quinta-feira, 29 de setembro de 2011

das paredes

paredes aceitam, relutantes, pregos e quadros
mas aceitam de bom grado olhares perdidos
***
sempre dou olhos e ouvidos às paredes, 
evito dar voz: paredes guardam segredos
***
um passatempo de infância:
descobrir o esconderijo das formigas que andam pelas paredes
***
um passatempo romântico:
gastar paredes com sonhos de amor
***
traças que percorrem paredes 
sabem mais da eternidade
que o próprio tempo
***
tenho tanta intimidade com as paredes
que só de olhá-las
já sei o que estou tramando

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

alvorada


derrubadas a machadadas
vão-se as sombras

quando arvora a arvorada
sol me resta
arvore
         cer


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

inútil

esse poema nasce
apesar de


nasce porque insiste
não sabe a que veio
mas em meio a dúvida 
existe


não pulsa não bate 
nem combate
nasceu de inutilidade


esse poema existe
apesar de 


não é carne não é osso
o que canta o que sente
não ouço

domingo, 25 de setembro de 2011

No Olimpo - Nação Zumbi


"Todos os dias nascem deuses
Alguns maiores e outros menores do que você
Todos os dias nascem deuses
Alguns maiores e outros menores do que você
Esse é o alvorecer de tudo que se quer ver
Sem fazer sombra na melhor hora do sol
Eternidade duradoura com sossego então
Melhor que fique assim
Todos os dias nascem deuses
Alguns maiores e outros menores do que você
Todos os dias nascem deuses
Alguns maiores e outros menores do que você
Essa é a janela dos outros em ação
Beijos explodem como bombas ao anoitecer
Brinquedos avançados acendendo o som
Não estaremos dormindo
Todos os dias fazem deuses
Alguns melhores e outros piores do que você
Todos os dias fazem deuses
Alguns melhores e outros piores do que você"

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

constatações

amor que inspira
passa o tempo
e não expira


---


às vezes tenho uma leve ideia de quem sou
mas apenas uma breve ideia
nada mais que uma grave ideia

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O Verme e a Estrela

Pedro Kilkerry/ Cid Campos

imagem do encarte do disco

Esta canção-poema faz parte do disco A Fábrica do Poema (1994) de Adriana Calcanhotto
O Verme e a Estrela é uma das músicas que eu mais gosto deste disco, seja pela melodia, pela letra, pela voz da própria Adriana e pela participação, especialíssima, de Augusto de Campos que empresta sua voz, suave e elegante, ao poema.




quarta-feira, 21 de setembro de 2011

um poeminha e um causozinho

a poesia
nunca me deu intimidade
quando roça meus lábios 
é pura per(verso)dade
***

tinha uma mulher que todo dia cantava a vizinha e roubava um ovo de galinha. todo dia ela ia e vinha. todo dia essa ladrainha.


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Poemas de Líria Porto

in Tanto Mar

espantalho


não tenho mar não tenho rio
e nem lagoa enxurrada ou copo d'água
tenho mesmo é esse jeito de ser_tão
essa sede essa secura esse bagaço
ao invés de coração
                                   ou vísceras


monocultura

a cana chupa a terra 
e deixa só o bagaço
desclassificado


não foi um amor de primeira
nem um amor de segunda

foi um amor comum
que me fez rir e chorar

e viver como nunca




seguidora

um sol meio sonso
desses de inverno 
roça o horizonte
de um jeito terno
e minha janela
sempre boquiaberta
fita-o de longe
como se quisesse
mudar pro japão
uma noite sim
outra noite não

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

do riso

o riso
após o siso
é como o sol
desfazendo sombras
brisa leve
tormenta que passa
passarinho 
abrindo asas
a bela que afugenta a fera
o inverno que sucumbe
à primavera

domingo, 11 de setembro de 2011

sendo

estou reaprendendo
a ser 
sendo eu
porque cer
            ceando-me
                 custou-me
tantos dias borboletas
tantas noites doeu

descobrindo poetas

A gente se acostuma a ler poetas e escritores(as) mortos (agora imortais). Se vivos e novos, lemos aqueles que já caíram no gosto da crítica. Mas é muito bacana descobrir gente talentosa que dificilmente descobriríamos se não fossem os blogs e afins (apesar de me arriscar em poesia não circulo pelo meio de poetas e escritores). Devo confessar que pouca coisa (e conheço pouco mesmo) me agrada, em termos de poesia. Gosto de concisão, simplicidade, ritmo e originalidade (existem exceções, claro). Características que eu mesma busco ao fazer um poema e não é nada fácil... Hoje, procurando por poesia chilena insurgente (por causa do 11/09/1973) acabei encontrando um blog de um doutorando em Sociologia pela UFPE e também poeta, Vamberto Spinelli Jr.. E através de seu blog conheci outro poeta, professor do curso de Letras da UFPB, Amador Ribeiro Neto. Seguem dois poemas deste último:


