segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Som de Pernambuco -2

Coco Raízes de Arcoverde

Ainda lembro a primeira vez que vi/ouvi uma apresentação do Coco Raízes de Arcoverde. Foi num carnaval daqui de Recife e já faz um tempo... Lembro da alegre emoção que senti. Não sabia se olhava para o grupo no palco ou se me largava a dançar coco (adoro!). Mas o que é que esse coco de Arcoverde tem de especial?

Arcoverde é a porta do sertão pernambucano. Lá respira-se poesia, poesia de aboio, de embolada e de violeiro. E esse coco raízes ainda se mistura com os ritmos indígenas do povo Xucuru. Mestre Calixto (já falecido), puxador de reisado*, pífano e coco, foi quem o criou (1992) e atualmente esse coco do sertão é levado pelas famílias dos Calixtos e dos Gomes. É lindo demais ver as meninas e os meninos cantando, dançando e tirando som do ganzá, do pandeiro e dos pés... Sim, dos pés! Em termos rítmicos, esse é o principal diferencial do Coco Raízes de Arcoverde: calçando tamancos de madeira, o grupo dança o trupé, tirando som do "sapateado". E há uma alegria tão doce e inocente, nas expressões, nos sorrisos, nos olhares, coisa tão rara de se ver em nossas metrópoles, que fico comovida, de verdade.


Selecionei dois vídeos que achei no youtube: um institucional, do projeto Rumos do Itaú cultural, e outro amador, onde dá pra ouvir melhor o som do trupé.


* Reisado é um folguedo popular do qual falarei em outra oportunidade.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Som de Pernambuco - 1




Agora que eu descobri como botar vídeo aqui no blogue, vez em quando vou sapecar um. Esse é de Junio Barreto, um caruaruense arretado! Já falei sobre o primeiro disco dele aqui, que inclui a música do vídeo acima: Se vê que vai cair deita de vez.
Ouçam e curtam!
Não vou falar mais nada não que o tempo não está muito a meu favor...
beijos.

PS1: pra quem não sabe, caruaruense é quem nasce em Caruaru, município do agreste pernambucano. Ah, no final tem, pra quem tiver interesse, outra música dele : Qualé mago?
E outros vídeos também.

PS2: só agora percebi que o vídeo não toca até o fim, que droga! mas ao menos dá pra curtir uma palhinha...

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

uma música que eu amo numa versão delicadíssima



Sexual Healing de Marvin Gaye é maravilhosa em sua versão original, cheia de suingue e malícia. Mas Ben Harper, artista de rara sensibilidade, cometeu a proeza de transformá-la numa belíssima balada romântica. Deu no que deu. Lindo, não?

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

das palavras

Justamente no dia mais pleno de vazio, Luísa estava cheia, quase transbordante, de emoções. Queria palavras loucas, diabólicas e divinas para inventar uma outra realidade. Estava disposta a pôr em prática seu poder de mágica que não aprendera em aulas de magia mas na experiência da dor. Dor que Luísa mandava às favas no exercício de caçar palavras.

- Mas eu não caço, eu cato palavras - disse Luísa - porque elas estão todas aí pra todo mundo ver, saltando das bocas das pessoas: palavras delicadas ou severas, doces ou amargas, submissas ou indignadas, gritando dores ou sussurrando libertinagens...

E assim Luísa saiu à cata de palavras com o firme propósito de criar uma nova realidade, preenchendo vazios, fazendo mágica... Encontrou as palavras loucas, diabólicas e divinas que tanto queria e dentre elas escolheu justamente a mais fluvial, a mais transbordante, rebento de nuvens e de chuva: a palavra Amor.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

da memória

Dona Maria tem 77 anos e já não consegue reter quase nada na memória: faz a mesma pergunta diversas vezes; não toma banho porque pensa que já tomou ou toma vários porque esquece que já tomou; adora sorvete mas não lembra que saboreou um há minutos atrás. Raquel, sua filha, a leva para passear de vez em quando mas ao voltar Dona Maria já nem se lembra que saíra de casa. Raquel se questiona sobre o sentido de levá-la para passear :

- De que vale uma manhã de lazer se ela não consegue lembrar depois? A vida tem sentido sem lembranças?

