terça-feira, 30 de janeiro de 2007

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Ô, Coisa Doida!


Essa dupla que vocês estão vendo é eu e meu pai. Ops, me desculpem! Não, não troquei a foto, vocês não conseguem visualizar meu pai porque ele está oculto, por detrás da câmara fotográfica. Meu pai sempre gostou de fotografar as filhas, assim, meio em flagrante (ah, que bobagem, quase todo pai faz isso, né?). Mas acho essa foto bem bacana.

Meu pai foi engenheiro agrônomo. Na década de 60 foi Secretário de Agricultura na Paraíba. Realizou um excelente trabalho neste cargo, seja no interior ou na capital (no início da ditadura militar, putz!). Meu pai nunca foi apaixonado por política, ele apenas queria realizar seu trabalho em paz. Foi um técnico muito respeitável, até hoje as pessoas lembram dele com admiração. Conversava sobre qualquer assunto, foi um homem que gostava de saber, de aprender e também ensinar. Nunca se declarou um socialista mas sempre votou na esquerda, defendendo a igualdade e a justiça. Seus amores eram: minha mãe , suas filhas, o interior e o mato. Preferia o belo da natureza ao belo da arte. Não devo a ele meu amor à música, às artes e à poesia – isso aprendi com minha mãe, que aprendeu com seu pai, meu Vô João – no entanto devo a ele o aprendizado da franqueza, da retidão, do amor à natureza, da contemplação e da indignação diante das injustiças sociais.

Estou falando com o verbo no passado não porque meu pai esteja morto, ele ainda vive mas tem Mal de Alzheimer. Atualmente não distingue uma samambaia de uma bromélia ou uma jibóia. Gostaria de poder conversar com ele sobre a transposição do Rio São Francisco, a questão da Amazônia, sobre construção de cisternas no sertão, sobre o governo Lula, mas isso é impossível: apesar de vivo já o perdi ...

Meu pai também adorava/adora crianças e ainda hoje, mesmo demente, quando vê uma, diz: Ô coisa doida! Diz isso com a maior ternura. E às vezes quando me vê também diz: Ô coisa doida! Eu acho graça e fico pensando se, nesses momentos, ele se lembra daquela menina que ele tanto amava fotografar e levava para a praia, ensinava a boiar e nadar e depois, na beira-mar, brincava de construir castelos de areia...

PS: Essa praia onde estou na foto é no Rio de Janeiro. Vivemos lá (eu, meus pais e minhas duas irmãs) entre 1969 e 1974, mas não sei qual é a praia, provavelmente era a praia do Flamengo, bairro onde residimos.

sábado, 27 de janeiro de 2007

Da Superfície

Não cometo mergulhos profundos pois tenho medo de me tornar um desses estranhos peixes abissais que só vão à superfície para se alimentar. Sim, porque a abundância e a diversidade vivem na superfície, onde posso deslizar suavemente, o que é muito mais divertido do que nadar na escuridão sob pressão.

No entanto, apesar das delícias, viver na superfície tem seus riscos porque fico exposta e posso ser “fisgada” com facilidade. Ai de mim!

Um dia, quem sabe, escreverei um manual de auto-ajuda: "O Manual de Sobrevivência à Superfície”.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Amoleço a tua língua úmida
Degusto o teu sumo saliva
Aguço teus sentidos na orelha

Divagas assim: no meu olhar
Onde o tempo pára num jogo de espelhos.
Poema de abril/2006

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Música, Música, Sempre!

Não sou erudita. Não amo os clássicos. Gosto de muita coisa mas pouca coisa realmente me desperta paixão. Acho que li pouco, acho que leio pouco. Tem um poema de Fernando Pessoa chamado Liberdade que eu me identifico bastante: “Ai que prazer, não cumprir um dever, ter um livro pra ler e não o fazer! Ler é maçada, estudar é nada...”. Pois bem, é isso, sou hedonista e indolente, ou seja, uma sofredora porque não posso escapar da labuta. Mas gosto de ler, juro, um bom livro, claro.

