segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Ô, Coisa Doida!


Essa dupla que vocês estão vendo é eu e meu pai. Ops, me desculpem! Não, não troquei a foto, vocês não conseguem visualizar meu pai porque ele está oculto, por detrás da câmara fotográfica. Meu pai sempre gostou de fotografar as filhas, assim, meio em flagrante (ah, que bobagem, quase todo pai faz isso, né?). Mas acho essa foto bem bacana.

Meu pai foi engenheiro agrônomo. Na década de 60 foi Secretário de Agricultura na Paraíba. Realizou um excelente trabalho neste cargo, seja no interior ou na capital (no início da ditadura militar, putz!). Meu pai nunca foi apaixonado por política, ele apenas queria realizar seu trabalho em paz. Foi um técnico muito respeitável, até hoje as pessoas lembram dele com admiração. Conversava sobre qualquer assunto, foi um homem que gostava de saber, de aprender e também ensinar. Nunca se declarou um socialista mas sempre votou na esquerda, defendendo a igualdade e a justiça. Seus amores eram: minha mãe , suas filhas, o interior e o mato. Preferia o belo da natureza ao belo da arte. Não devo a ele meu amor à música, às artes e à poesia – isso aprendi com minha mãe, que aprendeu com seu pai, meu Vô João – no entanto devo a ele o aprendizado da franqueza, da retidão, do amor à natureza, da contemplação e da indignação diante das injustiças sociais.

Estou falando com o verbo no passado não porque meu pai esteja morto, ele ainda vive mas tem Mal de Alzheimer. Atualmente não distingue uma samambaia de uma bromélia ou uma jibóia. Gostaria de poder conversar com ele sobre a transposição do Rio São Francisco, a questão da Amazônia, sobre construção de cisternas no sertão, sobre o governo Lula, mas isso é impossível: apesar de vivo já o perdi ...

Meu pai também adorava/adora crianças e ainda hoje, mesmo demente, quando vê uma, diz: Ô coisa doida! Diz isso com a maior ternura. E às vezes quando me vê também diz: Ô coisa doida! Eu acho graça e fico pensando se, nesses momentos, ele se lembra daquela menina que ele tanto amava fotografar e levava para a praia, ensinava a boiar e nadar e depois, na beira-mar, brincava de construir castelos de areia...

PS: Essa praia onde estou na foto é no Rio de Janeiro. Vivemos lá (eu, meus pais e minhas duas irmãs) entre 1969 e 1974, mas não sei qual é a praia, provavelmente era a praia do Flamengo, bairro onde residimos.

7 comentários:

Anônimo disse...

Sandra: Há um lado emocionante em seu relato, incluindo a maneira como você refere-se a seu pai. Um texto para ser lembrado com carinho. E olha só a coincidência: em 69 e de 72 a 76 morei pertinho da Praia do Flamengo (é verdade: não dá para identificá-la). Eventualmente, sobretudo em 69, eu aparecia por lá, arricando-me a entrar na água, ainda não de todo poluída naqueles tempos. Um beijo.

o refúgio disse...

Moacy, fiquei emocionada em saber que você morou pertinho de mim quando eu ainda era uma criança. Um beijo.

Anônimo disse...

Oi Sandrinha.
Bonito e emocionante o seu texto. É belo o modo carinhoso como você fala do seu pai. Espero um dia conseguir escrever algo parecido sobre o meu, que já se foi há dois anos.
Linda a foto - você já era uma gracinha quando menina.
Um abraço e um beijo.
Jens, com açúcar e com afeto.

o refúgio disse...

Jens, tenho certeza que um dia você escreverá algo muito bonito sobre o seu pai. Um beijo.

Anônimo disse...

Sandra: Eis o novo endereço (agora sem problemas, assim espero) do Balaio Porreta: www.balaiovermelho.blogspot.com /Um beijo/.

Anônimo disse...

Senhorita dona moça, estive ausente por absoluta falta de tempo. Tô numa trabalheira desgraçada. E pode sacanear o Sport à vontade, o que vem de seres rastejantes, despernados e segundo-divisionários não nos atinge. Vou indo colocar a leitura dos teus posts em dia. Beijão!

AB disse...

Sandra querida... Dia 30, fez 7 anos que eu perdi meu pai. Acredite, minha linda... fosse com que mal fosse, eu adoraria tê-lo ao meu lado... Lindo texto, Dona Menina. Comovente.