Naquela manhã de primavera Raquel levara sua mãe ao parque, pensou nela apreciando o viço das plantas e o colorido das flores. Aquela manhã Dona Maria já esquecera mas à tardinha cantava uma canção enquanto regava suas plantas na varanda. Raquel a observou comovida e sorriu: pensou que de alguma forma Dona Maria registrara o passeio, se não na memória, em seu corpo, na memória dos sentidos.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

meu artífice (em sonho)


em sua boca meus seios foram moldados
em sua língua meu sexo foi esculpido
minha carne foi tingida da cor do seu amor
minha epiderme assumiu a textura da sua dor
sou obra sua
você me recriou


junho/2008



quinta-feira, 17 de setembro de 2009

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

de refugiada à entocada

Queridos & Queridas,

É o seguinte: não sei quando voltarei a postar novamente, tou sem vontade de escrever mas tou bem, não se preocupem. Minha cabeça (e energia) tá voltada pra outras histórias, tou tentando dar outro rumo profissional pra minha vida, ou melhor, um rumo profissional porque sempre fui meio sem rumo neste quesito (acho que noutros também...) apesar de ser formada em arquitetura. Além disso, vocês sabem, continuo sem computador em casa, o que reduz bastante meu acesso a net.

Grata pelos comentários!
Beijos & Abraços!

PS: Vais, querida, tou entocada mesmo, quase não saio de casa pra me divertir, o que inclui falta de sexo também. Tenho um amigo que diz que não se pode ficar muito tempo sem trepar não, senão encrua...rsrs...

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

FIG na MTV

Hoje, às 22:30, a MTV vai exibir o segundo programa dedicado à cobertura do FIG - Festival de Inverno de Garanhuns/2009. Não comuniquei sobre o primeiro programa exibido (sexta-feira passada) porque só soube de última hora. E continuo sem máquina em casa.

Claro que o programa não consegue abarcar tudo o que rolou por lá, tampouco oferece ao telespectador a mesma deliciosa fruição de quem acompanhou o festival de perto. Mas vale a pena dar uma espiadinha: de vez em quando a MTV dá uma dentro, o que é bem difícil pra uma emissora tão comprometida com as grandes gravadoras...

Valeu, MTV! Ah, quem não puder ver hoje, tem reprise no domingo por volta das 19:00.

Beijos procês

sexta-feira, 10 de julho de 2009

vou ali mas volto já

Moçada,

próximo dia 15, vou subir a serra e dar uma espiadinha no Festival de Inverno de Garanhuns, onde rola muita música: meu maior vício, que não deixa de ser uma virtude ;-)

tou voltando em agosto,
té mais!

Beijos & Abraços procês

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Regionalismos

Nordestino não fica solteiro: fica solto na buraqueira!
Não vai com sede ao pote: vai com a bexiga taboca!
Não vai embora: pega o beco!
Fica com a mulesta dos cachorros quando se empolga!
Não é fiel: é manicaca!
Não bate: senta-lhe a mãozada!
Não sai pra farra: sai pro muído!
Não bebe um drink: toma uma!
Não é sortudo: é cagado!
Não corre: dá uma carreira!
Não ri dos outros: manga!
Não toma água com açúcar: toma garapa!
Não engana: dá um migué!
Não percebe: dá fé!
Não sai apressado: sai desembestado!
Não aperta: arroxa!
Não dá volta: arrudeia!
Não espera um minuto: espera um pedacinho!
Não é distraído: é abilolado!
Não fica com vergonha: fica encabulado!
Não passa a roupa: engoma!
Não ouve barulho: ouve zuada!
Não acompanha casal de namorados: segura vela!
Não rega as plantas: agoa!
Não quebra: tora!
Não é esperto: é desenrolado!
Não é rico: é estribado!
Não é homem: é macho!
Não grita "seu desalmado": grita "infeliz das costa ôca!"
Não pede almoço: pede o cumê!
Não come carne: come mistura!
Não lancha: merenda!
Não fica satisfeito quando come: enche o bucho!
Não dá bronca: dá carão!
Não fica com raiva: pega ar!
Não casa: se amanceba!
Não tem diarréia: tem caganeira!
Não tem mau cheiro nas axilas: tem suvaqueira!
Não tem perna fina: tem dois cambitos!
Não é mulherengo: é raparigueiro!
Não exagera: aumenta!
Não vigia: pastora!
Não se dá mal: se réia, se lasca todinho!
Nordestino quando se espanta não diz: "Noooosssa!":
diz: "Vigi Maria! Affe Maria!"

