, basicamente, dentro de algum ônibus urbano, enquanto ouvia a conversa entre dois sujeitos ou duas comadres com aquele tipo de papo conservador e reacionário. De repente meu sangue começava a esquentar até entrar em ebulição. Dizia para mim mesma que daquela vez iria me controlar, mas não tinha jeito, acabava me metendo na conversa com um estilo, digamos: "hay que endurecerse pero sin perder la ternura...". Com o passar dos anos me tornei menos impulsiva mas não menos indignada: Se o Amor é aquele que conhece a Verdade, o Ódio é aquele que pode tomar de assalto a Mentira.

Ando extremamente irritada com a maneira que a imprensa corporativa vem tratando de maneira superficial e parcial - o que não é novidade - a polêmica sobre o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH). Meu aborrecimento chegou a tal ponto que noite passada acordei sobressaltada de um sonho bastante realista no qual brigava com um passageiro de ônibus que criticava o governo exatamente por causa do dito Plano. Remeti-me imediatamente aos meus anos impulsivos... Mas voltando à polêmica, me irrita ver a imprensa falando que "o Plano tem críticas de diversos setores da sociedade" sem deixar claro que esses "diversos setores da sociedade" são apenas a própria imprensa corporativa, a Igreja, os militares, os ruralistas e evidentemente a oposição (leia-se PSDB e DEM), ou seja, as forças mais anti-democráticas e avessas à liberdade, aqueles que sempre estiveram no poder. Enquanto isso, Ongs e entidades de direitos humanos apóiam o PNDH e estão lutando para que não sofra alterações.

Pois bem, estamos em ano eleitoral, Lula já disse que não será o "Lulinha Paz e Amor" na próxima eleição. Espero que assim seja, desde já: Um pouco de Ódio é sempre bem-vindo.