saudades


assim
saudades sim
simples
como brinco tupiniquim
um coco de roda
cirandas voltas de tu em mim




escassez


falta dinheiro & falta
falta um poema

aqui 
no meu bolso 

com tutano medula 
& osso

poucos 
bem loucos

raros poetas 
falam disto

muito 
poucos



Em outra postagem apresentarei  poemas de Líria Porto e Ulisses Borges. Poetas que também conheci através da blogosfera. E depois seguirei apresentando outros.

sábado, 10 de setembro de 2011

mondo capital...


se picasso pixasse
         seu pixo seria graffiti
logo de antemão
        seria avaliado em milhão
verdadeira obra-prima de elite




sexta-feira, 9 de setembro de 2011

passado porvir (sem nostalgia)

escrevo porque preciso
             porque a vida começou
bem antes de mim
             porque tudo o que não fiz
tem que ser inventado
tem que ser lembrado
            do começo até o fim


o passado ainda não passou
            mais um passo 
            e o presente
vira de ponta-cabeça
           o passado tem futuro
e algum sonho 
           que o mereça



quinta-feira, 8 de setembro de 2011

eu capim

cresce em mim
uma vontade capim
de deitar na terra
podia ser vontade flor
assim feito jasmim
mas tenho vocação de pasto


ser comida de gado
ser lambida e mastigada
certamente, além de doido
é desejo pouco casto

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

a palavra e o som

o som mora na palavra
dança, ecoa, curva 
a palavra veste o som
como uma luva
***
ton sur ton, de mansinho
 a palavra grito
             fala baixinho

vazio



o vazio tem algo de secura
alguma coisa distante do cio
nem gozo, nem choro, tampouco chuva
nem um arrepio


o vazio guarda o silêncio da alma
na caverna, o eco
no vazio eu seco
e essa vida por um fio



terça-feira, 6 de setembro de 2011

coisa & coiso

quero você bem perto
da minha coisa 


ereto, todo afeto e febre
eu afoita e lebre
de provar seu coiso

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

"Cultura" - Arnaldo Antunes

Este vídeo-música-poema faz parte do dvd Nome (1993) de Arnaldo Antunes. Hoje de manhã estava revendo as músicas desse dvd pelo youtube pois não o tenho em casa. Assisti há quase 20 anos na biblioteca central da UFPE quando ainda cursava arquitetura. Lembro que gostei demais. Como tenho relido poemas de Leminski e também a poesia visual de Augusto de Campos, lembrei do Arnaldo que tem uma influência inegável desses poetas.


Arnaldo Antunes, desde a época dos Titãs, faz das letras de suas músicas, poemas (ou seriam poemas que se fazem música?) que são musicais por si próprios, independente da melodia. Claro que a música acrescenta maior graça (e ritmo) às letras. Quem já ouviu "O que" do disco Cabeça Dinossauro (1986) dos Titãs, sabe do que estou falando. Cantei  (e dancei) um bocado essa música. Aliás o disco todo, um dos melhores dos Titãs.


Em Nome (livro, cd e dvd), seu primeiro trabalho solo depois que saiu dos Titãs, Arnaldo leva ainda mais longe seu trabalho como poeta/músico e acrescenta a poesia visual  realizando vídeo-poemas. Acredito que, pelo fato de gostar mais de música do que poesia, tenho preferência por poemas que têm ritmo, ludicidade, que brincam com a sonoridade e o conceito das palavras. E como também gosto de artes visuais, o dvd Nome me agradou logo de cara! Poderia ter escolhido outro poema-música do dvd mas escolhi "Cultura" não apenas porque considero muito criativo mas, principalmente, pelo verso final que acho maravilhoso: "bactérias num meio é cultura". E quem há de lhe contradizer? É fato (risos).


PS: não poderia deixar de mencionar a participação impecável de Marisa Monte - nesta e em outras músicas do dvd - que, por onde passa, deixa seu brilho!


Eis o vídeo


sábado, 3 de setembro de 2011

amor que é amor, repete!


quando fui
          já era tarde
quando quis
          já era noite
tudo aconteceu
         tudo fiz
de manhã
         tudo bis