quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

adoro esta valsa pop erótico-amorosa ;)


No Fundo
(Arnaldo Antunes /  Edgard Scandurra)

em cima de cima assim e acima
sobre do alto e de alto a baixo debaixo
ao lado atrás e de lado a lado detrás e
sob acolá e além de ali depois pelo
centro entre de fora dentro na frente
e já de agora em frente e daqui
defronte através e rente

no fundo no fundo no fundo no fundo

em pé de repente perto envolvido em
torno envolvendo em volta e de volta
já e também no meio na mosca no alvo
na hora fora daqui mas a poucos pés pouco
a pouco aos pés através atrás de viés
e em e ainda mais e ainda agora e a
cada vez de uma vez ainda

no fundo no fundo no fundo no fundo

ante e antes de então e então durante
e enquanto aqui por enquanto adiante
avante acerca e portanto ao largo ao
redor e lá e nos arredores nos cantos
cá de passagem logo tangente longe
distante hoje de ontem onde depois de
onde pra onde onde

no mundo no mundo no mundo no mundo


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Conto de Natal

por Marcelo Carota (Pirata Z)

N um conto de natal
     ecco! - ou, 'Don' Angelo e o cavalo do Zorro

1973. eu, 7 anos de idade.
    como todo mundo, em toda família, eu tinha um tio meio 'torto' - casado com 
uma irmã de meu avô siciliano - e meio banana,  também. seu nome era [ó só]
Américo... rico. muito rico. bobo. muito bobo. vai vendo.
    todo ano, próximo ao natal, ele perguntava qual presente a gente gostaria de
ganhar, mas, no almoço de natal, sem nem embrulhar, ele dava pra todos uma
mesma revistinha do rato mickey... no ano seguinte, a mesma pergunta, e eu,
bobo, na batata, respondia: "a capa, a espada, a máscara e o cavalo do Zorro!". tá.
chegava o natal, revistinha do rato mickey. no ano seguinte, mesma pergunta,
mas, desta vez, pensando que, talvez por conta do cavalo, que devia custar uma
nota, é que eu nunca ganhava o que pedia, tirei o bicho do pedido. em vão... no
almoço de natal, revistinha do rato mickey... vendo-me murchar, 'DonAngelo,
meu avô,  não se conteve. cuspiu no prato uma castanha que estava comendo,
juntou os polegares às pontas de cada mão em concha e, agitando-as, disparou:
    - ascuta me, Américo: sei pazzo?
    - what's up? - provocou o tio américo, que adorava falar inglês menos para se
exibir e mais para irritar meu avô, sabendo-lhe o apego às suas raízes.
    - uatis api mio cazzo! risponda me: sei pazzo?
    - no, i don't. why?
    - então, caspita ! qual o prazer de deixar uma criança triste?!
    - mas eu não dei o presente?
    - ah, fancullo! um aviso: nunca mais - mai, capice? - dê presente para meus
netos, capice?
    - mas...
    - capice, pezzo di merda?
    - tá, tá, entendi...
    - ecco!
    e, com seu sangue siciliano ebulindo nas veias, 'Don' Angelo esmagou uma
noz com as bases das mãos, 'sinalizando', claro, que é o que faria com o crânio
do cunhado cretino, não fosse isso matar Giulia, a sua irmã, de desgosto, com
o que, além de tudo,  sem o bolo de nozes que esta fazia, os natais nunca mais
seriam iguais - e natal, para o meu avô, era coisa muito séria; daí sua fúria.
    'Don' Angelo foi um homem de amores plurais; assim, amou intensamente,
enquanto viveu,  os netos e as mulheres - nesta ordem,  graças à qual minha
avó, 'Dona Pina', assim o definia: - "um péssimo marido, um pai severo e um avô
de conto de fadas" - e foi, mesmo, tudo isso, mas eu tive a sorte de ser neto...
    militar reformado, nunca foi rico, mas,  para os netos - e para as "ragazzas",
claro - jamais negou nada, nunca aparecendo para ambos com as mãos vazias
[e, no natal, essa característica era elevada à enésima potência].
    pelos netos, em dezembro, sossegava o "periquito", vivendo exclusivamente
para a família. ia ao banco, sacava todo dinheiro duma conta de poupança que
mantinha para o natal, na qual,  de janeiro a novembro de cada ano, 'pingava'
toda grana que conseguia economizar. pegava o seu Maverick - que, pra mim,
nanico como fui em criança,  parecia um iate -,  juntava os netos,  e íamos às 
compras - exceto as de nossos presentes, que essa era uma delícia toda dele.
   
