segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Esperança - Mário Quintana


Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

in "
Nova Antologia Poética", Editora Globo - São Paulo, 1998.

Boas Festas e um 2012 Feliz para tod@s nós!




quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

qualquer semelhança não é mera coincidência





Em Jack-Ass, Beck, músico estadunidense, sampleou, exatos 30 anos depois, o lindo arranjo da versão de It's all over now, baby blue (música de Bob Dylan) da banda de Van Morrison, Them (1966).

Conheci a música de Beck primeiro. Vi no encarte do disco (Odelay) que tinha sample da música de Bob Dylan mas quando ouvi o original não o identifiquei, claro! O sample era da versão de Van Morrison que ouvi  pela primeira vez quando assisti Basquiat, filme sobre a vida de Jean-Michel Basquiat (1960-1988), artista estadunidense. Interessante é que o filme sobre Basquiat é do mesmo ano do disco de Beck, 1996.

Adoro as duas músicas! Não, minto, gosto mais de Jack-Ass, de Beck. E samplear, ao contrário do que muita gente pensa, é coisa de quem tem informação, cultura, criatividade e sensibilidade. Como diria Pablo Picasso: "Bons artistas copiam, grandes artistas roubam!" (a exclamação é minha).

PS: Samplear é o ato de utilizar trechos de registros sonoros em um nova composição. O nome deriva da palavra sampler, equipamento que armazena sons e os reproduz posteriormente. E sample é o próprio som armazenado pelo sampler.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

sobre o almanaque 68

Moçada, quando anunciei aqui n'o refúgio a criação do meu outro blog, Almanaque 68, avisei que lá não tinha espaço para comentários. De fato, o tumblr  não vem habilitado com espaço para comentários.

Depois descobri, visitando outros blogs tumblr, que havia a possibilidade de instalar um sistema de comentários de terceiros habilitando o blog a receber comentários. Mas achei muito complicado porque pensei que tivesse que mexer no código html do tema.

Hoje descobri como se faz. E o blog já se encontra habilitado a receber comentários.

No mais, sejam bem-vindos mais uma vez ao almanaque 68! Meus desenhos são apenas meus desenhos, nada demais mas são divertidos e coloridos. E também tem artes de outros e música e vídeo e... ah, só indo lá  :D

Beijos & Abraços!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

animação franco-russa

Lindinha lindinha. Já tinha posto lá no meu almanaque 68 e agora resolvi trazê-la pra cá.



Aleksandr (english subtitle) from Aleksandr Team on Vimeo.
http://www.aleksandr-lefilm.com/
Directed by Rémy Dereux, Maxime Hibon, Juliette Klauser, Raphaëlle Ranson and Louise Seynhaeve.


©SUPINFOCOM Valenciennes

Musique originale de Sarah Steppé (http://www.myspace.com/tarabisko)
et Marti Melia (clarinettes)



quarta-feira, 9 de novembro de 2011

a força da delicadeza - pitangueira em flor mallu


Olha que eu ando ouvindo um bocadinho o último do Junio Barreto mas o que tá me dando muito mas muito prazer meeesmo de ouvir é Pitanga, terceiro disco da Mallu Magalhães. 

Há quem torça o nariz pra essa moça que começou em estilo bem folk, a la Dylan, até no jeito de cantar. Mas ouvidos sensíveis reconhecem, desde o início, seu talento em compor belas harmonias, ainda que sua voz seja de pouco alcance. Mas de que adianta tanta voz quando não se sabe o que fazer? A Mallu, agora mais velhinha (19 anos) sabe o que faz e faz com sinceridade. Sua música e jeito de cantar e tocar (a moça é multi-instrumentista) são de uma delicadeza comovente - bem verdade ando numa fase um tanto emotiva mas que Pitanga é um disco delicioso de ouvir, não tenham dúvida.

Produzido pelo namorado, Marcelo Camelo (ex-Los Hermanos). Pitanga tem lindos arranjos ao piano, violão, banjo, flauta, clarinete, ukulele (guitarra havaiana), entre outros, e  percussão/bateria estão na dose exata. É certa a influência de Marcelo neste trabalho. Nada mas natural, não apenas por Marcelo ser 14 anos mais velho mas também por suas vidas estarem amorosamente entrelaçadas. Entretanto Mallu, com sua aparência de fragilidade, tem personalidade de sobra e uma maturidade musical rara entre moças e moços da sua idade. Como se não bastasse a moça também tem dotes pras artes: as ilustrações em aquarela do encarte do disco são todas dela.

