Na Paraíba, nos anos 60, foi Secretário de Agricultura e trabalhou sempre a favor do pequeno agricultor. Certa vez ganhou de presente um cavalo (provavelmente de um latifundiário). Papai adorava cavalos mas não aceitou o presente, afinal ele sabia que ninguém dá um cavalo de presente em troca de nada.
No Rio de Janeiro foi diretor da Abicar (depois Emater), instituição que oferecia assistência e crédito rural ao pequeno agricultor. Mas no início da década de 70, em plena ditadura, o governo proibiu a concessão de crédito, permitindo apenas a assistência. Mas ora, como dar assistência sem dar os meios ao agricultor? Diante dessa situação meu pai pediu demissão.
Em Recife Seu Maurício criou a UNO (União Nordestina de Assistência a Pequenas Organizações), instituição pioneira no mundo (não, não estou exagerando, é verdade) com o programa de microcrédito. A UNO foi o exemplo que o Prêmio Nobel da Paz de 2006, Muhammed Yunus conheceu para criar o seu programa de microcrédito em Bangladesh.
Vocês nem imaginam como isso me enche de orgulho. Mas o que realmente me faz ter uma grande admiração (e amor, evidentemente) pelo Seu Maurício é uma outra história.
Na década de oitenta, com a anistia e o retorno dos exilados políticos, Maria Áurea, na época diretora geral da UNO, perguntou ao meu pai, superintendente da instituição, se ele receberia um grupo de ex-exilados que estavam desempregados. Seu Maurício disse que receberia sim e que depois de entrevistá-los, os que demonstrassem competência seriam contratados, tornando-se funcionários da UNO. Com isto, a cada dia Maria Áurea trazia um novo nome ao Seu Maurício e ele perguntava: “È mais um daqueles?”. Maria Áurea dizia que sim e Seu Maurício entrevistava o candidato. Meu pai nunca se disse de esquerda, muito menos de direita. Agia de acordo com seus próprios princípios. Fazia aquilo que achava correto e apesar de ser muito racional também pensava com o coração. O fato é que no final Seu Maurício ou Dr. Camurça acabou contratando todos aqueles ex-exilados e podem crer, alguns deles eram completamente incompetentes (risos).
É tudo. Poderia escrever mais, no entanto acho que escrevi o suficiente sobre meu pai para que vocês conheçam um pouco desse homem que era meio moleque, gostava de piadas maliciosas e irônicas, um homem empreendedor, muito inteligente mas modesto, de bom caráter, honesto... Mas o que eu queria dizer mesmo, o que realmente importa é que Seu Maurício sabia amar as pessoas.
PS: Amigos e amigas estou sem computador em casa, agora estou morando com minha mãe, Dona Amélia, que tá precisando de companhia e força até mais que eu e minhas irmãs. Por isso perdoem-me por não estar fazendo visitas aos seus blogues. Um beijo e um abraço carinhoso em cada um/uma de vocês. Té qualquer dia. E grata, muito grata pela força.
13 comentários:
Seu pai foi um grande Homem, Sandra. Não sabíamos nada sobre ele...Beijos. Tudo de bom pra vocês.
Agora sabemos o porquê da filha ser grande.
________________________
Abraço forte!
sandra, sempre escuto milton nascimento. o clube da esquina(1)é conceito de asas. estalo de chão a indicar alguma espécie de forças residente. um eco de vida em latejos,(mesmo que despedaçado) no fundo do olho. é de milton essa frase" cuida bem de ti"
Somos o que observamos das nossas referências primeiras, Sandra. Pelo visto conviveste com o amor, tanto recebendo como admirando teu pai . Certa vez lamentei não ter
conseguido acumular algum dinheiro pra facilitar a vida do meu filho que agora começa a vida de casado e profissional . Alguém me disse: o tesouro está dentro dele , no peito, guardado.
Beijão e sorte. Fico na torcida.
Sandrinha, Sandrinha,
que lindo, querida Dona Moça
fiquei emocionada
e que fofura da foto
beijos e força pra ti, Dona Amélia
e irmãs
quem puxa aos seus não degenera(walter franco)
quem puxa
aos seus
não degenera não
degenera não
não degenera
e a minha mãe
ai ai meu deus
quem dera
quanta ciência
quanta primavera
daí meu pai
disse meu filho
espera
que a violêcia
meu amor
já era
lembrei-me desta música do walter franco ouvindo sua história. aí estão trechos. 1ª e duas últimas estrofes da canção.
caliente abraço,
beijo grande,
orlando.
"nasça o que nasce..."
emocionantes, a biografia de seu pai, bem como teu relato.
permita-se todas emoções e, depois, a superação.
estamos aí.
beijo
Lindo, lindo, lindo, ja tenho um novo heroi, gente que a gente quer ser igual, Sandra. Boa essa da filhota cuidando da mamae, e espero que a mamae cuide da filhota, que merece tb o colo necessario.
Beijos, muito carinho pra ti nesse duro momento. Lindo texto. Lindo. De fazer lagrimas gozarem.
bjx
RF
Realmente muito bom! Ah se 5% do país fosse assim, com essa grande força.
Parabens pela pessoa que teve ao teu lado.
Esperamos sua volta.
Beijo!
Sandrinha, tô com vc e não abro. Nessas horas a gente se sente meio impotente;mas ainda assim conte comigo. Meu e-mail é: jorginhodahora3@gmail.com
fone:9167-1436
Se precisar....
Um abraço,amiga.
Sandra, há uma surpresa pra você no blogue do Poema/Processo. Beijos.
Sandra,
Meus sentimentos!É muito difícil perder uma pessoa assim, tão importante em nossas vidas.E que pessoa linda... A homenagem mais bonita que você poderia prestar ao seu pai é tratar de ser feliz. Pense nisso, coragem e um beijo no coração,
Regina
oi Sandra...
primeiro
Meus sentimentos pela dolorsa perda.
Estava procurando meu nome no google e cheguei até aqui.. por conta do bonequinho do Tom Zé.
sou o Cacinho um dos realizadores do clipe da música A Volta do Trem das Onze, este bonequinho fizemos para o Clipe.
Postar um comentário