    filho de um comerciante de frutas, secos e molhados,
 'Don' Angelo era um craque pra escolher as melhores e
 mais variadas frutas. pelo toque e pelo cheiro, sabia se
 eram, ou não, as mais deliciosas - idem para a escolha
 das azeitonas e do azeite [siciliano, sempre, e o cheiro
 deste nunca mais saiu de minha memória], bem como
 do cordeirinho a ser assado e do vinho a ser bebido [até
 pelas crianças, aos bocadinhos por ele, claro, servidos].
    comprávamos ainda todos os ingredientes para as massas e doces que Dona
Pina preparava em casa - até os 9 anos, nunca comi massa industrializada -, e
mais: velas, adereços para a árvore que ele montaria, tudo de necessário para
receber "os cavaleiros e a princesa de meu reino", referindo-se, respectivamente,
aos 4 netos e à única neta de sua corte muito particular - e tudo isso em troca,
acredite, de ouvir uma única e mesma palavra de cada neto à sua pergunta:
    - então: tutti bellissimo?
    - ecco! - exclamávamos, individualmente, a palavra mágica.
    e 'Don' Angelo,  depois de ouvir 5 ecco, com o seu rosto de homem mais feliz
do mundo, ensopava um dos finos lenços que adorava ganhar. italianíssimo...
    por aí, creio, dá para imaginar o que significou pra ele a babaquice do tal tio
Américo, à qual reagiu não só esmagando a noz, mas, faltou dizer, chamando-
me junto a si, colocando-me no seu colo e, com o maior sorriso, dizendo-me:
    - ei, piccolo Zorro, que cara é esta, hãn? no natal do ano que vem, EU vou te
dar a tua capa, a tua máscara, a tua espada, e mais: vou te dar o teu cavalo!
    - branco, vô?
    - ecco!
    - grande?
    - bem - e olhou em direção ao Américo, antes de responder: - mezzo. pode?
    - ecco!
    - ecco! - repetiu 'Don' Angelo, com um sorriso diferente no rosto.
    durante o ano, eu não pensava noutra coisa que não no cavalo que meu avô
me prometera. em outubro, comecei a ser preparado para a chegada do bicho -
e meu avô, com toda sua lábia, me convenceu de que ter um cavalo 'diferente'
era muito mais legal do que ter um cavalo igual a qualquer outro. concordei.
    num domingo, estava na casa de meu avô.  Palmeiras e São Paulo jogariam
uma partida decisiva,  e meu avô estava muito agitado,  nervoso. acendeu seu
cachimbo, colocou-me em seu colo, e me perguntou:
    - quem vai ganhar, Zorro?
    - o Palestra. de quanto, vô?
    - não importa. basta ganhar - e viva o Palestra!
    - viva!
    5 minutos de jogo, gol do São Paulo. o cachimbo de 'Don' Angelo foi ao chão.
toca o telefone, minha avó atende e passa o aparelho pro meu avô, dizendo:
    - é o Américo.
    o tio Américo era tão são-paulino, mas tão são-paulino, que, rico, comprara
uma mansão no Morumbi, para facilitar a vida dos amigos que tinha no clube,
nos dias em que fazia festas pra estes.
    meu avô, já esperando a gozação, atendeu.
    - alô. sim... sei... caspita! já disse que sei! fancullo! o jogo apenas começou -
bum! bateu o telefone, e exclamou: - e viva o Palestra!
    - viva! - acompanhei.
    10 minutos para acabar o primeiro tempo. falta a favor do São Paulo. Pedro
Rocha, se não me falha a memória, vai bater. tem, dizem, um canhão no pé.
    - vô, eu quero um canhão pra colocar no pé.
    - filho, fica quietinho. vamos torcer pra bola acertar o placar.
    - mas cê me dá um canhão pra colocar no pé?
    - dou, mas depois.
    gol do São Paulo. desta vez, eu - não o cachimbo -, é que vou ao chão, com o
salto que meu avô deu da cadeira, berrando palavrões, brigando com o locutor,
esquecendo-se de que eu estava em seu colo...
    - desculpe, filho. foi sem querer que o vovô fez isso, ouviu?
    - ouvi. me dá um canhão pra colocar no pé?
    - dou, mas amanhã. hoje é dia de torcer pro Palestra. e viva o Palestra!
    - viva!
    toca o telefone.
    - se for o filho da puta do Américo, diz que tô com a irmã dele, ligo depois.
    - alô - atendeu 'Dona' Pina, que foi logo dizendo: - Américo, se eu fosse você,
ligava mais tarde.
    - certo, Pina, mas fala pro Angelo não se esquecer do que...
    - Américo - interrompeu minha avó.
    - quê?
    - fancullo!
    começa o segundo tempo. 15 minutos de jogo, pênalti para o Palmeiras, que
Leivinha converte. toca o interfone, minha avó atende.
    - sim, claro. mil desculpas. obrigado. - diz 'Dona' Pina, que desliga o aparelho
e fala para meu avô: - o síndico pediu pra fazer menos barulho.
    - corintiano filho de uma puta, isso sim!
    mais 10 minutos, Ademir da Guia cruza para César Maluco, que, de cabeça,
empata para o Palmeiras. indescritível,  a reação de meu avô. toca o telefone -
desta vez, ele mesmo atende:
    - parla, cornuto! grita agora, fala agora! o quê? da onde? sim, e daí? fancullo!
    - quem era, o Américo? - quis saber minha vó.
    - não, o síndico do prédio vizinho.
    - e o que ele queria?
    - pediu pra eu fazer menos barulho, o corintiano filho de uma puta.
    São Paulo, preferindo levar a decisão pros pênaltis, se fecha na defesa, e o
jogo fica amarrado, mas o Palmeiras insiste em tentar resolver o jogo no tempo
regulamentar. Luís Pereira vem com a bola lá de trás,  da defesa palmeirense,
avança rumo ao meio-de-campo,  e, quando um são-paulino vem marcá-lo, ele
toca para Dudu, que toca de primeira pra Leivinha, que dribla um, dribla outro,
avança e toca pra Ademir da Guia,  que conduz a bola até a meia-lua com toda
a classe que lhe valeu o apelido de "Divino", corta um, desvia de um 'carrinho'
e, antes que 'Don' Angelo terminasse de mastigar o braço da poltrona, toca na
bola por baixo, esta encobre o goleiro e desce "lambendo" a rede, e o Palmeiras
vira o jogo. 3 a 2. faltando 1 minuto pra acabar, a torcida invade o campo. fim.
    sentiram falta de algo e de alguém? eu também, no dia, porque 'Don' Angelo
não comemorou o gol, a vitória, o título, nada... saíra de mansinho da sala, pra
falar no outro telefone. ao encontrá-lo, vi que falava baixinho com alguém.
   