Não compara dizendo "Como é que pode?": diz "Sostô!"
Não vê coisas de outro mundo: vê uns malassombros!
Não é chato: é gabola!
Não é cheio de frescura: é pantinzeiro!
Não pula: dá pinote!
Nordestina não fica grávida: fica buxuda!
Nordestino não fica bravo: fica com a gota serena!
Não é malandro: é caba de peia!
Não fica apaixonado: ele arreia os pneus!



PS: Gostaria de acrescentar uma outra versão a "senta-lhe a mãozada!", que meu pai dizia: "dá-lhe uns tabefe!".

quarta-feira, 1 de julho de 2009

A Arte da Delicadeza

Desde que li as primeiras páginas desse livro, decidi que escreveria sobre ele aqui, no refúgio. Hesitei durante um tempo porque não sabia muito bem por onde começar, o que falar. Não que seja um livro difícil, muito pelo contrário: é um livro simples e muito, muito delicado. Mas como é difícil falar de coisas simples e delicadas...

Em O Livro dos Abraços, Eduardo Galeano, escritor uruguaio, nos conta histórias que ouviu ou viveu durante suas andanças pela América, sobretudo América Latina. São 191 textos - entre pequenas histórias e pequenas (grandes) reflexões de Galeano - impressos, cada um, em, no máximo, duas páginas. Algumas histórias são doces e inocentes; outras, sensuais; outras, ainda, fazem rir; e como não poderia deixar de ser, Galeano também conta histórias da dor de quem viveu - ele, inclusive - uma ditadura militar, que não foram poucas na nossa latinamérica: histórias de exílio; de bravura; de saudade dos amigos; de perdas irreparáveis. Tudo escrito com muita singeleza sem, contudo, excluir o lirismo.

O Livro dos Abraços, com seus textos enxutos, consegue expor todo o calor, inquietação e dor da América Latina. Um livro que emociona, seja em momentos de inocência, riso, aflição, coragem ou paixão. Um livro que, como nas palavras do editor, "é delicado e afiado, como a própria vida. Pode afagar, pode cortar. Mas seja como for, como a própria vida, vale a pena".

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Lucidez


O sistema deseduca as pessoas quando valoriza o "ter" ao invés do "ser". O sistema é perverso quando diz o que a gente pode ou não pode fazer. O sistema ilude as pessoas quando cria necessidades desnecessárias que, ao longo do tempo, revelam-se obsoletas.


Irado, Paulo rasgou seu diploma. Em crise existencial, Sônia queimou o seu com a ponta do cigarro. João não tem diploma e está muito ocupado escrevendo uma reportagem sobre a luta pela terra do povo indígena xucuru.

Paulo, Sônia e João são jornalistas. No entanto, apenas João não se deixa iludir pelo sistema. Alguns dizem que João é louco. Mas ele nem liga pra isso: continua seguindo pela contramão.


PS: dedico este modesto texto a todas as pessoas que sabem escrever, jornalistas ou não - com ou sem diploma - que não se rendem ao sistema.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

segunda-feira, 15 de junho de 2009

MEGA-NÃO ao AI-5 Digital


(Do blogue do Pirata)

holas.

imagino que tod@s saibam, ainda que apenas superficialmente, de um projétil de lei do $enador tucano eduardo azeredo com o qual, atendendo exclusivamente aos intere$$e$ de seus [dele] adestradores [bancos, gravadoras, $inhá mídia et caterva - enfim, o phoder], pretende implantar na uébi um sistema de vigilância que se pode definir como um híbrido de campo de concentração mental e bigue bróder - George Orwell, o profético autor de "1984", vive...

contrários a isso - e quem, em sã consciência de seus direitos, não haverá de sê-lo? -, grupos de pessoas representantes dos mais variados segmentos profissionais, dos mais diversos movimentos populares, organizaram, e com bastante eficiência e êxito, em São Paulo e em Belo Horizonte, edições de um encontro/fórum [físico, não apenas virtual] chamado MEGA-NÃO ao AI-5 Digital, no qual debateram ações a serem adotadas para um efetivo combate ao citado projétil.

estou disposto - muito, diga-se - a organizar uma edição desse debate aqui em Brasília - dispensável, acredito, explicar o porquê -, mas, óbvio, impossível fazê-lo sozinho - e, mesmo, acredito que o evento assistirá aos ideais de toda e qualquer pessoa que preze o direito à privacidade e à liberdade de expressão -, com o que venho por meio deste plá pedir que, primeiro, divulguem esta minha ação cidadã entre os seus contatos [tod@s serão bem-vind@s, claro, pois idéias nunca são demais, mas, preferencialmente, os que residem em Brasília], divulguem em suas caxangas virtuais, se possível, e, por fim, complementar a essa, a divulgação do linque do blogue que criei para contato - e consequente troca de informações - com as pessoas interessadas em participar, ajudar.

bueno, o linque é esse aí, abaixo:

http://ciberativismo.ning.com/profiles/blog/list?user=2qe0whn9zaj3m

tenho motivos de sobra para lhes pedir, em razão de segurança [do evento e minha, pessoal], duas coisas:

1) digam aos seus contatos que sou limpinho e que não durmo no silviço; e, muito, muito importante
2) que, ao fazerem contato, digam através de quem tomaram conhecimento da coisa.