Segue uma das faixas do disco: Por que você faz assim comigo?
Se possível ouçam em estéreo pra ouvir melhor as nuances e texturas dos arranjos.




domingo, 6 de novembro de 2011

A poesia de Junio Barreto




Creio que poucos conhecem a música de Junio Barreto, esse caruaruense de 47 anos que acaba de lançar seu segundo disco, Setembro.

Aproximadamente seis anos separam este disco do primeiro, sobre o qual já falei duas vezes aqui no blog (http://dimensaosalvadora.blogspot.com/2007/03/belssimo-cd.html), de tanto que gosto, seja pelas músicas,  pelas letras, ou a voz do próprio Junio, um cara tranquilo que compõe sem pressa e com muito esmero. Daí o tempo que ele leva para lançar seus discos.

Há um cuidado maduro e apuro musical nas canções. E as letras, sempre poéticas, transparecem sua influência confessa de João Guimarães Rosa e Manoel de Barros

Lenine, Gal Costa e Maria Rita, estão entre os/as artistas que já gravaram suas músicas.

Segue a letra (poesia pura) de Setembro, faixa-título do disco que vocês podem ouvir logo abaixo. No site do Junio Barreto, vocês podem ouvir e baixar o disco inteiro!

PS: pra quem não sabe, caruaruense é quem nasce em Caruaru, município do agreste pernambucano.

Setembro
letra: Junio Barreto
música: Junio Barreto, Pupillo, Dengue, Junior Boca

TEU CORPO LUAVA OURO 
NOS BANHADOS QUE CHUVINHA FEZ

NAS LAVADAS QUE RAMALHA FLOR 
NOS SETEMBROS DE CHEGAR

TU REINAS VASTA NAS CHEIAS DE CADA MARÉ 
TU RAIAS DO CÉU QUE ENFEITA A MANHà
ÉS FLECHA SOLTADA DO AROMA DA MATA 
CLAREIA DOS OLHOS, CANDEIA MEDONHA

JARDIM ELÉTRICO, PELO PEDRADO DA RUA 
VENS DOCE BELA, BEM VINDA 
NA MINHA CASINHA MORAR 
VENTO NO ESPAÇO, NA RODA DO SEU VESTIDO 
LÍQUIDA, BANHA MEU RIO QUE GIRA E DESTINA PRO MAR. 



 

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

depoimentos de quem sabe a diferença que faz o SUS

O meu tratamento custaria algo em torno de R$12.000,00 por mês. Isso mesmo: 12 mil reais. “Custaria” porque eu recebo os remédios pelo SUS. Sabe o SUS?! O Sistema Único de Saúde? Aquele lugar nefasto para onde as pessoas econômica e socialmente privilegiadas estão fazendo piada e mandando o ex-presidente Lula ir se tratar do recém descoberto câncer? Pois é, o Brasil é o único país do mundo que distribui gratuitamente o tratamento que eu faço para Esclerose Múltipla. Atenção: o ÚNICO. Se isso implica em uma carga tributária pesada, eu pago o imposto. Eu e as outras 30.000 pessoas que tem o mesmo problema que eu. É pouca gente? Não vale a pena? Todos os remédios para doenças incuráveis no Brasil são distribuídos pelo SUS. E não, corrupção não é exclusividade do Brasil.

Nina Crintzs

***


"cé tschir meer - Um cara de 39 anos cuja vida foi salva pelo SUS, através de uma cirurgia de emergência para tratar de uma diverticulite perfurada. O SUS também me deu bolsas de colostomia de graça, por um ano. As bolsas eram de primeira qualidade, nem sei como agradecer, a não ser pagando meus impostos com muita satisfação."



César S. 

Ambos depoimentos colhidos do blog  Animot



E eu acrescento: minha mãe que sofre de Mal de Alzheimer recebe gratuitamente medicamentos pelo SUS, medicamentos que não teríamos condições de comprar...
Ainda: quando sofri um ACV em 2002, precisei realizar vários exames de ressonância magnética. Quantidade de exames que o plano particular não cobria... Mas pelo SUS consegui!