    - era o tio Américo?
    - não, filho, era a vizinha japonesa.
    - e o que ela queria?
    - não sei, filho, eu não falo japonês...
    noite de natal. 'Don' Angelo,  animadíssimo,  entregando os presentes para
os netos. chega a minha vez.
    - e a mio piccolo Zorro... questo!
    qual prometera, 'Don' Angelo me deu a capa, a máscara e a espada do Zorro.
    - e o cavalo, vô? - cobrei
    - amanhã, na casa da tia Giulia.
    mal dormi, aquela noite. já de manhã, as horas pareciam não passar, nada
de chegar a hora do almoço. me distraí com os apetrechos do Zorro, e usei um
cabo de vassoura à guisa de cavalo, e 'cavalguei' e enfrentei inimigos até ser
finalmente chamado para o banho, que tava na hora de ir à casa de tia Giulia.
    fui vestido de Zorro, como recomendara 'Don' Angelo, para minha alegria, e,
lá chegando, tio Américo, com os seus cabelos brancos levantados de um jeito
muito engraçado, parecendo um moicano, ou parecendo ter uma crina, pegou-
me no colo, colocou-me sobre os seus ombros, e me disse:
    - muito prazer, Zorro! meu nome é Pangaré, e eu sou o seu cavalo. Vamos?
    e tio Américo saiu correndo pelo jardim enorme de sua casa, trotando e, eu
não entendi porque, gritando "Palestra, Palestra, Palestraaa!!", mas me diverti,
achando até melhor que um cavalo de verdade, que não gritaria "Palestra"...
    eu o cavalguei por uns 5 minutos, até que meu avô veio, me tirou do ombro
de tio Américo, e disse:
    - pronto, filho. depois você anda mais a cavalo.
    - mas, vô, tava legal...
    - dopo, filho, dopo. eu prometo. eu sou de não cumprir o que prometo?
    - não.
    - ecco! e você, Américo, vá se arrumar, vá.
    - mas...
    - caspita! vá se arrumar, que seus netos chegaram, porca miséria!
    - olha, depois não venha me dizer que eu não paguei a...
    - Américo,  vá se arrumar pra receber seus netos! que prazer você tem em
deixar crianças tristes, dio santo!
    na hora, fiquei injuriado, mas 'Don' Angelo, esperto, me distraiu rapidinho,
retomando aquela conversa sobre comprar um canhão para o pé, e aí, claro, o
"cavalo" não importava mais.
    tempo depois, já crescidinho, ele já morto - 1982 -, é que pude, finalmente,
entender a dimensão emocional de 'Don' Angelo, "péssimo marido, pai severo e
um avô de conto de fadas". era mesmo. inclusive para netos que não os seus.
   
    ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ pz ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~



Marcelo Carota é jornalista, escritor, zineiro, paulista e palmeirense. 
Mora em Brasília/DF e se auto-denomina um caipira punk.

Texto editado originalmente em 19/12/2007 na Pirata Zine (zine eletrônica), edição 107, ano 4.








Boas  festas e um ano novo com muito humor, saúde e alegrias pra tod@s!


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

trans.bordado


    eu vi
    a borda da lua                                                                                                                  
                             tran
                                    sbo 
                                         rda 
                                           ndo))
                                                 ((f
                                                  i))
                                                  ((o
                                                  s))
                                                   ((e o céu desabotoado
                                                      anoi
                                                      tecendo
                                                                 bordado

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

sábado, 8 de dezembro de 2012

museu de cera

ser é tudo que poderia 
ser plenitude
é tudo que é tudo
quietude 

zen

ser é tudo recém
sino pequenino 
de belém

ser é tudo 
que será mudo

no mundo
cera é tudo
que resta

:p

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

azul


há um blues tocando ao sul
de um azul da cor de seus anseios

há um sol tocando o céu

de seus gestos tão calejados

há um gesto quase macio 

no meio dessa encruzilhada

há um blues no seu olhar

um azul no céu, um sol ao sul

há um azul, turquesa e terno

na inquietação dos lábios

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

um cheiro


sinto falta de odores
talvez um jarro de flores
em minha mesinha, anulasse essa ausência

gosto de cheiro que carrega lembranças
mas me intriga não lembrar o teu...
preciso te cheirar mais um pouco
inventar um perfume carregado de ti
de nós, de nossa alcova

enquanto isso, leio Anna Akhmátova  
e contento-me (há dois dias)
com esse cheirinho de livro novo