é, era isso.

não me desejem, por especial fineza, sorte e ou bençãos de o deus, pois só quem não se garante precisa disso.

se quiserem, torçam apenas para que não me faltem saúde, saco e lucidez.
para o resto, com paciência e cuspe, sempre dá-se um jeito.

y tengo dicho.

gracias y hasta,

Pirata, um vosso capitão gôche

quinta-feira, 11 de junho de 2009

intensa


Lígia gosta de lamber esperma. Lambe tudinho, tudinho, do início ao fim. Lambe com sofreguidão. Lambe morrendo de fome. Lambe celebrando a vida que jorra do seu amado. Lígia não deixa escapar uma gota de vida sequer. Quando lambe, Lígia é a própria vida: a vida e o desespero de vida.

terça-feira, 2 de junho de 2009

o bichinho


Já o procurara por todo canto: debaixo da cama, dos móveis, dentro dos armários, gavetas e guarda-roupa. Procurara até nos lugares mais improváveis como geladeira, forno do fogão e lata de lixo... Vinicius revirara o apartamento pelo avesso, e nada de encontrar o bichinho.


Então procurou os vizinhos e, de porta em porta, perguntou a cada um, descrevendo minuciosamente forma, tamanho e cor, mas ninguém tinha visto o bichinho.

Saiu do edifício e foi procurá-lo pelas ruas do bairro, em baixo dos automóveis, em cima das árvores, em bueiros, em sarjetas, em contêineres de lixo reciclável, vidro, plástico, papel e nada, nada, nenhum sinal do bichinho.

Começou a achar que o perdera definitivamente, e sofreu com isso. Sentou, desolado, no meio-fio da calçada, acendeu um cigarro e começou a divagar: "Ele deve estar rolando pelas ruas, solitário... ou talvez, cansado de mim, tenha criado asas e voado para bem longe...". Vinicius suspirou melancolicamente e seus olhos marejaram. Foi quando uma brisa leve lambeu seu rosto. Pensou na Lígia... Levantou-se e, mais calmo, voltou ao apartamento. Quando chegou, o telefone tocava. Correu para atendê-lo.

- Alô.
- Vinicius; sou eu, Lígia.
- Lígia! - disse Vinicius, animado, ao ouvir a voz da moça com quem tinha saído na noite passada.
- Você não tá sentindo falta de nada, não? Ele tá bem, viu? Tá aqui, no meu colo...

Diante daquelas palavras, Vinicius sorriu, meio aliviado, meio encabulado: deixara seu coração, o bichinho, na cama da Lígia.

terça-feira, 26 de maio de 2009

a fonte


Bastava pensar naquele rapaz, que a moça chorava. Chorava pelos cantos, pelas bordas, pelos lábios, pequenos e grande lábios. Pois a moça não chorava pelos olhos, chorava pela buceta. E seu choro não era de tristeza, mas de amor e desejo.

No início, resvalava suavemente pelas coxas. Depois ensopou lençóis e colchão até inundar a casa inteira. Então escorria por baixo da porta, descia o batente como queda d'água até tomar a rua e correr feito enxurrada sobre as galerias. Vez por outra contrariava as leis da física, dobrando esquinas e subindo ladeiras para espanto dos adultos e diversão da meninada. Mas, ainda que desvairada, aquela torrente tinha rumo certo e sabia exatamente aonde queria desaguar.