terça-feira, 1 de novembro de 2011

Poemas de Henrique Pimenta

in Bar do Bardo


estrelato

queria fazer "O" poema contemporâneo
um minúsculas
dois ausência de pontuação
três um dois três leitores

para aparecer numa revista digital
pediriam foto 
minibiografia


***

passeio vespertino

um passeio para a nossa tarde
um evento na antiga estação de trem

lírios orquídeas mimosas
as flores de holambra
e plantinhas e arrebiques
um gosto de infância
no quintal

havia bastante gente idosa lá

vimos tocamos entrelaçamos dedos passeamos passeamos

bonsai tuia
dezenove e noventa
sim compramos e saímos felizes

os primeiros cem anos são meus
o resto tu cuida
amor


quarta-feira, 19 de outubro de 2011

outro filhote virtual

Moçada, criei outro blog, chama-se 


Nada de mais. Apenas resolvi separar textos de desenhos e artes em geral. O refúgio sempre foi uma misturança. A idéia é manter o refúgio com poesias e outros escritos. E no almanaque, meus desenhos e artes de outros. Mas isso não impede que, eventualmente, não publique desenhos aqui e textos lá. E os sons também vão rolar no almanaque. 
Bem, acho que o novo blog vai ser mais uma misturança... (com o nome "almanaque", nem poderia ser diferente).
Sintam-se convidados/as. Lá não tem espaço para comentários mas vale uma espiadinha ;)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

lacrima



até parece doçura
quando inclino meus olhos rasos
e declino em lágrimas 
essa dor pungente
:
mas é tão somente 
meu espetáculo
escorrendo pela tangente
:
faz parte do meu choro
lamber tristeza
no canto dos lábios



domingo, 16 de outubro de 2011

tweets e facebookeanas do poeta Lau Siqueira

in @LauSiqueira


Nasce o dia e vamos pra luta. Todo dia é dia de reinventar o mundo. Bom dia!
**
Se quiser conhecer um poeta de frente, veja o verso.
**
Alguma pessoas se dizem "do bem", mas são apenas "do DEM".
**
Poesia é uma verdade que todos sabem ser puro fingimento.
**
poesia no haiku dos outros é repente.
**
De tanto deletar maus poemas, penso que um dia ainda publico minha Sobras Completas.
**
Não Adorno minhas idéias com qualquer filosofria.
**
Quando estou apressado a primeira coisa que perco é o tempo.
**
Vai começar o tempo das decisões: outubro ou nada.
**
Existem, certamente, muitos pontos de vírgula sobre o mesmo assunto. A verdade pode até ser pontual, mas não pode ser pontuada.
**
Antes Sol que mal iluminado.
**
poesia é matemágica.
**
...e livrai-nos de todo lau, amém. Boa Noite!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A poesia da filha do poeta

Musical - arte de Martha Barros  


Já conhecia a arte da Martha Barros através das ilustrações/pinturas do livro de seu pai, Memórias Inventadas - As infâncias de Manoel de Barros. Mas só ontem fui atrás de algum site que tivesse seu trabalho. Acabei encontrando seu site oficial. E mais uma vez me encantei.


A Martha faz uma pintura muito espontânea, como desenho de criança. Mas não se enganem os defensores da pintura realista. Ainda que espontânea, há um trabalho de composição e de uso de cores, um trabalho movido à intuição e sensibilidade. Como bem diz o texto de apresentação da artista, sua pintura lembra as vanguardas do início do século XX, a arte de Paul Klee, Marc Chagall, Wassily Kandinsky e Joan Miró. Artistas que se desvencilhavam das amarras do realismo, do objeto real, do racional e mergulhavam no sonho e no imaginário. Dá gosto de olhar!


É também notória, em sua arte, a influência da poesia de seu pai. O lúdico, o gosto pelas coisas pequenas, as insignificâncias dos trapos e dos sapos, estão lá presentes, em formas, traços e cores. Como diz o próprio Manoel de Barros:


“Ela faz metáfora de pássaros, de peixes, de conchas, de sapos. E muitas descoisas. Imagens trazidas por rastros de suas memórias afetivas. Martha não copia a natureza, ela desfigura os seres e as coisas”. 


A arte da Martha é jovial e rejuvenescedora, tem a inocência e a despretensão da infância, é sonho e poesia!
Quem quiser conhecer mais basta visitar o site linkado acima.



cadê meu pianinho que tava aqui?