sábado, 1 de dezembro de 2012

lembrando nós dois


hoje você bem que podia
me chamar pra sair, pra trepar
eu bem que podia
hoje amanhã depois
te roubar um beijo
te chamar pra sair
me exibir nua no espelho, trepar

você dizendo que eu me transformo
noutro ser quando dou meu lado b
você sem grana mas fazendo questão
de pagar o motel
(tão bobo esse seu lado machista)

hoje a gente bem que podia
mas você já voltou pra São Paulo
e eu te falei que vou torcer pra tudo dar certo

só não esqueça que a minha saudade lateja e molha, tá?


sexta-feira, 16 de novembro de 2012


não é nada que se possa chamar de lindo
é mais uma busca de algo que se perdeu
acho que nem nasceu

o sentimento em mim é verde
e o sentido não tem nome, nem cor

passo batom 
lápis nos olhos pra ampliar esse meu olhar
que é miúdo
e as unhas curtinhas são "vermelho love"

taí
se não fosse pelo vermelho 
eu adoeceria


suave


qualquer espaço
ao vento, ao mar
no ninho, na pedra
na pétala
é suporte pra desenhar
a vida, o verso 
o poema a mil
ao sopro da brisa leve 
que traga o sabor 
dos olhos 
de quem espreita
va ga ro sa men te




quinta-feira, 15 de novembro de 2012

a plumas penas


poesia se faz
botando a mão
junto do osso
com a mão e o torso

poesia se faz de graça
por obra e garça
no voo de plumas 
e penas

poesia se faz
apenas

terça-feira, 6 de novembro de 2012

felice!


"A felicidade não existe mas nós podemos ser felizes sem ela"
frase do ator do Circo Teatro Giullari no Festival de Circo do Brasil


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

quinta-feira, 1 de novembro de 2012



su posição
         no es
              mi posição
              mi posição
                             es
                              imag
                                     inação
         ... :p

terça-feira, 30 de outubro de 2012

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

tocando em miúdos



capa da coletânea

Toc 140 é uma coletânea de poesias editadas no twitter que, como o próprio nome sugere, não podem ultrapassar 140 toques (o máximo que o twitter permite), incluindo os espaçamentos e barras exigidos para separar os versos. O livro será lançado na Fliporto - Festa Literária Internacional de Pernambuco - no dia 18 de novembro, em Olinda. E... tchan-rã!!! ... Tem um miúdo meu lá :p
Eis o poeminha que, inclusive, já havia publicado aqui, no refúgio:

2 tempos
em repouso
dor surda
em movimento
muda

No twitter ficou assim: 2 TEMPOS // em repouso / dor surda / em movimento / muda

PS: Quem quiser conferir os 100 poemas do toc 140, espia aqui.



quinta-feira, 11 de outubro de 2012

das pequenas coisas que me importam


fiapos e trapos são coisas que me interessam
tudo que se esgarça, que se desgasta
coisas - e gente - que envelhecem, sinais, manchas, rugas
sinais do tempo que passa...
papéis manchados, corroídos, amarelados
fotos em sépia
madeira sem verniz, tijolo aparente, parede no emboço, caiada
gosto das coisas sem acabamento, inacabadas 
assim como gosto de rascunhos e rabiscos
aliás, rabisco é feito fiapo, um fio tênue que acaricia a pele pálida do papel...

gosto dessas coisas que se rejeita, do refugo, da migalha
gosto do "mal feito" e gosto do maltrapilho
gosto das imperfeições, que me parecem mais sinceras e, por isso, mais belas
gosto do erro e do tropeço
da costura pelo avesso
gosto, gosto muito, do outono das coisas

(plena primavera e eu aqui de outono...)



domingo, 7 de outubro de 2012

Kitty, Daisy & Lewis

Descobri este trio no blog do jornalista Luís Nassif.
Trata-se de três irmãos ingleses (duas moças e um rapaz) que fazem um som com referências retrô (leia-se: rockabilly, swing, country, rhythm and blues, ska...).
Gostei e fui atrás de outras músicas e vídeos do trio. Delicia!



terça-feira, 2 de outubro de 2012

memórias de porcelana


Lembro do talco no colo e cangote da minha que ela usava quando saía do banho. Minha se ninava antes de dormir balançando na rede. Fazia isso falando sozinha. Mais tarde descobri que era pai nosso, ave maria...