De súbito, parou em frente à porta da casa do tal rapaz e, sem hesitar, escorreu de soleira adentro. Sem compreender de onde vinha aquela água, o rapaz saiu à rua, curioso, e seguiu o curso d'água em sentido contrário. Quando alcançou a "nascente", surpreendeu-se. Ele conhecia aquela casa e a dona da casa. Ficou emocionado, respirou fundo e, num ímpeto, abriu a porta sem bater. Encontrou a moça nua, derramando-se na cama, encharcada e fumegante. Naquele instante, tudo o que desejou foi bebê-la. E assim o fez, embriagando-se dela, dentro dela.

terça-feira, 12 de maio de 2009

pra tocar no rádio e no coração


Lá em casa, desde quando eu era pequenininha, sempre se ouviu muita música. Rolava de tudo: samba, forró, Roberto Carlos, Beatles, Secos & Molhados, Novos Baianos e até Elton John. Quando não tinha um disco tocando na radiola, o rádio estava sempre ligado. E foi nas rádios que eu conheci o estilo musical que mais mexeu (ainda mexe) com minhas emoções e libido.

Era início da década de 80. Eu tinha por volta dos 12 aninhos. Estava despertando para o romantismo e o erotismo - não necessariamente nesta ordem - ouvindo black music, estilo que foi paixão à primeira audição. Não me lembro quem ouvi primeiro, se Marvin Gaye ou Michael Jackson, se Diana Ross ou Earth, Wind and Fire, se funk, soul ou dance music. Não importa, estava tudo ali, nas entrelinhas, implícito - às vezes explícito - nas letras ou no groove das canções, toda aquela libidinagem deliciosa, seja em "Sexual Healing" do maravilhoso Marvin Gaye; ou na voz grave daquele negão muito macho, o Barry White; e numa vasta gama de cantores e cantoras black, grávidos de amor, alegria e sensualidade, que me impressionaram e impressionam... Não à toa esse estilo me fez mulher antes mesmo que qualquer homem me tomasse em seus braços. Coincidentemente ou não, foi por volta daquela idade que descobri a masturbação.

Agora eu fico pensando: Será que hoje eu escreveria poemas eróticos se não tivesse me iniciado na música bleque? Será que teria inventado versos como "até fuder macio" se um dia não tivesse ouvido aquela bela canção da Roberta Flack, "Killing me Softly"? Será? Sei não... Sei não...



PS: Quem quiser ouvir música seleta, de todos os estilos, do mundo inteiro, basta clicar aqui ó: http://www.zinedopirata.blogspot.com. Lá tem uma uébi-rádio criada pelo zineiro, jornalista e escritor Pirata Z. Esse rapaz sabe tudo ou, pelo menos, quase tudo de música.


Grata às meninas e aos meninos, de todas as idades, que têm visitado o meu refúgio.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Inocência

Quando alguém dizia a Severina que ela era uma menina muito mentirosa, ela logo se defendia dizendo:
- Eu não minto, eu invento.
E Severina realmente inventava histórias fantásticas! Dizia que queria ser escritora, cientista, poeta, artista... Aos oito anos de idade Severina queria ser tudo e mais alguma coisa, enquanto Chiquinho, seu irmãozinho mais novo, ouvia suas histórias com admiração e depois dizia:
- Severina, me ensina a inventar.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

"un abrazo, amigo"

O desenho acima (lindo, não?) é de um cartão que Seu Maurício, meu pai, recebeu de cinco amigos lá pelo idos do século XX. Encontramos (eu e Sílvia, minha irmã) enquanto remexíamos nos papéis e fotos que ele guardava. Fizemos isso sábado passado na intenção de procurar material, principalmente fotos, para um grupo de amigos de trabalho de meu pai que estão pretendendo homenageá-lo. E olha só a coincidência: neste último sábado, 18, fez exatamente um ano que meu pai foi sepultado. Mas não há melancolia nisso, saudade sim mas sem tristeza. Na verdade até nos divertimos e descobrimos mais sobre Seu Maurício, como: cartinhas e cartões de aniversário e dos dias dos pais que a gente deu pra ele quando criança e que ele guardou com carinho; uma tira do Angeli com o personagem "O Velho Cartunista" que xinga e cospe nas pessoas da janela de seu apartamento (Seu Maurício tinha humor, um tanto sarcástico, bem verdade); descobrimos ainda que na década de 60 meu pai realizou trabalho de extensão com praieiros da Praia do Poço, na Paraíba; e encontramos um cordel contando a história da extensão rural na Paraíba (pra quem não sabe, meu pai foi engenheiro agrônomo) onde aparece o nome dele em um dos versos. Pois é, há um ano meu velho partiu e a gente ainda está descobrindo ele...

