Water Benjamin (1892-1940)
Criança Andando de Carrossel
A prancha com os animais prestadios gira rente ao chão. Tem a altura em que melhor se sonha voar. Começa a música e num solavanco gira a criança, afastando-se da mãe. Primeiro, ela tem medo de deixar a mãe. Mas, em seguida, nota como ela própria é fiel. Ocupa o trono, como fiel senhor, sobre um mundo que lhe pertence. Na tangente, árvores e nativos formam alas. Então, em um oriente, emerge novamente a mãe. Em seguida, sai da floresta virgem um cimo, tal como a criança já o viu há milênios, tal como o viu pela primeira vez, justamente, no carrossel. Seu animal lhe é dedicado: como um Arion mudo ela viaja sobre seu peixe mudo, um Zeus-touro de madeira rapta-a como Europa imaculada. Há muito o eterno retorno de todas as coisas tornou-se sabedoria de criança e a vida, uma antiquíssima embriaguez de dominação, com a retumbamte orquestra, no centro, como tesouro da coroa. Se ela toca mais lentamente, o espaço principia a gaguejar e as árvores começam a voltar a si. O carrossel se torna base insegura. E emerge a mãe, a estaca multiplamente cravada, em torno da qual a criança que chega em terra enrosca a amarra de seu olhar.
Walter Benjamin, Rua de Mão Única, Obras Escolhidas, vol. 2, 1ª edição, Ed.Brasiliense, São Paulo, 1987.
2 comentários:
Belo post, Sandra!
O carrosel da vida ela depois aprenderá e nem mãe terá mais.]
Beijos
Mirze
Mirze, quando li pela primeira vez esse texto, vi claramente o movimente do carrossel...
Benjamin escrevia muito bem!
Beijos
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