---

Porcelana antiga das xicrinhas da minha lembra tempos remotos, quando a delicadeza morava até nos armários mais rudes.

---

De tempos em tempos meus ancestrais aparecem de nuvem. 
Guardo todos eles na cabeceira do céu e, à noite, as estrelas me contam seus pecados e virtudes, só para lembrar que sou herdeira desses mesmos pecados e virtudes. 
Esse milagre que de tempos em tempos me alivia, funciona mais que reza, mais que oração.

---

Tenho um fraco por olhos que me aninham.



quinta-feira, 27 de setembro de 2012

miudezas


asa é de passarinho -
gente voa de sonho

#


bicho também sente -

se sonhar é gente

#


no meu molhado você chove de língua


#



teço o invisível em busca da delicadeza
do moído, do miúdo, do puído

seja lá o que for isso
no fundo, o silêncio
é um pouco ruído

#

invento pra me saber



quarta-feira, 19 de setembro de 2012

quarta-feira, 12 de setembro de 2012



talvez escreva um poema mudo
talvez fale profundo
a última chuva que salva a lavoura
o mesmo choro me salva do mundo
talvez tchibumbo




segunda-feira, 10 de setembro de 2012

o capital é o demo!


Uma colega de curso comentou comigo que a sonoridade da expressão laissez-faire (do francês: deixai fazer) era a mesma da palavra Lúcifer. Na hora não concordei. 
Hoje descobri (na Wikipédia) que a expressão é símbolo do liberalismo econômico, de que o mercado deve funcionar sem interferência, livremente.
Comecei a pronunciar laissez-faire repetidamente até pronunciar Lúcifer... Acho que minha colega tinha razão.


sexta-feira, 7 de setembro de 2012

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

sábado, 4 de agosto de 2012

sim, também sou brega!

Gente, eu sei, é brega mas eu gosto desta música, até já decorei o refrão: (...) chora me liga me implora me beija de novo, me pede socorro, quem sabe eu vou te salvar. Chora me liga me implora pelo meu amor, pede por favor, quem sabe um dia eu volto a te procurar (...). Este blog tá virando esculhambação...rs... Urruuu! Nóis sofre mas nóis goza!

sábado, 7 de julho de 2012

La Tabaquera


La Tabaquera é uma festa a que nunca fui mas, pelo som que rola, deve ser muito boa!

Produzida pelos músicos pernambucanos Alessandra Leão e Rodrigo Caçapa, a festa é dedicada a músicas do Caribe, América do Sul e África, com edições na cidade de Recife, Fortaleza e São Paulo.

Com o objetivo de divulgar as músicas dessas regiões, os músicos produziram mixtapes com fonogramas fora de catálogo ou de difícil acesso.

Além deste mixtape com músicas de Angola e Congo, aqui você pode encontrar muito mais!Vale uma espiada!

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Viva São João!

As festas juninas chegaram e ele voltou! Pra quem não baixou ano passado, taí: o maior podcast junino do Brasil! É a simulação 'Rádio Gigante' com mais de 5 horas de pesquisa! Muito forró, baião, rojão, xote, cantoria, rabeca, samba de latada, xaxado, pife, quadrilha, causos, breaks comerciais divertidos e originais, e tudo o mais de antigo e contemporâneo! Perfeito para longas viagens, rádios-postes ou para você que não que ter o trabalho de ficar passando música no tocador e perder a dama no rala-bucho! Compartilhai, divulgai e baixai! É tudo vosso! Viva, São João! (texto do soundcloud de Jr.Black).


terça-feira, 12 de junho de 2012

mercado de carbono: mais um engodo dos donos do capital

desenho de Quino



O mercado de carbono surgiu durante a ECO-92 no Rio de janeiro e foi oficializado no Protocolo de Quioto em 1997 com a finalidade de reduzir a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa.

