segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Quase Pagã

Maria Amélia (in memoriam)


minha mãe nunca foi beata
mas rezava antes de dormir
baixinho, como deve ser

nunca fez proselitismo
missa no domingo pede cachimbo
(minha mãe nunca foi besta)

nunca foi santa, minha mãe
dançava, cantava, sorria
fazia sexo e gemia...

minha mãe nunca foi 
isso nem aquilo nem 
essa

onisciente onipresente onipotente

mamãe hoje é deusa
e livrou-me de todo deus
amém!



imagem: minha mãe, ainda solteira, bebendo água na fonte.


domingo, 12 de janeiro de 2014

à luta! moacy vive!


ei, moacy cirne não morreu!
tá suspenso,
continua no poema/processo
com a luta, à luta
há luta

*sandra camurça

 poema processo de Moacy Cirne


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

nacos



carregava uns nacos de nuvem embaixo dos braços como se fossem pães que acabara de comprar na padaria.
passava dias com aqueles nacos imaginando chuvas e trovoadas. pendurava-os pelas portas, janelas, cabides, esperando algum tipo de precipitação mas a precipitação não vinha, a trovoada não vinha, o amor não vinha, nem aquela moça vinha.
então vinha de repente uma calma, uma espécie de iluminação, uma canção bonita vinha e umedecia seus sonhos despertos. seus olhos de chuva desabotoavam e ele sorria com os nacos de nuvem agora ensopados em suas mãos.




terça-feira, 22 de outubro de 2013

Mini-manifesto Animals Bloc!

Toda essa polêmica em torno da utilização de animais como cobaias na indústria de cosméticos me levou a profundas reflexões... Acho que precisamos radicalizar e, além de beagles, coelhinhos, ratinhos e afins, também devemos libertar nossos irmãos bois do matadouro e nossas irmãs galinhas do galinheiro. São todos gente como a gente, bicho! Detalhe, quem vos fala não é uma herbívora! Ah, sem esquecer o nosso irmão jumento tão explorado quanto certos trabalhadores...

Por isso proponho desde já a formação de grupos de discussão para pensarmos em formas de estimular os animais a se libertarem de seus carrascos humanos com táticas Dog Bloc, Rabbit Bloc, Ox Bloc, Chicken Bloc, Donkey Bloc, bloc, bloc, bloc… muitos, muitos Animals Bloc! Uma emergência e uma insurgência! Uma verdadeira Revolução dos Bichos (não, nada a ver com aquela do Orwell). Incluindo aí, obviamente, os Bichos Escrotos tão difamados pelo cidadão dito civilizado. Alguém aí lembrou aquela música dos Titãs? Mas a “oncinha pintada, zebrinha listrada, coelhinho peludo”, não precisam se foder não!

Que tal? 


quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Pornografe-se!

por Vândal@ Viral
in http://vandalaviral.tumblr.com/

“Não se nasce pornográfica, torna-se pornográfica” Sandin@ Sândal@
Pornografia é um assunto cabuloso dentro do movimento feminista. Algumas feministas rejeitam, outras, bem poucas, defendem. De fato numa sociedade dominada pelo patriarcado, a pornografia acaba sendo mais uma forma de opressão sobre as mulheres.  A mulher como objeto sexual a serviço dos prazeres masculinos é a tônica da maior parte da produção pornográfica em vídeo. Sem falar naqueles que incitam a violência. É preciso saber selecionar o que ver porque existem sim vídeos ardentes que excitam homens e também mulheres.
Considero a pornografia, seja em vídeo, fotografia, arte ou literatura, um recurso bastante válido na excitação de prazeres sexuais, contribuindo para libertação das camisas de força da moral e bons costumes. Mas não apenas isso. @ artista, diretor/a, poeta, escritor/a, fotógraf@ tem direito de se expressar através da pornografia. Sua expressão pornográfica muitas vezes é uma forma de soltar seus demônios. Sua expressão provoca catarses em si mesmo e no leitor/expectador .
Há quem separe erotismo de pornografia, sendo o primeiro uma forma mais sutil (eu diria tímida ou pudica) de expressar essa revolução que o sexo provoca em nossos sentidos.  O termo erotismo nos diz que nele não há a vulgarização da imagem da trepada. E também pretende separar arte erótica de pornografia. Eu, pessoalmente, prefiro não fazer essa distinção entre erotismo e pornografia. Mas compreendo a necessidade que alguns têm,  afinal a quase totalidade da produção dita pornográfica é monstruosamente anti-estética (refiro-me a vídeos) e sem criatividade.  A pornografia consumida em motéis, salas de cinemas decadentes e na internet é feita pra consumo rápido, é um fast food sexual, bem no espírito (na verdade falta de espírito) capitalista…Essa pornografia não supera a linha do mal gosto, do malfeito, é nua e crua mas para muit@s funciona muito bem como aperitivo erótico. Por isso não a condeno de todo…E é sempre bom lembrar que pornografia é assunto de/para adultos.
De certo aquel@s que tem gosto estético, que gostam de arte e também apreciam uma boa foda, merecem coisa melhor. Muit@s já não se contentam com esse erotismo higiênico e suave, querem algo mais forte, úmido, sujo, descabelado e visceral! Desejam uma expressão mais próxima da realidade sem, contudo, dispensar a arte, a estética.
Se as feministas moralistas entendessem isso, as mulheres poderiam invadir a pornografia, segmento dominado por produtores do sexo masculino. E assim eliminar o viés sexista presente na produção pornográfica. Muitas mulheres já fazem arte, poesia e vídeos pornôs mas ainda é pouco para fazermos uma revolução nesse segmento.  
Vulva la revolución!
:
Vândal@ Viral

