segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Som de Pernambuco -3

Eddie - Carnaval no Inferno

Natural de Olinda, a Eddie é uma das bandas mais bacanas que tocam por aqui e por aí afora. Em seu quarto disco, aqueles meninos, que curtiam cinema-praia-futebol, chegaram à maturidade. Da década de 90 pra cá muita coisa aconteceu: a vida machuca e deixa marcas. Mas quando se tem coragem, determinação e leveza, fica mais fácil tocar a vida.

Se no primeiro disco da Eddie, a vida soava mais alegre, neste predomina a melancolia. Mas entenda-se, essa melancolia está mais presente nas letras que nas melodias. Fabinho Trummer (letra/voz/guitarra) e Cia ainda nos faz mexer o corpinho. Pra se ter uma idéia o disco começa logo com um frevo delicioso de cantar e dançar. Daí segue com samba, samba-rock, rock, gafieira-dub (definição minha), um bolero e uma pitada de surf music. Tudo com aquele Original Olinda Style, como define, o próprio Fabinho, o som da Eddie e de outros artistas de Olinda.

Agora você deve estar curioso/a pra saber o que é esse Original Olinda Style. Acertei? Então escuta essa: tem gente que jura que Bob Marley nasceu em Olinda. A quantidade de cannabis sativa que circula por ali... O olindense é relaxado, leve... Diferente do recifense, mais estressado. Arrisco dizer que a leveza que nos resta se deve aos ventos (ou fumaça...) que sopram de Olinda até Recife, ou talvez às marés e, certamente, às linhas de ônibus Rio Doce/Piedade e Barra de Jangada/Casa Caiada que permitem esse saudável intercâmbio cultural, pelo litoral, unindo Olinda, Recife e Jaboatão, cidade vizinha e ao sul de Recife, berço da Mundo Livre S.A. (banda influente no som da Eddie).

Além disso tem o carnaval, né? Essa festa desvairada que o pernambucano faz questão de manter a tradição mas sempre abrindo espaço para o novo. E é justamente em Olinda e Recife onde há a maior concentração de blocos, orquestras de frevo e foliões. E é essa festa, o nosso carnaval, que nos salva, que dá leveza à alma e ajuda a suportar a dureza da vida. Tem até um frevo - entre muitos- que revela o quanto o carnaval é importante em nossas vidas, que diz assim: " É de fazer chorar quando o dia amanhece e obriga o frevo a acabar, oh quarta-feira ingrata, chega tão depressa, só pra contrariar!". Fabinho Trummer, como bom folião, sabe disso. Tanto que já gravou esse frevo com a Eddie, naturalmente naquele estilo original de Olinda.

Aliás, pra quem não sabe, a música "quando a maré encher", gravada pela Nação Zumbi (outra banda que influencia a Eddie) e que ficou famosa na voz da saudosa Cássial Eller, é um frevo da Eddie, um frevo-rock. Fabinho, moço leve e despretensioso, sabe das coisas.


PS 1: na postagem acima vocês viram/ouviram, os vídeos do frevo Bairro Novo/Casa Caiada (nomes de dois bairros de Olinda) e da indignada "eu tô cansado dessa merda" na voz de Karina Buhr (participação especial). Ainda indico a audição do sambinha cafajeste "me diga o que não foi legal" e de "gafieira na avenida". Você pode ouvi-las aqui. Ou melhor, se possível, ouça o disco todinho, todinho. Esse carnaval, ainda que no inferno, é primoroso!

PS 2: perdão, infelizmente pensei que as músicas indicadas acima estavam disponíveis no myspace da Eddie. De todo modo tem outras músicas lá. E no youtube tem outros vídeos.




2 comentários:

Vais disse...

Olá super querida Sandrinha,
moça, muito bacana esta arte, o som também, as influências da melhor qualidade, eu gostcho, curto mesmo,
muito boa tua resenha
muitos beijinhos
inté inté

um z ninguém disse...

Sandrinha, você não vai falar, eu sei, por temer incorrer em bairrismo, então falo eu, que tenho viajado muito e visto e ouvido muita coisa: NÃO HÁ, NO BRASIL, UM POVO QUE PRODUZA TANTA E TÃO BOA E VARIADA MÚSICA QUANTO O PERNAMBUCANO.
e o principal: vocês se negam a deixar sua cultura (toda ela) refém da pasteurização e da uniformização impostas pelo 'deus' mercado.
pronto, falei - e disse.
beijo