Funciona basicamente assim: uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) vale um crédito de carbono, desta forma as indústrias que menos poluem acumulam créditos de carbono que são vendidos - como se fossem ações da Bolsa - a indústrias que continuam poluindo. Ou seja, comprar créditos de carbono corresponde a comprar uma permissão para continuar emitindo GEE (gases do efeito estufa). 


Trata-se de um sistema de compensação que não diminui a emissão de gases porque, para cada indústria que não polui (ou polui menos) tem outra que polui o equivalente ao excedente da redução de emissão daquela indústria menos poluente.


Resumindo, esse Mondo Capital e sua "economia verde" só quer a sustentabilidade dos seus lucros. 


Para saber mais, inclusive sobre a nefasta mercantilização dos recursos naturais, acesse o sítio da Cúpula dos Povos, evento organizado pela sociedade civil mundial que acontecerá paralelamente a Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.


sábado, 9 de junho de 2012

Recife Frio...


Imagine uma cidade quente-úmida, com temperatura média anual de 26°C, com um mar de água quentinha (e alguns tubarões...), céu azul de verão e que, de repente, em questão de minutos, torna-se fria, com temperatura variando entre 4°C e 15°C. Um fenômeno supostamente causado pela queda de um meteorito numa praia durante um luau...

Esse é o mote do curta-metragem Recife Frio do jornalista, crítico de cinema e cineasta pernambucano Kléber Mendonça Filho. Uma ficção nonsense cheia de humor e crítica social. Para tornar o causo verossímil, Kléber lançou mão da idéia de fazer do curta uma pseudo-reportagem realizada por uma TV argentina sobre a estranha mudança climática de Recife. Isso me fez lembrar imediatamente, logo nos primeiros minutos do filme, de Orson Welles e sua transmissão radiofônica A Guerra dos Mundos, que relata uma falsa invasão marciana na Terra.

O história de Recife Frio poderia estar ambientada em qualquer outra cidade quente do Brasil, pois os males sociais das cidades brasileiras são os mesmos. Quem é recifense delicia-se de maneira especial com o filme porque há referências à cidade que só a gente conhece como, por exemplo, duas torres de apartamentos de luxo muito criticadas por urbanistas e uma parcela crítica da população, por terem sido construídas num local inadequado, interferindo negativamente na paisagem da cidade. No filme, essas duas torres aparecem grafitadas - sonho de qualquer grafiteiro e de quem tem vontade de implodi-las mas não pode... Ou o letreiro luminoso no prédio da prefeitura que diz : "a grande obra é aquecer as pessoas", uma brincadeira com o slogan da prefeitura: " a grande obra é cuidar das pessoas". Além disso há no filme outras situações bastante cômicas pelo absurdo que retratam, como o aparecimento de pinguins numa praia onde se esperava encontrar golfinhos!

Recife Frio tem qualidade técnica e artística impecável. Foi exibido, ovacionado e premiado no Festival de Brasília -2009 (melhor filme, direção e roteiro) e de lá pra cá já recebeu mais de 20 premiaçãoes em vários festivais. Perdi algumas oportunidades de assiti-lo mas este ano Kléber Mendonça Filho disponibilizou o curta no youtube! Fiquei bem feliz, adorei o filme e decidi compartilhar com vocês. O filme tem pouco mais de 20min. Não deixem de assistir quando tiverem um tempinho. (Texto meu reeditado).

domingo, 3 de junho de 2012

Há Tempos...

Assistindo a um especial da Legião Urbana, um showzaço na MTV com Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá, Wagner Moura (no vocal) e participações especiais de Fernando Catatau (Cidadão Instigado), Bi Ribeiro (Paralamas), entre outros...