domingo, 7 de julho de 2013

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Fernando Pessoa + Blues Etílicos

LIBERDADE
    Ai que prazer
    não cumprir um dever.
    Ter um livro para ler
    e não o fazer!
    Ler é maçada,
    estudar é nada.
    O sol doira sem literatura.
    O rio corre bem ou mal,
    sem edição original.
    E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
    como tem tempo, não tem pressa...

    Livros são papéis pintados com tinta.
    Estudar é uma coisa em que está indistinta
    A distinção entre nada e coisa nenhuma.

    Quanto melhor é quando há bruma.
    Esperar por D. Sebastião,
    Quer venha ou não!

    Grande é a poesia, a bondade e as danças...
    Mas o melhor do mundo são as crianças,
    Flores, música, o luar, e o sol que peca
    Só quando, em vez de criar, seca.

    E mais do que isso
    É Jesus Cristo Dionísio,
    Que não sabia nada de finanças,
    Nem consta que tivesse biblioteca...

    Nota:  na última estrofe, permiti-me substituir Jesus Cristo por Dionísio porque acho que combina mais, bem mais!!! rsrs...

sábado, 6 de abril de 2013

a buceta (versão visual)




a buceta


a buceta voa
voa e pulsa
sonha o céu
o mar
o rio
convulsa
a buceta sonha passarinho
alcança a nuvem
sonha nuvem
lambuza de vento
e molha
a buceta chove e chupa
upa upa cavalinho!
a buceta pensa que é de vinho
sofre de chuva, a vulva
violeta e uva

quarta-feira, 3 de abril de 2013

terça-feira, 26 de março de 2013

memórias ilustradas

Por acaso, totalmente por acaso, descobri um dos livros mais singelos que já li: Reflexos e Sombras, do ilustrador romeno, naturalizado americano, Saul Steinberg (1914-1999).

Com a colaboração do amigo italiano Aldo Buzzi, Steinberg conta, através de textos e desenhos, suas memórias desde sua infância pobre na Romênia - onde diz que sua vida era "equivalente de ter sido negro no estado do Mississsippi" - até sua carreira como ilustrador nos Estados Unidos.

Após estudar, durante um ano, filosofia e literatura na Universidade de Bucareste, Steinberg foi para Milão onde estudou arquitetura, mas em 1941, devido as leis raciais de Mussolini, Steinberg foi para os Estados Unidos, não antes sem passar por um campo de concentração. Nada que tenha lhe deixado sérios traumas: "Tive sorte". Ficara num casarão improvisado e humano. Dizia que a polícia fascista tocava seu trabalho sem o menor interesse, o que gerava "uma ineficiência que, por sua vez, se traduzia em menos injustiça".

No decorrer do livro, Steinberg fala de família, de seu pai que era encadernador de livros, sua mãe, seus tios e tias, sobre paisagens, lugares, arte, costumes, comidas...tudo de um jeito leve, leve.

Quando faz certa crítica ao american way of life ( Steinberg viveu nos Estado Unidos mais da metade de sua vida - 1943 a 1999), ele comenta  "Nos Estados Unidos não se pede a um transeunte que indique um bom restaurante, como se faz na Itália ou na França. As pessoas não sabem o que é um bom restaurante porque aqui vão ao restaurante para se divertir, não para comer".

Em outro momento diz, sobre o uso de reflexos em suas ilustrações "Eu sempre achei que, para exprimir certas coisas, devia transformá-las em brincadeiras, em jogos de palavras ou em algum tipo de estranheza chamado humor. Vestir a realidade para que ela possa ser perdoada."

E há também momentos poéticos como quando conta que "Na Romênia, em noites de lua, as camponesas olhavam para os fundos dos poços até ver a lua. Então jogavam um balde no poço, lentamente puxavam a água com a lua dentro e bebiam o reflexo com uma colher. Naquele momento, olhando para o fundo do poço,  podiam ver o rosto do futuro esposo."

Há muitos trechos deliciosos de se ler neste livro de memórias de Steinberg. E tudo acompanhado por  lindas e divertidas ilustrações, o que torna a leitura ainda mais leve e saborosa.

Fica a dica!