Mas o que gosto mesmo é de estar só e ouvir música. Simplesmente ouvir sem fazer nada. Se me der vontade de dançar eu ouço e danço e adoro dançar e cantar e ouvir música. Amo quase todos os estilos musicais, desde que a música tenha qualidade. Mas o que é música de qualidade? Pra mim é música que emociona. Ou seja, desse ponto de vista, “música de qualidade” é um conceito bastante relativo porque o que me emociona pode não emocionar outra pessoa. O que me emociona? Um samba, um soul, um samba-soul, um baião, um blues, um choro, um rock, um frevo, um jazz, um coco, um funk, uma ciranda, um reggae, um maracatu, um clássico... Mas ouvi e ouço pouca música clássica. Não fui educada a ouvir esse tipo de música, também não procurei conhecer mais e me educar (já disse, sou indolente). Mas já me emocionei com Vivaldi, Mozart, Bach e outros. Todavia entre Jimi Hendrix e um compositor clássico eu fico com o primeiro. Hendrix me emociona profundamente, seus solos de guitarra em Little Wing são como um sonho, um vôo deliciosamente macio na pequena asa. Se eu tivesse um Deus, Ele seria Hendrix mas como sou uma sem-Deus, tenho anjos. Sim, Hendrix é um anjo assim como Curtis Mayfield, outro músico negro que eu amo porque me emocionou logo de cara quando ouvi pela primeira vez a trilha sonora de Superfly (filme que fala sobre a decadência do Harlem e tráfico de drogas). E amo os anjos músicos, cantores e cantoras da Motown, gravadora norte-americana da década de 70, especializada no gênero soul.

Como já disse, amo todo tipo de música mas a soul/funk music vai fundo na minha alma e mexe com o meu corpo. Acho que devo essa paixão ao fato de ter ouvido, desde pequena, nas rádios: Billy Paul (Your Song), Marvin Gaye (Sexual Healing), Diana Ross (Upside Down), Michael Jackson com seu disco antológico, Off the Wall (quando o rapaz ainda tinha a cor de pele original), depois conheci Funkadelic, Sly and The Family Stone... ah, e tem os brasileiros, Cassiano, Tim Maia, “Ora bolas, não me amole com esse papo de emprego, não tá vendo, não tô nessa, o que eu quero é sossego...”. Genial, não?! E o disco Racional do Tim é sensacional (muito louca a história desse disco porque foi gravado num período no qual o Tim largara as drogas para se dedicar a seita Universo em Desencanto, ou seja, nada racional). Depois ouvi e dancei e curti um bocado o início do Hip Hop, com muita influência soul: Afrika Bambaataa & Soul Sonic Force com Planet Rock. Quem, da minha geração, não dançou essa música devia estar surdo ou deprimido ou contando dinheiro ou com as pernas quebradas. Porque o que essa música tocou nas rádios, não está no gibi.
(...)
O que foi? Não, não concluirei o texto porque não há o que concluir: Ainda estou a espera da próxima revolução musical que não chega.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Amor & Dor

"...Me responde por favor
Pra onde vai o meu amor
Quando o amor acaba
Vê se tem no almanaque, essa menina, como é que termina um grande amor
Se adianta tomar uma aspirina ou se bate na quina aquela dor
Se é chover o ano inteiro chuva fina ou se é como cair o elevador
Me responde por favor
Pra que tudo começou
Quando tudo acaba"

(Chico Buarque, Almanaque)

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Saldo de Aratu


O que é que se faz com uma moeda de 1 centavo? Alguém aí pode me dizer?

Um dia desses (ano passado) fui à padaria comprar pão, estava louca para me livrar de três moedas de um centavo, ou seja R$ 0,03. A compra deu R$2,43 e fiquei bastante excitada com a possibilidade concreta de me desfazer daquelas moedas. E vocês acham que eu consegui me livrar? Que nada. O dono da padaria, por sinal um rapaz muito simpático, me atendeu no caixa e disse muito nervoso: Não, não, por favor, moedas de um centavo não, eu dispenso, muito obrigado, senhora!! Foi quando eu percebi que não sou a única que nutre profunda antipatia por esse vil metalzinho. De qualquer forma achei um tanto exagerada a reação do rapaz. Mas outro dia fui a outra padaria aqui perto de casa e dessa vez fui eu quem tive uma reação de quase terror. A conta: R$2,39. Um centavo de troco, ai, meu Deus!! Pensei. Quando a moça do caixa abriu aquela gavetinha para tirar o troco eu disse quase apavorada: Não, moça, não, não precisa me dar 1 centavo não, viu!?! E ela falou muito calma: Tudo bem, senhora, mas ainda lhe devo R$2,60. E eu disse com um sorriso amarelo: Ah, tudo bem... E relaxei. Ufa! Por pouco não iria acumular mais uma moedinha.