Mas voltando ao início, desconheço os cinco amigos que lhe ofereceram aquele cartão. Decerto devem ser pessoas sensíveis e creio que não são brasileiros, digo isso por causa da dedicatória: "Con cariño al amigo BRASILEIRO". Ainda no cartão tem impressa uma mensagem em espanhol falando sobre justiça, solidariedade, liberdade e dignidade. E o cartão é de Navidad, talvez uma comuna chilena (pesquisei na internet).

Sei que não devo tirar conclusões apressadas mas tudo leva a crer que devem ser amigos de algum outro país da América Latina. Chilenos? Meu pai viajou um bocado, a trabalho, por vários países latino-americanos. Certa vez até trouxe pra mim uma boneca de tricô, na verdade uma indiazinha peruana ou boliviana ou colombiana, não sei ao certo. É a única boneca da qual não me desfiz... Às vezes tenho a impressão - quase certeza - que vem daí meu carinho e empatia pelos povos andinos, carinho que se estende aos demais povos da América Latina, oprimidos pelo "mundo livre".

Dedico, pois, esta postagem, com um grande abraço a nuestros hermanos y hermanas, e a Seu Maurício, meu pai que, sem perceber, despertou em mim essa sensibilidade quando eu era apenas una niña.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

quarta-feira, 15 de abril de 2009


tem vezes
que começo um poema pelo final
e de olhos bem fechados
nem ligo se esse poema
pode acabar se dando mal

é que, às vezes
começar pelo início
dá um certo medo
como quando o olhar
vem antes do tato

tem vezes
que só nos dedos

segunda-feira, 13 de abril de 2009

um verso

quero um verso de fogo
correndo em minhas veias
um verso que não seja brisa
tampouco o sorriso da Monalisa
o
que esse verso tenha o Inferno de Dante!
o
mas por favor, meu caro
não seja tão pedante

sexta-feira, 3 de abril de 2009

de gozo


quando cai a noite

um fogo cresce em mim
ardendo em desejo e mel
bem no fundo da rosa carmim

flama cortante, delirante
rasgando comendo meu céu
de gozo em gozo, até o fim

quinta-feira, 26 de março de 2009

undos


duas gotas escapam

pelos fundos

uma lua
dois mundos

um membro entre dois gomos
rotundos

um poema
eroticabundo


segunda-feira, 23 de março de 2009

de dentro


não vem de fora

vem de dentro

esse fogo que me come

assim, tão lento

do capital


o capital não sabe da poesia
ele mata, segrega e financia
o mal
o capital se acha o tal


o capital joga sujo
bebe petróleo e cospe fumaça

inda sai cantando pneu
ô desgraça!

segunda-feira, 16 de março de 2009

Um Índio mascou folha de coca nas Nações Unidas


"A folha de coca não é cocaína, não é nociva para a saúde, não provoca males físicos nem dependência"

Evo Morales, presidente da Bolívia


Quando em 1961 os ministros da Comissão de Narcóticos das Nações Unidas incluíram a folha de coca na lista de entorpecentes proibidos pelas convenções internacionais, não havia nenhum presidente, seja da Bolívia, Colômbia ou Peru - os três maiores plantadores de coca - que questionasse a decisão e elucidasse para a mesma comissão que folha de coca não é cocaína. Isto porque, na época, não tinha nenhum presidente que representasse a identidade dos povos andinos.

Dá pra imaginar um nordestino, aqui no Brasil, sem plantar e comer mandioca e sua mais deliciosa derivação, a tapioca? Dá pra imaginar um gaúcho sem plantar a erva-mate de onde faz seu chimarrão? Pois é... As folhas de coca fazem parte da cultura dos povos indígenas andinos há três mil anos. Mas a necessidade de mascar a folha de coca vai além das questões culturais. Devido a altitude elevada dos Andes, a coca é utilizada, desde a época dos incas, como estimulante natural que ajuda a respirar melhor. Ou seja, mascar folha de coca é também uma questão de bem-estar e qualidade de vida. Por isso, na última reunião da Comissão de Narcóticos da ONU, em Viena, Evo Morales, presidente da Bolívia, mascou a tal folhinha inofensiva para mostrar que coca não é cocaína, não é droga, não causa dependência e pediu a retirada da folha de coca da lista de entorpecentes. Morales disse ainda que enviará uma carta ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, explicando a importância da coca para os povos andinos.

