Pra quem não conhece, Lula Queiroga é um dos parceiros musicais de Lenine (que imagino que tod@s que me leem conhecem). Compositor dos melhores, Lula acaba de lançar seu quarto álbum: Todo Dia é o Fim do Mundo. Ainda não ouvi o disco, só a faixa-título, que adorei!
Segue um texto - excelente, por sinal - do próprio Lula.
LULA Q POR LQ
A ideia base deste novo disco: Todo dia é o fim do mundo nasce de uma pergunta besta que sempre me assolou o pensamento. Como a raça humana conseguiu chegar até aqui? Se somos tão frágeis, se nascemos tão dependentes? A resposta seria Darwiniana: adaptando-se. A qualquer circunstância. Morrendo e nascendo mais resistentes. Insistindo e perseverando por instinto. Vingando, no sentido matuto e épico da palavra. Como um cacto no deserto hostil. Aí veio a era industrial, a urbanidade desordenada. A necessidade de sobreviver no caos. Do corpo e da mente. A grande odisseia humana em busca da felicidade. O fim virá para todos. Mas não como extinção imediata e datada da vida na terra. Porque não se trata de oráculos bíblicos, previsões fatalistas, Nostradamus, colisões meteoríticas, derretimento dos pólos. Não. Todo dia é o fim do mundo é sobre o apocalipse diário, o pequeno drama cotidiano, vivido de sol a sol, de chuva em chuva, de fome a fome, de coração a coração. É a respeito dos sobreviventes do cataclisma pessoal de cada instante. Dos heróis anônimos que têm que matar um leão a cada dia. E que no dia seguinte acordam para enfrentar tudo de novo. Da vida à deriva. Dos que se refugiam na loucura pra atenuar a falta de norte. Dos que perdem e dos que vencem momentos. E que de uma forma ou de outra, como mariposas, caçadoras de luz, conseguem encontrar, mesmo efêmera, a fagulha fátua da alegria e da divindade. Para mim, dar forma sonora e consistência a esse conceito chave, virou um mergulho. Aprendi , ano passado com Ronaldo Fraga mestre no quesito: arte é imersão. Musica é deixar afundar no redemoinho. Daí, com a companhia de Yuri, Lucky Luciano, Tostão e Paulo Germano, entramos no estúdio aqui da Luni, em Recife e começamos a procurar as melodias para as vozes, o timbre para cada fonte sonora. Tocando e compondo ao mesmo tempo. Ocupando os vazios, valorizando pausas. Envolvendo a canção com casulos harmônicos. Lembrando outras que já existiam. Antecipando mixagens. Perseguindo o que ainda não existe. Tomando sempre o cuidado de nunca sucumbir ao meramente sombrio. Porque a simples menção do fim do mundo pode ser uma armadilha.
Todo dia é o fim do mundo é um disco com 12 faixas quase coladas umas às outras. A ordem original não surgiu ao acaso. Mas como toda ordem pode ser descumprida ao gosto randômico de cada um. Até porque são músicas que independem umas das outras.
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