sexta-feira, 20 de abril de 2007

Dia do Índio



Foi ontem, eu sei. Bem verdade só me lembrei à noite, na hora do jantar, quando minha sobrinha disse que um casal de índios visitara sua escola.

Fiquei pensando como homenagear nossos índios, bravos e resistentes guerreiros e guerreiras. Não tive idéia de poema mas me lembrei deste, belíssimo, que me emocionou quando li pela primeira vez na minha adolescência. E ainda me emociona, seja pelo significado, seja pelo ritmo e musicalidade indígena, bastante forte.



Canção do Tamoio (Natalícia)

Gonçalves Dias


I

Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.

II

Um dia vivemos!
O homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
Condor ou tapir.

III

O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves conselhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!

IV

Domina, se vive;
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!

V

E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.

VI

Teu grito de guerra
Retumbe aos ouvidos
D'imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d'ouvi-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Pior que o trovão.

VII

E a mão nessas tabas,
Querendo calados
Os filhos criados
Na lei do terror;
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga
Talvez não escute
Sem pranto, sem dor!

VIII

Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do inimigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranqüilo nos gestos,
Impávido, audaz.

IX

E cai como o tronco
Do raio tocado,
Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão.

X

As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.


A foto acima é de índios Bororo
(sem data, sem autoria)
do acervo do Museu do Índio

7 comentários:

Moacy Cirne disse...

Uma boa lembrança, Sandra. Valeu! E grato pela torcida, ontem. Mas acredito que Jens e eu, hoje, preferimos não falar sobre futebol. Um beijo.

o refúgio disse...

Moacy: Tudo bem, não falarei sobre futebol. Então, cara, me dá tua opinião, essa foto antiga de índios Bororo é bonita demais, né não? Beijos.

Anônimo disse...

Pois é Sandrinha:
Lutamos, vencemos, mas não deu (tô falando do jogo, faltaram dois gols). Mas foi um jogão de bola. Pena que só acordaram ontem.
***
Lindíssima a foto. Pababéns pelo gosto apurado e sensível. Casou muito bem com o poema, um clássico da nossa literatura. A primeira estrofe é um primor.
***
Um beijo, um abraço e, se a gente não se falar, bom final de semana. Enjoy.

o refúgio disse...

Jens: futebol é assim, como a vida da gente, cheio de altos e baixos. O problema é quando a bola é chutada alta demais...Hihihi. Tenho certeza que na próxima o Inter se sai melhor.

Que bom que gostaste da foto.

Beijão e bom final de semana.

Moacy Cirne disse...

De fato, Sandra, a foto é bastante bonita. E reveladora. Parabéns pelo "achado". Um beijo.

o refúgio disse...

Moacy: Sim, bonita e rveladora. Beijo procê.

Marconi Leal disse...

Nunca gostei muito dos românticos. Mas sempre gostei muito de alguns poemas de Gonçalves Dias, dona moça. Beijos.