Se existe algo a combater, não é o cultivo da folha e sim a indústria de narcóticos criada pelo homem branco "civilizado" que inventou a cocaína, a coca-cola, entre outras drogas. Além do mais, deve-se respeitar a soberania de cada país, sua cultura e política. Mas isso não parece constar nos princípios da ONU, pelo menos na prática...

quarta-feira, 4 de março de 2009

uma lenda


Em pleno carnaval ela dançava, dançava ciranda na beira do mar. Gostava de sentir os pés na areia molhada e a água que chegava em ondas, às vezes até seus joelhos. Ela dançava e rodava vestida de búzios e maresia. Seu corpo exalava um odor marítimo, exceto uma parte mimosa e velada, que cheirava a maracujá. E a cada passo da dança que a moça dava, o cheiro de maracujá se intensificava. E quanto mais ela dançava com prazer mais o cheiro tomava conta da praia. Todos sentiam aquele odor inebriante.


Envergonhada, a moça deixou a roda de ciranda e foi refugiar-se no mar... Nadou até a pedra mais distante da praia, onde sentou-se e ficou lavando seu sexo com a água do mar, enquanto cantava uma bela melodia. A voz da moça era a mais suave e doce voz daquela ilha, onde as pedras costumavam cantar.
Ao ouvir aquele canto, um rapaz que nadava a milhas dali sentiu-se atraído, para não dizer fisgado. Ele nadou e nadou e nadou atrás música até avistar a pedra. Nadou mais um pouco e ficou deslumbrado, para não dizer embriagado, com a visão daquela mulher, vestida de búzios e maresia, cantando e lavando suas partes mais íntimas. O homem continuou a nadar, bastante ofegante mas não porque estivesse cansado... Estava a poucos metros da moça que ainda não havia percebido sua presença. Notou que na água, ao redor da pedra, boiavam sementes negras e sentiu um cheiro suave de maracujá. A mulher então o avistou e arrastou-o com seu olhar para junto de si, através das sementes que já cobriam toda a superfície da água ao seu redor. Agora o homem tinha seu rosto entre as coxas da mulher. E acariciou e cheirou e beijou sua bucetinha. Ela o fez lamber-lhe e comer-lhe seu sumo com sementes negras. A mulher e o homem amaram-se ali, naquela pedra e um cheiro de maracujá inundou todo o mar.

Depois daquele dia, o homem e a mulher nunca mais foram vistos e a pedra submergiu para sempre... Mas dizem que mergulhando-se no local é possível encontrá-la com a superfície cravejada de búzios e ostras raras que guardam preciosas pérolas negras.


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

É uma banda portuguesa, com certeza!


"O Quiosque da Utopia", "O Museu Nacional do Acessório e do Irrelevante", "A Grande Enciclopédia do Conhecimento Obsoleto", e "O Depósito de Refugos Postais" são apenas alguns álbuns da Pior Banda do Mundo, formada por Sebastian Zorn (saxofone, líder da banda e serrilhador de selos), Ignacio Kagel (contrabaixo e fiscal municipal de isqueiros), Anatole Kopek (bateria e criptógrafo de segunda classe) e Idálio Alzheimer (piano e verificador metereológico).

Brincadeira? Sim, sim e das melhores! A Pior Banda do Mundo, na realidade, é uma série de banda desenhada (HQ em Portugal) do português José Carlos Fernandes, um jovem de apenas 44 anos que a cada álbum se apresenta de maneira diferente (nada mais condizente com o espírito do jazz). Além de um belo traço, José Carlos tem ótimos argumentos e um humor elegante e irônico.

Em "Os Melhores Anos de Nossas Vidas"- um dos 23 mini-contos do álbum "O Depósito de Refugos Postais" - os personagens falam de suas lembranças de infância que só existem em suas imaginações. Em "A Insustentável Escalada dos Padrões Estéticos" - crítica mordaz aos atuais padrões de beleza - mostra como Aníbal Ecksmen, desenhador de comic books, precisou refazer os super heróis. E "A Inebriante Fragrância dos Bestsellers" conta a estratégia de algumas editoras para tornar um livro sucesso de vendagem. Estes são apenas alguns exemplos de histórias do José Carlos Fernandes que tem rara sensibilidade na observação do cotidiano e dos sentimentos humanos. Seus contos, ainda que sejam de humor, despertam uma certa melancolia quando narram histórias onde os personagens encontram "soluções" que amenizam desilusões e o caos da existência humana. Ou - em outra história - quando um carteiro troca propositalmente as correspondências só para suscitar novas/velhas emoções nas pessoas, quebrando a rotina da vida cotidiana.

