quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

carnaval pé no chão

Carnaval acabou e todo ano todo folião tem a mesma sensação: foi pouco, quero mais!

Nem me incluo entre os foliões típicos porque, apesar de achar o carnaval a festa mais linda do mundo, sou uma foliona atípica: danço, canto mas sou muito mais contemplativa.

Adoro ver os maracatus, os afoxés, caboclinhos, os blocos líricos e todo tipo de fantasia que o povo inventa. O carnaval é, por excelência, a festa da irreverência, da alegria, da piada, do bom humor.

Tem quem ache tudo isso superficial, sem profundidade, frívolo. E é mesmo, ainda bem. No carnaval podemos assumir nosso lado mais fútil sem culpa, cometer alguns pecadilhos, inventar fantasia, brincar, enfim, ser novamente criança. Afinal ser o ano todo criança é impossível...

Mas carnaval também é coisa séria para muitos brincantes. Falo disso pensando nos caboclos de lança dos maracatus rurais que se preparam o ano inteiro, bordando suas golas e depois viajam da zona da mata até Recife/Olinda para se apresentar.Também penso nos integrantes das escolas de samba, dos afoxés, caboclinhos, pessoas simples, pobres das coisas materiais mas imensamente ricas de espírito, de bravura. Pessoas que mesmo fodidas, lascadas e mal pagas fazem questão de manter a tradição do seu folguedo, da sua escola que, muitas vezes, é o que dá sentido às suas vidas.

É por essas e outras que, mesmo se um dia eu parar de brincar carnaval (e a cada ano eu brinco menos...), o carnaval sempre será uma festa que terá o meu respeito e admiração, seja aqui, em Pernambuco, ou em qualquer lugar do Brasil onde as pessoas façam uma festa bonita de se ver e brincar.

Sei que esse samba é melancólico mas os sambas mais lindos são melancólicos mesmo, né não? Lembrei dele quando decidi escrever esse texto: Tristeza Pé no Chão com a saudosa Clara Nunes.




sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

moços, pobres moços...



“Os velhos são confusos porque sabem fazer muitas coisas que não se usa mais.” (Paulo Leminski)
                                                                                                                      

Desde que entrei no facebook há pouco mais de uma semana, quase todo dia fico fuçando o que tem de opções “curtir”. Às vezes lembro algum artista, poeta ou escritor e vou à cata pra ver se tem facebook.

Outro dia me lembrei de Nelson Leirner, artista que gosto muito, ainda que conheça pouco. E não é que achei! Tinha dúvidas se o encontraria porque Leirner tem seu próprio website onde estão expostos seus trabalhos desde a década de 60 até hoje. Mas suas últimas atualizações no facebook eram poucas e de 2011...

Daí fiquei imaginando – e só posso imaginar mesmo porque não conheço Leirner – que provavelmente por conta da idade (Leirner tem 80 anos) ele simplesmente não se adapta, ou não gosta  - ou não gosta porque não se adapta  - às redes sociais.  

Leirner, apesar da idade, exala juventude, anarquia, contestação e ludicidade em sua obra. Desde os anos 60 até hoje ele não perdeu o pique! Fiquei imaginando o quanto ele deve se sentir pouco à vontade e até confuso com computadores, internet e redes sociais. Além disso imagino que Leirner ocupe bastante tempo com sua arte, pensando, elaborando, experimentando, brincando!

Então lembrei a frase de Leminski que citei no início do texto e que se encontra em seu livro Catatau: “Os velhos são confusos porque sabem fazer muitas coisas que não se usa mais”.

Essa frase que, inicialmente, pareceu-me melancólica, numa segunda leitura me fez imaginá-la como se fosse o pensamento de muitos jovens que desdenham dos mais velhos por não saberem utilizar as novas tecnologias. Esse tipo de jovem não valoriza a sabedoria, a bagagem de experiência e conhecimento dos velhos, simplesmente por considerará-la inútil, “...que não se usa mais”.

Moços, pobres moços, agora lhes digo parafraseando o poeta: Os muito jovens que me perdoem mas velhice é fundamental!

Figurativismo Abstrato (2004)
arte de Nelson Leirner