Quando uma banda é boa faz até Música de Brinquedo!
É Primavera!
E viva as crianças! As de fato e as que moram dentro da gente :)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Pontual (Tulipa Ruiz)



Ainda não tinha ouvido nada dessa moça. Só a conhecia de nome. Hoje ouvi essa música na Híbrido Rádio e não resisti... :)

infância no mato


gosto mais de brincar que ser gente de siso
tenho mais de criança, de nuvem...
enquanto chuva, me faço rega.
terra molhada tem cheiro bom
todo mundo gosta, criança gosta.
deito na grama úmida, adormeço
acordo amanhecida de pétalas, lambida de sol.
na pele guardo o orvalho fresquinho.
no banho de bica a rã fria pula mais alto que minha bunda.
gosto mais dos embuás com suas tantas perninhas, fazendo cócegas na palma da mão
e à noite descobrir vaga-lumes, esses espiões camuflados de luz.
subo na árvore mais amiga - árvore amiga é aquela que tem muitos braços abertos dentro do céu -
sempre sonhei com casinha na árvore entre galhos e folhas de olhares brecheiros
mas fiquei contente com o balanço de corda e madeira
e voei sonhando passarinho.
bem sei que algum dia me refloresço criança
até beijar colibris dourados
até mijar margaridas azuis



(junho/2010)

sábado, 8 de outubro de 2011

a gente não quer só ipod, a gente quer (e pode) fazer outro mundo

ÚTIL/INÚTIL - arte com efeito de computação gráfica

O noticiário recente sobre a morte do presidente da Apple Inc., Steve Jobs, me trouxe preocupações que, na realidade, nunca me abandonaram. Preocupações que tem a ver com a sociedade moderna e seu consumismo exacerbado.

Acho muito bacaninha esses ipods, ipads, iphones mas, sinceramente, estão longe de fazerem parte dos meus sonhos de consumo. Na verdade, nem tenho tantos sonhos de consumo assim. E quando se trata de tecnologia, sou ainda menos ambiciosa.

Que desde já fique claro que não tenho nada contra a tecnologia, se tivesse não teria computador, nem blog, nem twitter. Adoro essa invenção dos podcasts pra baixar e ouvir música. Efeitos de computação gráfica no cinema e nas artes em geral, bem como efeitos eletrônicos nas músicas, gosto, gosto muito. Tem  ainda os gifs, que são aquelas imagens animadas, muito presentes na web, que também acho muito divertido.

Não, a tecnologia não me incomoda, de modo algum, ela já faz parte das nossas vidas e a considero muito bem-vinda. O que me incomoda mesmo é a valorização desmedida da tecnologia em detrimento da educação e de outros valores humanos. A sociedade de consumo diz que precisamos disso e daquilo. A publicidade nos bombardeia diariamente com mensagens, subliminares ou não, seja na televisão, na web e noutras mídias. Vejo pessoas com seus supercelulares nas mãos e nenhuma ideia na cabeça. Existem exceções, claro. Tenho amigos apaixonados por tecnologia mas criativos, inteligentes e informados.

Todos esses produtos - PC, ipad, ipod, tablets, etc -  frutos da tecnologia da informação, foram inventados para facilitar, agilizar e democratizar o acesso a mesma. Mas acho (não sou da área educacional para fazer afirmações) que são mal utilizados na educação e na formação de novos criadores, gente que pensa, critica, inventa e principalmente, que sente. Certamente existem iniciativas neste sentido mas são exceções à regra.

A questão é que não basta ter acesso a informação, é preciso saber o que fazer com tanto conteúdo informativo, daí a importância da educação mas não essa educação na qual as pessoas apenas acumulam conhecimento mas sim ser educado com espiírito crítico e criativo. Na verdade o conhecimento só acontece, de fato, com espírito questionador.  Mas infelizmente somos educados apenas a reproduzir o que já existe e não a criar algo novo, pensar diferente.

Bem, não pretendo me estender mais.

Resumindo: não adianta investir tanto em tecnologia sem investir em educação de qualidade. Sem educação nada muda, nem as pessoas, nem o mundo. Sem uma boa educação, uma educação cidadã, dificilmente as pessoas vão repensar os valores da nossa sociedade, principalmente os valores consumistas. Sei que não estou dizendo novidade. Este texto é só pra lembrar pois essa luta é antiga...