O pior é que eu não tenho coragem de dar essas moedas nem para meninos de rua, nem mendigos. É muito pouco. Sempre dou moedas de 10, 25, 50... Sempre? Não...

Certa vez estava eu na rua no maior miserê, só tinha na carteira dinheiro pra passagem de ônibus e algumas moedas de 1 centavo (3, 4, 5? Não me lembro). Um menino de rua me pediu trocado e lhe dei as tais moedinhas. Aquele menino pegou as moedas mas quando viu que eram de 1 centavo disse revoltado: Ôxe, moça! 1 centavo é saldo de aratu! Quero não! E jogou-as na sarjeta. Me arrependi amargamente da minha "boa ação". Realmente é humilhante receber de esmola moedas de 1 centavo mas naquele dia era tudo o que eu tinha para oferecer. Suspirei melancólica e fui pra casa....
E agora estou aqui, num outro momento, com 3 moedas de 1 centavo aguardando uma oportunidade para me livrar delas. Por que, a exemplo do menino, eu não as jogo no lixo, hein?PS: Para quem desconhece a fauna dos manguezais, aratu é uma espécie de caranguejo que corre ágil pelos galhos das árvores do mangue e é pequenininho pequenininho. E saldo de aratu é.... Nem precisa explicar, né? Mas bem que o bichinho é simpático, não? Saca só o desenho acima. Ah, Saldo de Aratu também é o nome de uma música da banda pernambucana Mundo Livre S/A (já deu pra notar que eu adoro essa banda, não?).
Imagem colhida do sítio:www.guiaguaruja.com.br/meioambiente/caranguejoaratu.htm

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Praieira

Pousou lábios como vôo macio de gaivota e entornou água sobre a deusa do mar donde se perdem ao jangadas nas madrugadas frias de boa pesca e boas ondas de dar vertigem ao navegante de primeira viagem salgada que cata o som da ostra agarrada à rede que abarca peixe sem dó e a jangada tem o nome da Dona que ficou na praia à espera do retorno daquele que parte todo fim de tarde para o além-mar.
(...)
Vidrilhos no lençol marítimo. Movimento ondulante reluz luar: Brilho de encanto. E já nem sei se admiro o satélite ou sua luz briosa no mar da baía formosa e calma e ampla. Pontos luminosos avisto no porto de Cabedelo, ali tão perto, porque tudo o que minha vista alcança é próximo, meu próximo passo. Daí em diante sigo avançando mais e mais ampliando horizontes. Assim, seguindo, nada está fora do meu alcance. E o Sr. Desejo acompanha meus passos, lumiando meu descompasso, lumiamando minha nudez: via satélite.
(...)
Sonhei com um pirata saqueador de prazeres molhados. E ele hasteou velas e singrou o mar dos meus desejos palpitantes, navegando na tormenta do meu corpo como o mais devassso conquistador de gozos. Fez pilhagem dos meus gemidos e embebeu meu sexo com doses de rum embriagando-se na carne amaciada onde ancorou derramando seu amor bandido... Acordei na ressaca em meio a tesouros e gala dourada.
(...)
Quero me despir da moral diante dos teus olhos revelando heresias e meus pecados mais velados. Oferecer a flor do meu sexo de veludo donde colherás meu néctar em tua boca. Quero rasgar o véu e revelar verdades, que são muitas, nas veredas dessa paixão que se quer magistral com perfume de maresia etc e tal. E se o vento me acaricia, as vagas me desarmam por completo saboreando meu sexo vestido de pérolas que me fazem cócegas quando, no atrito entre minhas coxas, friccionam a carne mais sensível dos meus prazeres essenciais. E o sol, Oh! O sol me envolve em calor, queima a pele e cria febre fazendo-me ardida, demasiadamente ardida!
E após uma temporada de sol e mar e embalo de rede ao luar, eis-me de volta a Recife: Ai, que preguiça.