É incrível como as músicas da Legião com as letras do Renato Russo ainda me tocam fundo. Fico emocionada mesmo. Bateu uma saudade danada, até cantei e dancei sozinha na sala, rs...Daí resolvi postar o clip de uma música. Foi difícil escolher: são tantas da Legião que eu amo. Bem, fiquei com Há Tempos por fazer parte do repertório do disco As Quatro Estações: único show que vi da Legião, na década de 90 do século passado, no estádio do Palmeiras, em Sampa. Foi emocionante, inesquecível!

Eita que a vida passa rapidinho, parece até que foi ontem..

 

domingo, 6 de maio de 2012

Lua mais próxima da Terra...

moçada, lua cheia é lindo demais mas vi essa tirinha e não resisti...rs...


sou romântica, não nego, mas meu humor sarcástico tá no meu DNA, herança paterna...

sábado, 28 de abril de 2012

todo dia é o fim do mundo



Pra quem não conhece, Lula Queiroga é um dos parceiros musicais de Lenine (que imagino que tod@s que me leem conhecem). Compositor dos melhores, Lula acaba de lançar seu quarto álbum: Todo Dia é o Fim do Mundo. Ainda não ouvi o disco, só a faixa-título, que adorei!

Segue um texto - excelente, por sinal - do próprio Lula.


LULA Q POR LQ

A ideia base deste novo disco: Todo dia é o fim do mundo nasce de uma pergunta besta que sempre me assolou o pensamento. Como a raça humana conseguiu chegar até aqui? Se somos tão frágeis, se nascemos tão dependentes? A resposta seria Darwiniana: adaptando-se. A qualquer circunstância. Morrendo e nascendo mais resistentes. Insistindo e perseverando por instinto. Vingando, no sentido matuto e épico da palavra. Como um cacto no deserto hostil. Aí veio a era industrial, a urbanidade desordenada. A necessidade de sobreviver no caos. Do corpo e da mente. A grande odisseia humana em busca da felicidade. O fim virá para todos. Mas não como extinção imediata e datada da vida na terra. Porque não se trata de oráculos bíblicos, previsões fatalistas, Nostradamus, colisões meteoríticas, derretimento dos pólos. Não. Todo dia é o fim do mundo é sobre o apocalipse diário, o pequeno drama cotidiano, vivido de sol a sol, de chuva em chuva, de fome a fome, de coração a coração. É a respeito dos sobreviventes do cataclisma pessoal de cada instante. Dos heróis anônimos que têm que matar um leão a cada dia. E que no dia seguinte acordam para enfrentar tudo de novo. Da vida à deriva. Dos que se refugiam na loucura pra atenuar a falta de norte. Dos que perdem e dos que vencem momentos. E que de uma forma ou de outra, como mariposas, caçadoras de luz, conseguem encontrar, mesmo efêmera, a fagulha fátua da alegria e da divindade. Para mim, dar forma sonora e consistência a esse conceito chave, virou um mergulho. Aprendi , ano passado com Ronaldo Fraga mestre no quesito: arte é imersão. Musica é deixar afundar no redemoinho. Daí, com a companhia de Yuri, Lucky Luciano, Tostão e Paulo Germano, entramos no estúdio aqui da Luni, em Recife e começamos a procurar as melodias para as vozes, o timbre para cada fonte sonora. Tocando e compondo ao mesmo tempo. Ocupando os vazios, valorizando pausas. Envolvendo a canção com casulos harmônicos. Lembrando outras que já existiam. Antecipando mixagens. Perseguindo o que ainda não existe. Tomando sempre o cuidado de nunca sucumbir ao meramente sombrio. Porque a simples menção do fim do mundo pode ser uma armadilha.
Todo dia é o fim do mundo é um disco com 12 faixas quase coladas umas às outras. A ordem original não surgiu ao acaso. Mas como toda ordem pode ser descumprida ao gosto randômico de cada um. Até porque são músicas que independem umas das outras.