PS1: o título desta postagem é uma paráfrase (bastante utópica, eu sei...) dos versos de Comida, música dos Titãs.
PS2: vale ler um lindo conto no blog da minha querida Vais, que critica, de modo mais poético, nossa sociedade de consumo.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

chão e água


numa noite chuvinha
invento você e eu: chão e água
absorvidos um no outro
nessa cama desarrumada


hoje amanheci de sol
e cheiro de terra molhada




segunda-feira, 3 de outubro de 2011

meu samba



madrugada de seda -
concebo um verso de sebo
tão samba e tão cedo
amor.tecido
nos dedos




quinta-feira, 29 de setembro de 2011

das paredes

paredes aceitam, relutantes, pregos e quadros
mas aceitam de bom grado olhares perdidos
***
sempre dou olhos e ouvidos às paredes, 
evito dar voz: paredes guardam segredos
***
um passatempo de infância:
descobrir o esconderijo das formigas que andam pelas paredes
***
um passatempo romântico:
gastar paredes com sonhos de amor
***
traças que percorrem paredes 
sabem mais da eternidade
que o próprio tempo
***
tenho tanta intimidade com as paredes
que só de olhá-las
já sei o que estou tramando

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

alvorada


derrubadas a machadadas
vão-se as sombras

quando arvora a arvorada
sol me resta
arvore
         cer


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

inútil

esse poema nasce
apesar de


nasce porque insiste
não sabe a que veio
mas em meio a dúvida 
existe


não pulsa não bate 
nem combate
nasceu de inutilidade


esse poema existe
apesar de 


não é carne não é osso
o que canta o que sente
não ouço

domingo, 25 de setembro de 2011

No Olimpo - Nação Zumbi


"Todos os dias nascem deuses
Alguns maiores e outros menores do que você
Todos os dias nascem deuses
Alguns maiores e outros menores do que você
Esse é o alvorecer de tudo que se quer ver
Sem fazer sombra na melhor hora do sol
Eternidade duradoura com sossego então
Melhor que fique assim
Todos os dias nascem deuses
Alguns maiores e outros menores do que você
Todos os dias nascem deuses
Alguns maiores e outros menores do que você
Essa é a janela dos outros em ação
Beijos explodem como bombas ao anoitecer
Brinquedos avançados acendendo o som
Não estaremos dormindo
Todos os dias fazem deuses
Alguns melhores e outros piores do que você
Todos os dias fazem deuses
Alguns melhores e outros piores do que você"

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

constatações

amor que inspira
passa o tempo
e não expira


---


às vezes tenho uma leve ideia de quem sou
mas apenas uma breve ideia
nada mais que uma grave ideia

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O Verme e a Estrela

Pedro Kilkerry/ Cid Campos

imagem do encarte do disco

Esta canção-poema faz parte do disco A Fábrica do Poema (1994) de Adriana Calcanhotto
O Verme e a Estrela é uma das músicas que eu mais gosto deste disco, seja pela melodia, pela letra, pela voz da própria Adriana e pela participação, especialíssima, de Augusto de Campos que empresta sua voz, suave e elegante, ao poema.




quarta-feira, 21 de setembro de 2011

um poeminha e um causozinho

a poesia
nunca me deu intimidade
quando roça meus lábios 
é pura per(verso)dade
***

tinha uma mulher que todo dia cantava a vizinha e roubava um ovo de galinha. todo dia ela ia e vinha. todo dia essa ladrainha.


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Poemas de Líria Porto

in Tanto Mar

espantalho


não tenho mar não tenho rio
e nem lagoa enxurrada ou copo d'água
tenho mesmo é esse jeito de ser_tão
essa sede essa secura esse bagaço
ao invés de coração
                                   ou vísceras


monocultura

a cana chupa a terra 
e deixa só o bagaço
desclassificado


não foi um amor de primeira
nem um amor de segunda

foi um amor comum
que me fez rir e chorar

e viver como nunca




seguidora

um sol meio sonso
desses de inverno 
roça o horizonte
de um jeito terno
e minha janela
sempre boquiaberta
fita-o de longe
como se quisesse
mudar pro japão
uma noite sim
outra noite não

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

do riso

o riso
após o siso
é como o sol
desfazendo sombras
brisa leve
tormenta que passa
passarinho 
abrindo asas
a bela que afugenta a fera
o inverno que sucumbe
à primavera

domingo, 11 de setembro de 2011

sendo

estou reaprendendo
a ser 
sendo eu
porque cer
            ceando-me
                 custou-me
tantos dias borboletas
tantas noites doeu