Cada álbum ainda traz um "acerto de contas" onde menciona citações e referências a escritores e poetas famosos; uma "banda sonora" onde especifica os "samples" utilizados em cada álbum, com os grandes do jazz; e um índice remissivo bastante útil e prático...

Outra coisa legal é ler o português de Portugal. Aprendi, por exemplo, que "cupom" pode ser dito/escrito "cupão" e "registro", "registo" (ambas as formas estão corretas, cá e lá). E você sabia que nadar 200m borboleta equivale, em Portugal, a 200m mariposa? E a miudagem é a meninada/criançada - mas isso eu já sabia lendo Mafalda em edição portuguesa. Adoro isso. Viva a diferença! Viva a lusofonia!


PS: dedico esta postagem a Miguel, que me emprestou os quadrinhos. Valeu, Miga!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

geometria descritiva, estou estudando geometria descritiva, relembrando velhos tempos da faculdade de arquitetura. sem cabeça pra escrever poesias mas... quem sabe minha próxima postagem não será um desenho com projeções de sombras errantes, oblíquas, com olhos de ressaca?
quem sabe? quem sabe?

acho que vou pirar...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009


Cai sem medo na escuridão selvagem

adere ao insano mais sagrado
deixando que a lâmina adule a pele
no rito do coito anunciado.
Flamejante dança de corpos
lumespasmo, pasmo!
O choro atravessado,
punge
unge
baba
o corpo inteiro baba
gléa, saliva,
golfada de porra.
Ensopados
meu corpo, seu corpo, torturados
rendem-se (sem escape)
ao assombro dessa fúria
que nos sorve nus.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

som de pernambuco, som do mundo


Fazia tempo que eu não apresentava um sonzinho da minha terra... Recentemente comprei o disco de estréia do Zé Cafofinho - veja bem, não é Zeca Fofinho e sim Zé Cafofinho. Disco de samba, do bom, coisa fina. Samba no sentido de festa porque não dá pra rotular o som do Zé que além da cuíca e cia tem trompete, guitarra, bateria, baixo, cello, bandolim, banjo, viola de arco, teclado e mais e mais, tudo alinhavado com groove e pitadas de dub. As letras são simples e falam de coisas da vida da gente como ônibus lotado, farra, ressaca, calo no pé, favela, comida, cerveja, café, malandro, xangô (xango.br, uma das faixas, termina com dub e uma batucada de terreiro arretada!) e até amor... O disco tem um clima embriagado que se deve, em parte, à voz do Zé Cafofinho, voz de ressaca, de quem tomou muita birita e fumou cigarro até o dia raiar. A voz do Zé não é limpa e às vezes desafina (será proposital?). Talvez até desagrade ouvidos mais exigentes mas que esse disco dá vontade de dançar e tomar umas, ah, isso dá!

Pra quem mora em Recife o disco pode ser encontrado na Oficina da Música, Av. Guararapes 86, loja 4, especializada em música pernambucana.

Pra quem é de fora pode acessar o sítio
www.fabricaestudios.com.br. Fui lá mas, sem tempo de vasculhar, não encontrei nada. Se você for persistente certamente encontrará alguma coisa. Ah, também tem o emeio: ze.cafofinho@gmail.com.
Boa Sorte! Vale a pena procurar!

Curiosidade: Por causa do Zé Cafofinho fui ao dicionário Aurélio procurar o significado da palavra "cafofo". Descobri que é uma palavra originária do estado de Minas Gerais e designa terreno pantanoso onde a decomposição de material orgânico exala odores característicos dos charcos. Lembrei do nosso mangue... Mais um ponto em comum entre Minas e Pernambuco, dois estados de grande riqueza e diversidade culturais.
Já "cafofa" é uma iguaria do
Ceará preparada com carne-seca frita e farinha de mandioca. Mas... Ah, deixa pra lá...

sábado, 3 de janeiro de 2009

Permita-me, moço
beijar seu membro
com a ternura e a castidade
de um anjo torto
Permita-me ungi-lo
com o mel de minha língua
louca, selvagem
e vulgar
Permita-me ainda
abismá-lo
sofregamente chupá-lo
e enfim saber do gozo
em seu vinho
comovida como o diabo
o sol aurora
o fogo arde
o vento abraça
(o tempo passa)
o lume apaga
a chuva chora
a flor afaga
a voz sussurra
a lua geme
(o tempo passa)
a moça pega
a faca cega
a língua fere
a fera salta
a boca morde
o coito fode
a carne molha
o gozo goza
(o tempo passa)
o tempo abraça
o amor
demora...
ou devora?