descobrindo poetas

A gente se acostuma a ler poetas e escritores(as) mortos (agora imortais). Se vivos e novos, lemos aqueles que já caíram no gosto da crítica. Mas é muito bacana descobrir gente talentosa que dificilmente descobriríamos se não fossem os blogs e afins (apesar de me arriscar em poesia não circulo pelo meio de poetas e escritores). Devo confessar que pouca coisa (e conheço pouco mesmo) me agrada, em termos de poesia. Gosto de concisão, simplicidade, ritmo e originalidade (existem exceções, claro). Características que eu mesma busco ao fazer um poema e não é nada fácil... Hoje, procurando por poesia chilena insurgente (por causa do 11/09/1973) acabei encontrando um blog de um doutorando em Sociologia pela UFPE e também poeta, Vamberto Spinelli Jr.. E através de seu blog conheci outro poeta, professor do curso de Letras da UFPB, Amador Ribeiro Neto. Seguem dois poemas deste último:


saudades


assim
saudades sim
simples
como brinco tupiniquim
um coco de roda
cirandas voltas de tu em mim




escassez


falta dinheiro & falta
falta um poema

aqui 
no meu bolso 

com tutano medula 
& osso

poucos 
bem loucos

raros poetas 
falam disto

muito 
poucos



Em outra postagem apresentarei  poemas de Líria Porto e Ulisses Borges. Poetas que também conheci através da blogosfera. E depois seguirei apresentando outros.

sábado, 10 de setembro de 2011

mondo capital...


se picasso pixasse
         seu pixo seria graffiti
logo de antemão
        seria avaliado em milhão
verdadeira obra-prima de elite




sexta-feira, 9 de setembro de 2011

passado porvir (sem nostalgia)

escrevo porque preciso
             porque a vida começou
bem antes de mim
             porque tudo o que não fiz
tem que ser inventado
tem que ser lembrado
            do começo até o fim


o passado ainda não passou
            mais um passo 
            e o presente
vira de ponta-cabeça
           o passado tem futuro
e algum sonho 
           que o mereça



quinta-feira, 8 de setembro de 2011

eu capim

cresce em mim
uma vontade capim
de deitar na terra
podia ser vontade flor
assim feito jasmim
mas tenho vocação de pasto


ser comida de gado
ser lambida e mastigada
certamente, além de doido
é desejo pouco casto

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

a palavra e o som

o som mora na palavra
dança, ecoa, curva 
a palavra veste o som
como uma luva
***
ton sur ton, de mansinho
 a palavra grito
             fala baixinho

vazio



o vazio tem algo de secura
alguma coisa distante do cio
nem gozo, nem choro, tampouco chuva
nem um arrepio


o vazio guarda o silêncio da alma
na caverna, o eco
no vazio eu seco
e essa vida por um fio



terça-feira, 6 de setembro de 2011

coisa & coiso

quero você bem perto
da minha coisa 


ereto, todo afeto e febre
eu afoita e lebre
de provar seu coiso

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

"Cultura" - Arnaldo Antunes

Este vídeo-música-poema faz parte do dvd Nome (1993) de Arnaldo Antunes. Hoje de manhã estava revendo as músicas desse dvd pelo youtube pois não o tenho em casa. Assisti há quase 20 anos na biblioteca central da UFPE quando ainda cursava arquitetura. Lembro que gostei demais. Como tenho relido poemas de Leminski e também a poesia visual de Augusto de Campos, lembrei do Arnaldo que tem uma influência inegável desses poetas.


Arnaldo Antunes, desde a época dos Titãs, faz das letras de suas músicas, poemas (ou seriam poemas que se fazem música?) que são musicais por si próprios, independente da melodia. Claro que a música acrescenta maior graça (e ritmo) às letras. Quem já ouviu "O que" do disco Cabeça Dinossauro (1986) dos Titãs, sabe do que estou falando. Cantei  (e dancei) um bocado essa música. Aliás o disco todo, um dos melhores dos Titãs.


Em Nome (livro, cd e dvd), seu primeiro trabalho solo depois que saiu dos Titãs, Arnaldo leva ainda mais longe seu trabalho como poeta/músico e acrescenta a poesia visual  realizando vídeo-poemas. Acredito que, pelo fato de gostar mais de música do que poesia, tenho preferência por poemas que têm ritmo, ludicidade, que brincam com a sonoridade e o conceito das palavras. E como também gosto de artes visuais, o dvd Nome me agradou logo de cara! Poderia ter escolhido outro poema-música do dvd mas escolhi "Cultura" não apenas porque considero muito criativo mas, principalmente, pelo verso final que acho maravilhoso: "bactérias num meio é cultura". E quem há de lhe contradizer? É fato (risos).


PS: não poderia deixar de mencionar a participação impecável de Marisa Monte - nesta e em outras músicas do dvd - que, por onde passa, deixa seu brilho!


Eis o vídeo